10 de ago. de 2019

Comentário: Batalha literária - Zafón x Hosseini!






    Amigo leitor, hoje resolvi fazer uma resenha comparativa entre os dois autores que mais li este ano: O carequinha da esquerda é o espanhol Carlos Ruiz Zafón, enquanto, obviamente, o sujeito da direita, é o afegão naturalizado norte-americano Khaled Hosseini. Dois baita escritores, que venderam livros pra caramba, tamanha a abrangência das suas obras. Comecemos então,  um "boxe literário" entre ambos.

      A maior obra literária de Zafón, é, sem de dúvidas, "A sombra do vento". Mediante o sucesso do livro, o espanhol emendou outros três baseados na história, criando um emaranhado magnífico de personagens tão excêntricos quanto envolventes, sendo que suas narrativas ocorreram em uma Barcelona gótica, misteriosa e charmosa. Zafón descreve cenários com uma riqueza de detalhes descomunal, fazendo o leitor passear pelas ramblas da capital catalã, como se, de fato, estivesse por lá, "literalmente". 

         Por outro lado, Hosseini não deixa por menos, e ambos praticamente empatam no quesito "descrição". O afegão é tão bom na prática descritiva que sim, o leitor parece peregrinar pelas ruas de Cabul em seu trânsito caótico, ouvindo o som incessante das buzinas bem como o apelo dos gritos dos comerciantes, suplicando por clientela. É como se quem o lê sentisse a poeira do deserto nos olhos, a ardência do sol da tarde e o frio implacável da madrugada. 


        Curiosamente, ambos os autores deixaram seus países de origem e foram morar nos Estados Unidos, e mais coincidentemente ainda, no Estado da Califórnia. Zafón em Los Angeles, enquanto Hosseini, em San José. Entre os dois autores, também há em comum o fato de enaltecerem contextos políticos e históricos em seus respectivos países: Zafón tem suas narrativas alicerçadas na Guerra civil espanhola e no período ditatorial Franquista, enquanto Hosseini descreve as guerras étnicas do Afeganistão, bem como o domínio soviético e o regime talibã. As guerras, portanto, são presentes nas obras dos dois autores.


          Fora a qualidade acima da média, a habilidade em descrever cenários e o fato de ambos se tornarem californianos, é claro que os dois também tem suas particularidades. Considero Zafón um pouco mais eclético, sendo que suas narrativas possuem nuances de tristeza, mistério, humor, ironia e sensualidade. Sim, o espanhol sempre fez questão de enaltecer a beleza e os mistérios das personagens femininas nas suas obras, deixando clara sua origem latina. E nas veias de um bom latino ibérico não corre sangue: Eu diria que corre vinho tinto!

         Hosseini é dramático, melancólico, linear. É, de fato, um mestre na arte de emocionar. O afegão não possui as variadas vertentes do espanhol, é mais maduro, objetivo, focado. Lida magistralmente com questões delicadas do seu povo, como a pobreza, o machismo e a violência. Não menos importantes, destaca também a imigração dos afegãos, fenômeno que fez com que esse povo se tornasse refugiado em algumas partes do mundo.


       Enfim, baseando-me em minhas perspectivas e gostos, considero as histórias de Hosseini muito mais densas, enquanto Zafón é mais descontraído, mais leve. Na minha opinião, vejo o espanhol com uma pequeníssima vantagem sobre o afegão, pois há uma alternância maior de emoções em suas obras. Porém, é indiscutível que ambos são excelentes escritores. Se fosse um "boxe literário", eu diria que não houve nocaute: Zafón venceu por uma ligeira diferença de pontos...



* O Eldoradense

            

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentário: "A importância do equilíbrio fiscal"

       Contas públicas: Este é, sem dúvidas, o calcanhar de Aquiles do atual governo. Operando de forma deficitária e não demonstrando uma i...