Insuportável genialidade
Semana passada, escrevi um texto dizendo o que penso com relação à Pelé, sem dúvidas o maior jogador de futebol de todos os tempos. O Rei, há uma semana atrás, comemorou seus setenta anos. Acima do texto, uma charge caçoando Don Diego Maradona. Logicamente, a charge alimenta o folclore da rivalidade entre brasileiros e argentinos, mas é só isso. Não dá para negar que Maradona é um grande ícone da história do futebol mundial, e se eu estabeleci o adjetivo "Deus" do futebol para Pelé, Maradona, por sua vez, é o "gênio" desse esporte.
Nascido no subúrbio pobre e violento de Buenos Aires, mais precisamente em um local chamado "Forte Apache", Maradona fez do futebol sua paixão e também instrumento de mobilidade social. Começou sua carreira no modesto Argentino Juniors, sendo que sua passagem mais marcante no futebol Argentino, foi no Boca Juniors, clube pelo qual nutre um fanatismo ímpar. Na Europa, jogou na Espanha e na Itália. Barcelona e Sevilla foram os seus clubes em solo espanhol. Porém, foi na Itália que Maradona viveu o céu e o inferno de sua conturbada carreira:- foi capaz de levar a desconhecida equipe do Nápoli ao topo do futebol da velha bota. Juntamente com Careca e Alemão, o esquadrão celeste desbancava tradicionais equipes do calcio, como é conhecido popularmente o Campeonato Italiano. A equipe Napolitana, sob a regência de Maradona, conquistaria 2 campeonatos nacionais, 1 Copa da Itália, 1 Supercopa da Itália, além do título mais importante do clube:- A Copa da Uefa, na temporada 1988/89. Este é o capítulo bonito da história do craque em Nápoles. Vamos ao capítulo tenebroso:- Diziam que o Nápoli era um clube mantido pela Camorra, uma quadrilha conhecida na Itália por agir no sul daquele país. O futebol, era uma das ramificações do grupo, que via no esporte uma forma de "lavagem" do dinheiro com negócios ilícitos. E o tráfico de drogas era um desses negócios obscuros. Maradona viu-se, naquela ocasião, endinheirado e assediado pelos figurões da Camorra, sendo presença marcante em festas regadas à bebida, mulheres e cocaína. E foi o terceiro item das festas o algoz da brilhante carreira do atleta, infelizmente.
Na seleção Argintina, Maradona também viveu momentos de idolatria e decadência. Foi capaz de levar uma seleção mediana ao título em 1986, no México. Os pontos altos dessa conquista, foram os gols contra a seleção da Inglaterra, sendo um assinalado marotamente com a mão, e outro numa arrancada fulminante pelo meio-campo, deixando vários marcadores para trás e finalizando com frieza e raiva ao mesmo tempo. Raiva porque a Argentina tinha vivido um confronto bélico contra a mesma Inglaterra, sendo as Ilhas Malvinas o motivo do embate. Mas naquele dia, Maradona estava insuportavelmente genial:- vingou na bola a derrota sofrida para os britânicos na guerra. Em 1990, na Copa do Mundo da Itália, dizia estar com a unha de um dos dedos encravada; e suas condições de jogo contra o Brasil, estariam limitadas para o jogo de oitavas-de-final. Pobre daquele que acreditou na história e duvidou da superação do Argentino:- Maradona deu uma arrancada incrível no meio de campo, deixando Dunga e Alemão para trás; passou a bola precisamente para Cláudio Caniggia, e o Brasil estava fora do mundial. A Argentina foi vice-campeã naquele ano, perdendo para a Alemanha. Em 1994, mais pesado, estava disposto a levar seu país ao triunfo, na Copa do Mundo dos Estados Unidos. Porém, um exame anti-doping o tirou do mundial. Acredita-se pelo histórico do seu vício que o resultado do exame fosse verdadeiro. Porém, muitos também acham que o fato pudesse ter sido uma retaliação da Fifa ao craque, que criticara os horários das partidas sob o sol escaldante do verão norte-americano. Maradona jurou pela vida da filha que não tinha praticado tal insanidade.
Maradona foi gênio genioso, polêmico e com um coração gigante como seu futebol. Diziam Careca e Alemão que era um companheiro incrível. Nós brasileiros, zombamos do craque por uma questão de rivalidade sul-americana. Mas não dá para negar que o Argentino foi um exímio jogador dentro das quatro linhas. Tinha dribles desconcertantes, arrancadas maravilhosas e finalização certeira. Era patriota, e unia a garra à técnica. Tinha jeito de arrogante, que creio eu, era uma auto-defesa sua para intimidar adversário. E o pior que conseguia intimidar. Para aqueles que não conhecem ou pouco viram sobre o talentoso Maradona, vejam o vídeo do seu gol contra a Inglaterra, em 1986, na Copa do México. Na minha opinião, o gol mas bonito da história das Copas do Mundo. Maradona:- Maravilhoso jogador que Deus criou, para atenuar o marasmo que o futebol viveria, após a despedida de Pelé.
* O Eldoradense
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