23 de out. de 2010

Pelé, o sententão

Heresia

  Dizem que futebol, política e religião não se discutem. Acho que essa frase é um discurso dos que não gostam do debate, ou simplesmente não tem argumentos para fazê-lo. Pois bem, se os três temas já são polêmicos discutidos individualmente, imagine o quão polêmico é o debate religioso inserido no contexto político como fizeram nossos célebres candidatos? Os argentinos, por sua vez, conseguiram fazer um sincretismo ainda mais problemático:- futebol e religião. Criaram, em terras portenhas, a "Igreja Maradoniana". E de fato, para quem é louco por futebol, o esporte é mesmo uma espécie de religião:- envolve devoção, fé, idolatria e paixão.
  Pois bem. Eu não me lembro do meu "batizado" futebolístico, só sei que muito das minhas convicções de torcedor-devoto, devem-se a histórias contadas pelo meu pai, referindo-se exatamente ao Santos da década de 60 e à esse tal Pelé. Falava pra mim dos seus feitos, títulos, curiosidades e lendas. As histórias eram muitas:- que já parou uma guerra na África; que um juiz que o expulsou de campo teve que voltar atrás da decisão a pedido de torcedores; que ele sabia jogar também no gol; que perdia propositalmente os jogos no início, pelo simples prazer da virada. Enfim, muitas crianças cresceram ouvindo "Os três porquinhos", "Branca de Neve", ou "João e Maria". Eu cresci ouvindo os feitos de Pelé, no Santos. Como consequência, me tornei um Santista fervoroso, destes que encaram a rodada do fim de semana como missa dominical.
  Pelé, é portanto uma figura mística do futebol. Sua saga inclui títulos e mais títulos, recordes inimagináveis de superação, além do fato de ser um jogador completo:- chutava com as duas pernas, cabeceava, driblava. Na minha opinião, o título "rei" do futebol é uma forma de subestimação. O título adequado é mais atrelado à divindade do que à monarquia:- Pelé, é sem dúvidas, o "Deus" do futebol.
   Um dia, um amigo torcedor de outro clube, questionou-me a supremacia técnica de Pelé. Dissera ele que tudo não passava de repetição da mídia, e que se jogasse hoje, o atleta não faria tanto sucesso. Seu discurso foi muito parecido com o dos argentinos, carregado de inveja, creio eu. Justo a inveja, um dos sete pecados capitais. Expliquei à ele que Pelé não é patrimônio apenas santista, mas também brasileiro. Não adiantou. Continuou com seu discurso invejoso e herege. Como torcedor-devoto que sou, orei por ele, usando uma frase religiosa conhecida:-  "Perdoai, Senhor...ele não sabe o que fala!"


                                                      * O Eldoradense

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