"Síndrome de Estô calmo"
Demóstenes estava vivendo um momento
complicado em sua vida. Órfão de pai militar, acabara de perder a mãe há alguns meses, e o fato de ela interferir ostensivamente na sua vida, lhe deixou meio
perdidão, desorientado, sem rumo. Dona Benedita, (mais conhecida como Dita);
era uma mulher durona, autoritária. Dizia ao menino que trabalhava como
faxineira em um quartel, ainda que todos soubessem que não era bem isso o que
ela fazia. Dita dava um duro danado, "ralava" muito, se é que me
entendem. Mas o que lhe dava alguma estabilidade não eram os clientes
esporádicos, mas sim, um norte-americano conhecido como Sam, ao qual Demóstenes
chamava ingenuamente de tio. Um dia, Sam abandonou Dita, que desgostosa, veio à
óbito.
O
adolescente, então, procurou emprego. Passou a ser maltratado pelo patrão, que
lhe explorava acintosamente. Sobrevivia, é bem verdade, mas a coisa não estava
fácil. Pegava ônibus lotado, pagava caro pela passagem, e quando ficava doente,
precisava encarar filas em hospitais precários. Prestou vestibular em Faculdade
Pública, mas como havia estudado em péssimas escolas no primeiro e segundo
graus, não teve chance alguma. Sentia-se um perdedor, e o que mais lhe
indignava, era a falta de indignação. Foi aí que procurou um psicólogo pelo
SUS.
Após algumas sessões de psicanálise, o doutor lhe apresentou uma teoria
Freudiana, para variar: a falta de capacidade de indignação é oriunda da
educação recebida pela mãe, autoritária, torturadora, agressiva. Demóstenes
possuía "Síndrome de Estô calmo", e precisava se impor mediante as
dificuldades.
Recebido o diagnóstico, começou uma vida errante, mergulhado na própria imaturidade. Fez escolhas erradas, andou com más companhias, bebeu, drogou-se, não parando em emprego algum. Não acostumado à liberdade, viu sua vida em frangalhos, e tendo insucesso quando se manifestava, ficou ainda mais frustrado. Foi quando teve uma "ideia brilhante": Precisava ir a um centro espírita, consultar um médium e pedir dicas à mãe autoritária, a dona Dita. Aquela liberdade estava lhe fazendo mal, e ele necessitava das rédeas opressoras que conduziram anteriormente sua vida. Na mesa empoeirada da sala sombria, o médium lhe entregou uma carta, com a caligrafia materna...
Recebido o diagnóstico, começou uma vida errante, mergulhado na própria imaturidade. Fez escolhas erradas, andou com más companhias, bebeu, drogou-se, não parando em emprego algum. Não acostumado à liberdade, viu sua vida em frangalhos, e tendo insucesso quando se manifestava, ficou ainda mais frustrado. Foi quando teve uma "ideia brilhante": Precisava ir a um centro espírita, consultar um médium e pedir dicas à mãe autoritária, a dona Dita. Aquela liberdade estava lhe fazendo mal, e ele necessitava das rédeas opressoras que conduziram anteriormente sua vida. Na mesa empoeirada da sala sombria, o médium lhe entregou uma carta, com a caligrafia materna...
"Filho,
eu não quero mais intervir na sua vida. Evoluí espiritualmente, e percebi que
os métodos que usei na tua criação eram equivocados. Amadureça, faça as
melhores escolhas e progrida! Caminhe com as próprias pernas, mas olhando para
frente, não para trás"
Com lágrimas nos olhos, Demóstenes entendeu a mensagem. Percebeu que
pedir a intervenção de Dona Dita era algo inviável. Resolveu deixar o espírito
da velha em paz, procurando melhorar sua vida através da realidade presente e
das perspectivas futuras. O passado já não lhe pertencia mais...
* O Eldoradense
Nenhum comentário:
Postar um comentário