E começam os movimentos entre os políticos da direita para preencher a lacuna que certamente será deixada por Jair Bolsonaro, seja por simples inelegibilidade ou por pena privativa de liberdade. Acho difícil, ou melhor, praticamente impossível qualquer tarifaço ou Magnitsky reverter tal tendência.
O problema é que estes movimentos irritam o clã Bolsonaro, que vê no ex-presidente a única candidatura viável na direita capaz de vencer Lula. Ou, na pior das hipóteses, reconhecer a viabilidade eleitoral de outros nomes da direita signifique a ratificação prévia da inelegibilidade de Jair, ou até mesmo, de sua prisão. Seria como jogar a toalha verde-amarela no chão.
Carlos Bolsonaro classificou tais movimentos parecidos com o de "ratos" oportunistas em uma publicação compartilhada pelo irmão, Eduardo. Eles querem Jair concorrendo em 2026 e ponto, simples assim. Para tal objetivo, insistem na tese de uma defesa mais contundente em favor do pai por parte de políticos que se beneficiaram na onda Bolsonarista.
O repúdio do clã ao comportamento é parcialmente compreensível e, em primeiro momento, talvez possa soar como infidelidade ou ingratidão. Porém, na atual conjuntura, manter uma fidelidade canina, incondicional ao mito, já soa como teimosia vã, haja vista que, em 2026, Jair Bolsonaro não terá seu rosto estampando nas urnas eletrônicas que ele tanto refuta. Falta um ano para as eleições, a popularidade do atual governo federal não decola, e a partir daí, cria-se um cenário favorável para que outros políticos oposicionistas ambicionem o Planalto.
O primeiro deles, Zema, já lançou oficialmente sua pré candidatura presidencial. O governador de Minas está em seu segundo mandato e não tem motivo algum para resignar-se. Tarcísio (SP), nesta segunda-feira, teve um almoço com banqueiros, e segundo fontes jornalísticas, foi tratado com candidato, ainda que o mesmo alegue que sua prioridade seja uma reeleição praticamente certa no estado bandeirante. No mesmo ensaio de passos presidenciáveis seguem Caiado (GO), Ratinho Jr (PR) e Eduardo Leite (RS).
Mesmo que tais movimentações sugiram uma divisão no espectro destro da política brasileira, penso que no frigir dos ovos o cenário irá convergir para uma candidatura de coalizão, inclusive com o apoio do clã Bolsonaro, ávido por uma futura anistia em caso de condenação paterna e vitória presidencial aliada. Zema e Tarcísio já disseram que assim procederiam com a faixa presidencial no peito.
Não creio que começar as movimentações levando em consideração a inelegibilidade de Bolsonaro soe indigno, nesta altura do campeonato. A realidade começa a se desenhar, e movimentar-se já é uma necessidade, uma adequação. Há os que estão mais reticentes, não por fidelidade à Bolsonaro, mas certamente para não "queimarem a largada" e começarem a ser atacados precocemente. São estratégias, mas todas elas cientes de que precisam dos eleitores do ex-presidente. Muitos não o abandonam, de fato, mas também não o abraçam efetivamente. É a corda bamba, o meio termo, o jogo de cintura que a política exige.
No fim das contas, para os presidenciáveis de direita, será conveniente prometer futura anistia para o mito, inclusive para manter o capital eleitoral do Bolsonarismo. E para o clã Bolsonaro, diante do provável cenário que se avizinha, será necessário, ainda que a contragosto, apoiar um destes nomes.
Portanto, mover-se, apresentar-se, não torna tais presidenciáveis "ratos", mas sim, pragmáticos, objetivos, racionais. Além do mais, quem acabou fugindo para a terra do Mickey Mouse, não foram os governadores presidenciáveis, se é que me entendem...
* O Eldoradense
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