As decisões tomadas na era digital
Manhã de sábado. É início de mês e o tanque do carro já estava quase vazio. Aproveitei o fato de ter acordado cedo e fui abastecer o veículo, no posto de gasolina do qual sou cliente. No caminho, vinha pensando comigo mesmo:- “Quanto colocarei de combustível?” Chegando na pista de abastecimento, pedi ao frentista que colocasse “cem reais” de gasosa. Depois de muito analisar no caminho, cheguei a conclusão que o valor era suficiente para “rodar esse mês”, haja vista que não tenho nenhuma viagem programada. Conversei com o frentista, falamos sobre o tempo, pedi para calibrar os pneus. Hora de ir ao caixa, pagar pelo combustível, obviamente. Mas pobre que é pobre, nos primeiros dias do mês, não tem dinheiro, e o jeito é pagar com o cartão de crédito. E foi nessa hora, que fiz uma reflexão maluca, comparando o gesto de hoje, diante da máquina de cartão de crédito com o gesto de amanhã, diante da urna eletrônica.
Estamos na chamada “era digital”. Muitas decisões, são tomadas ao clique dos botões. Compras são feitas, e-mails são enviados, dinheiro é transferido de uma conta para outra, enfim, as teclas hoje, materializam as decisões tomadas pelo cidadão. E estava eu ali, diante da tal “maquininha do cartão”, oficializando o quanto pagaria pelo combustível, no mês seguinte. Apertei o botãozinho “enter”, e pronto, estava confirmado:- em novembro, já existem mais cem reais a serem pagos na próxima fatura. Mas aí veio em mente...e amanhã? Amanhã, outra máquina materializará as decisões de muitos cidadãos brasileiros, ou melhor, de TODOS os cidadãos brasileiros. Diante da urna eletrônica, tomaremos a decisão de escolher a maioria dos cargos eletivos políticos de nosso país. É uma decisão séria, um ritual que temos que cumprir, e que talvez não damos o devido respeito e atenção que merece.
Ao digitar os números para os cargos políticos em disputa, estaremos escolhendo o futuro de toda uma nação. Iremos decidir se queremos mais escolas, estradas, casas e hospitais, por exemplo. Ou dependendo do que fizermos diante da tal máquina, iremos decidir se queremos incompetência, bandalheira e falcatruas. Aí, o cidadão pensa:- “Puxa, num domingo que poderia estar aproveitando a companhia da família, ou descansando, estarei aqui, enfrentando uma fila enorme e votando nesse bando de safados, que são todos iguais” Não, não são. Existem pessoas comprometidas com o propósito de trabalhar, é só o indivíduo procurar se informar e fazer a melhor escolha possível. Mas nós, brasileiros, via de regra, somos preguiçosos, e esperamos para tomar a decisão aos quarenta e cinco do segundo tempo. Temos que pensar, também, que há décadas atrás, não tínhamos o privilégio de tomar tal decisão, e que muitas pessoas foram torturadas, exiladas e até MORTAS, porque lutaram para que tivéssemos esse direito, transformado em dever. Portanto, não é justo tratar esse ritual com desprezo e desatenção.
O voto merece análise, e consequentemente, melhor qualidade. Diante da maquininha do cartão de crédito, pagarei a quantia modesta de cem reais, dívida que será paga na próxima fatura, mês que vem. Porém, amanhã, diante da urna eletrônica, se eu ou você, leitor, cometermos algum equívoco, o preço poderá ser bem alto, e essa conta será paga dia a dia, nos próximos QUATRO ANOS! É um prazo bem maior, concorda comigo? Portanto, por mais cansativo e desmotivante que seja, caprichemos diante da urna eletrônica.
- “Moço, sua notinha”, alertou-me a funcionária do caixa, observando minha distração. Dei um sorriso amarelo, como quem pedisse desculpas pela falta de atenção, pois havia mais pessoas na fila. E eu, involuntariamente, estava atrasando o seu serviço. Mas foi por uma boa causa. Mal sabe ela, que naqueles 30 segundos de distração, eu estava fazendo uma análise comigo mesmo, procurando fazer minha parte para escolher bem o futuro do nosso país. Bom voto a todos que fizeram essa leitura.
* O Eldoradense
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