- Mas olha quem está aqui! Que surpresa, guri! Você está cada vez maior, menino!
- Saudades de você e do café feito no fogão à lenha, Seu Amâncio...
- Sente-se aqui. Já está quase no ponto. Mas pra que este caderno e a caneta, Maurício?
- Tem como o senhor me contar, só mais uma vez, aquela história da velha casa de pau a pique onde moravam os empregados da fazenda?
- Não gosto muito de falar nisso. Todo mundo ficava mangando da minha cara quando eu contava...
- Eu não! O senhor sabe que eu acredito...
- É, você não. Tá, puxa a cadeira e vai anotando...
Conta a minha finada mãe que a mais ou menos um cem passos desta casa, na direção do pé de goiabas, existia uma outra residência de pau a pique, muito bem feita, por sinal. Era um barro compactado, cujas paredes tinham bambu, fibras e pedregulhos. O teto era feito de palha seca. Chovesse o que fosse, não entrava água. Na casa moravam o capataz, a esposa e cinco miúdos. Acho que tinham vindo do norte, se eu não me engano.
Depois de um tempo, o capataz passou a reclamar que a casa era assombrada. O dono da fazenda achou que era conversa fiada pra que fosse feita outra casa melhor, não dando muita confiança para o infeliz. Depois de muita insistência, o fazendeiro aceitou jantar na casinha do capataz e levar umas horas de prosa, inclusive para ver o que se sucedia.
Quanto estava todo mundo de bucho cheio e os miúdos foram dormir, a mulher do capataz foi lavar a louça. Patrão e empregado começaram a prosear, e depois de uma hora, um pedregulho alçou voo saindo da parede. Coisa de poucos centímetros, e ... "Ploft!". Os dois homens entrecruzaram olhares assustados. Cinco minutos depois, mais um pedregulho flutuante, e outros dez caíram ao chão em pouco tempo. O fazendeiro fez o sinal da cruz, não sabendo o que dizer ao capataz, que por sua vez, suava frio. A mulher, faladeira que só, dizia que isso era coisa do saci, ou então de alguma alma atormentada pedindo salvação... (Continua amanhã)
* O Eldoradense
Aguardarei ansiosa. Boa noite!
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