31 de dez. de 2010

Mega-Sena da virada:- O Cassino Público e seu maior evento!


"Jogos de Azar:- A triste saga de Josivaldo"

  Dez horas da manhã, na véspera de ano novo. José Josivaldo passeia no bairro próximo à favela, ainda pensando no sonho que tivera na noite passada. Antes de dormir, havia assistido o último noticiário noturno, como faz sempre de costume. A TV de quatorze polegadas, em cima da caixa de frutas, ainda chamava sua atenção, enquanto brigava contra o sono, no sofá. Mas a manchete que falava sobre a "Mega Sena da Virada", o despertou. Milhões de reais, que poderiam resolver definitivamente sua vida.  Depois de contemplado, poderia dar boa escola aos quatro filhos, viajar para Miami com a esposa, e ainda comprar um bom apartamento no prédio em que trabalhava, na Zona Sul de São Paulo, o Tropical Garden Center. Acabou o jornal, e Josivaldo foi dormir .
  Voltamos então, às ruas estreitas da Zona Leste, onde Josivaldo caminhava no seu dia de folga e ainda pensava no seu sonho. Tinha na carteira, somente os trocados suficientes para tomar a condução para o trabalho, nos próximos dois dias,  até receber o ordenado do mês seguinte. "Mas o sonho foi tão real", pensou Josivaldo. " Um papai Noel de branco, sorteando uma a uma as dezenas, e eu conferindo, acertando totalmente a cartela".
  Tomado por uma certeza absurda e até mesmo insana, Josivaldo não pensou duas vezes:- entrou na lotérica e jogou o pouco dinheiro que tinha nas cartelas da mega-sena. Chegou ao seu humilde barraco, sentou-se à mesa com a esposa e com os quatro filhos. O maior, tinha seis anos, o menorzinho, dois. Almoçaram a pouca comida que tinham. A tarde se passou, rapidamente; (talvez movida pelo sonho que seria realizado à noitinha). Ficou sabendo que o dono do bar que fazia jogo do bicho, havia sido preso pela polícia. "Fazer o quê, quem mexe com jogos de azar, está sujeito à isso. Bom mesmo é jogar na mega sena, que resolve a vida do peão". Josivaldo estava obcecado.
  Chega a noite. Josivaldo em frente à TV de quatorze polegadas, com papel e lápis na mão. O sorteio era transmitido ao vivo. Ele já tinha uma garrafa de Sidra, para comemorar o prêmio que iria receber, pois a certeza era absoluta. Primeira dezena. Nada. "Ainda dá para fazer a quina, que paga uma boa grana". Segunda dezena. Errou novamente. "Preciso fazer a quadra, para pelo menos, conseguir o dinheiro da condução para trabalhar". Nova decepção. As dezenas foram sendo sorteadas, e Josivaldo errou todas. Dirigiu-se bravo ao boteco, onde poderia pendurar na sua conta as cachaças que iria tomar, para afogar as mágoas. Tomou todas. Bebeu tanto que foi levado ao seu barraco pelos amigos, e já eram quatro da madruga. Josivaldo precisava estar na portaria do edifício às seis, para iniciar o seu turno, no dia primeiro do ano. Não deu. Dormiu e acordou com ressaca, ao toque do celular, às oito horas da manhã. Era o síndico do prédio, bravo pra caramba. "- Josivaldo, seu irresponsável,  o porteiro do turno da noite está aqui até agora, lhe esperando! Considere-se demitido!" Josivaldo, com a cabeça inchada, respondeu:- "Vai acordar sua mãe, síndico idiota!". Voltou para a cama, e dormiu, começando o ano novo, desempregado.  Nesse sono de ressaca, viu um homem barbudo, dessa vez de vermelho, com sotaque nordestino e alegando ser o dono do único cassino legalizado do Brasil, e dizendo:- "Josivaldo, nunca na história desse país, alguém confiou tanto que ganharia na mega-sena e tomou tão feio na tarraqueta".
   Que todos os que leram esse texto, busquem realizar seus sonhos, no ano que se aproxima. Mas busquem concretizá-los com responsabilidade, sabedoria e equilíbrio. Se perceber que ainda não é hora de transformá-lo em realidade, adie. O sucesso é a união da competência com a sorte. Realizar um sonho de forma irresponsável e precipitada, pode revertê-lo em pesadelo.

                                             * O Eldoradense


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