24 de nov. de 2010

E o Rio de Janeiro, continua lindo?

"Caosriocas"

  Ontem, assisti mais um conto do programa "As Cariocas" da Rede Globo de Televisão. São contos maliciosos, bem humorados, baseados na obra literária do escritor Sérgio Porto. Os episódios, enfatizam a beleza de mulher carioca, além de outro cenário não menos belo:- A cidade do Rio de Janeiro. A cada episódio, são mostrados cartões postais da cidade, bairros tradicionais e até o subúrbio. Quem assiste "As Cariocas", e não assiste os jornais, guarda em mente a ilusória sensação de que o Rio de Janeiro é um paraíso, tomado de belas mulheres, com paisagens paradisíacas e bairros tranquilos. Talvez fosse, na época em que Sérgio Porto escreveu sua obra. Hoje, a realidade carioca é bem distante da "Cidade Maravilhosa", que vive uma guerra constante contra o narcotráfico, milícias e guerra urbana.
  A topografia do Rio de Janeiro, juntamente com fenômenos socias ligados à exclusão, fez com que as populações menos favorecidas buscassem se alojar nos morros, que possuem vista bonita, são próximos do mar e das áreas centrais. Ao longo das décadas, o Poder Público foi sendo complacente com esse fenômeno; e o crime foi tomando conta dessas áreas, carentes de políticas sociais e dando força ao poder paralelo, já que o Estado encontra-se ausente em suas obrigações. E aí surge, como consequência, a realidade do narcotráfico instalado nos morros, sendo que os seus líderes se tornaram "prefeitos" dessas áreas, com leis informais,  normas de comportamento e conduta estabelecidas pelas quadrilhas. A polícia mal preparada e corrupta, são mais alguns ingredientes para que a receita da guerra urbana vivida no Rio de Janeiro estivesse completa. E como toda negligência acumulada cobra o seu preço, ontem, e hoje, as principais notícias estampadas nos veículos de imprensa expõem uma triste realidade:- os traficantes e o crime organizado estão procurando mostrar o seu poder, incendiando carros, realizando ataques contra bases policiais e trocando tiros, fazendo daquele cenário maravilhoso, um campo de batalha.
  E aí vem a pergunta:- Será que estamos mesmo preparados para sediar eventos esportivos de grande porte, como a Copa do Mundo, e as Olimpíadas, sendo que ambos, terão como sede principal, o próprio Rio de Janeiro? A fragilidade de nossa estrutura mostra realmente, que não. Falta rede hoteleira, sistema de transporte coletivo, e no caso de nossas grandes cidades, falta SEGURANÇA. Os traficantes mostraram que podem medir forças SIM com o ESTADO, basta serem incomodados. A presença de bases da polícia nos morros cariocas,  é um bom começo para tentar solucionar ou minimizar esse tipo de problema, mas ainda está longe do ideal. Segurança se resolve com inteligência, tecnologia, policiamento ostensivo, é bem verdade. Porém, de nada adianta todos esses itens, se a maior causa da criminalidade não for combatida de forma preventiva:- investimento em educação é o princípio de tudo. E investimento em educação só surte efeito, a longo prazo. Portanto, não há tempo hábil para que aquele cenário esteje com o problema do crime organizado solucionado até 2014 e 2016. Geralmente, a solução adotada pelos governantes, para que tudo seja realizado na "mais perfeita ordem", é a velha estratégia do acordo velado:- colocam-se policiais nos principais pontos, não se incomodam os traficantes nos seus quartéis generais, e todos vivem felizes para sempre. Assim, Copa e Olimpíadas acontecem tranquilamente, para que o mundo nos veja como melhores do que realmente somos. Depois? Ah, depois...voltam as balas perdidas, os veículos queimados e os arrastões. Mas o que importa, em primeiro momento, é sairmos "bem na foto" ao sediar os grandes eventos esportivos dessa década. O resto, "empurra-se com a barriga".
   Se na música de abertura do programa "As cariocas" diz no seu refrão principal:- "Ela é carioca, mas é da cor do Brasil", assim também é o problema da violência. Nesse exato momento, ontem e hoje, mais necessariamente, ele é carioca. Mas é da cor do Brasil, infelizmente.
                                                             
                                                  * O Eldoradense

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