No canto esquerdo no fundo da sala de aula de
uma escola de Ensino Médio, sentava-se Arthur. Um menino bem aparentado, que, a
princípio, parecia ser como os outros, só que não. Arthur fora diagnosticado
com Síndrome de Asperger, um grau discreto de autismo, onde o paciente pode
dominar profundamente um assunto específico, mas ter alguma deficiência na
compreensão de outros, além da dificuldade de se relacionar com outras pessoas.
Sendo
assim, Arthur era um gênio em Língua Portuguesa, dominando todos os mistérios da
ortografia, concordância, etimologia das palavras, e um redator de mão cheia.
Poderiam pedir para que ele discorresse sobre qualquer tema, desde a rebimboca
da parafuseta até a complexidade dos buracos negros: Ele dava conta!
Mas
em outras disciplinas era bem mediano, para não dizer, medíocre. Veio evoluindo
ano a ano aos trancos e barrancos, sempre necessitando das aulas de reforço e
enfrentando provas de recuperação. O olhar disperso, fixado no nada, bem como a
falta de tato nas relações interpessoais o diferenciava do grupo. Os outros
alunos sabiam de sua particularidade, e o respeitavam.
Mas
Melissa não sabia disso. Havia chegado há três dias na escola e se apaixonou
perdidamente pelo rapaz, que sob o olhar dela, era apenas tímido. Após olhares
indiscretos direcionados a Arthur, que não esboçava reação alguma, resolveu
escrever uma carta apaixonada, destas que levantariam o ego de qualquer rapaz
nas alturas.
Arthur recebeu a singela correspondência, mas não esboçou reação.
Melissa estava ansiosa pela resposta, e no terceiro dia sem obter um sinal
reativo sequer, foi conversar com ele na hora do intervalo...
-
Oi, bom dia! Você leu a carta que escrevi pra você?
-
Li sim...
-
Mas o que você me diz dela?
-
Gostei. Não tem nenhum erro de concordância ou ortografia, a linha de
raciocínio é coesa, bem estruturada, um texto perfeito!
Melissa engoliu seco. Corou o rosto, não sabia o que falar, e emendou:
-
Mas é só isso que você tem a me dizer?
-
Não!
A
moça reacendeu as esperanças, quando ouviu a emenda, que ficou pior que o
soneto...
-
Você vai mandar muito bem na redação do ENEM! E se me permite dizer, deveria
tentar prestar para letras ou jornalismo!
Melissa levantou-se, e saiu, muda de frustração. Arthur ficou sem
entender a reação da moça, mas também, não se importou muito. Era,
literalmente, um autista que dominava a Língua Portuguesa e a literatura. Um
literautista!
* O Eldoradense
Vc está sê saindo bem contínua ASSIM
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