As notícias do início do ano não eram das melhores para Ribamar. Garçom em um restaurante de médio porte situado na periferia de uma cidade do interior de São Paulo, o migrante nordestino estava vendo seu emprego ruir por conta da pandemia do Coronavírus. Alguns dos seus colegas conseguiram adaptar-se à nova realidade, realizando os deliverys com suas motocicletas para o próprio lugar onde trabalhavam. Porém, os planos do jovem alagoano era conseguir a habilitação ainda no fim do ano. Havia cinco dias que estava demitido temporariamente, com a promessa de regresso quando tudo "voltasse aos eixos". Sim, esta foi a expressão usada pelo patrão com semblante contrariado, mas sem muitas alternativas para outras soluções.
Em casa, no fim de mais um dia de dúvidas, aflição e desesperança, sentou-se ao lado da escrivaninha que ficava encostada à janela. Soprava um vento diferente, daqueles que serviam para dar boas vindas ao inverno. Sobre o móvel, encontravam-se boletos de água, luz, cartão de crédito. Olhou para o céu e clamou em pensamento por um sinal divino, algo que viesse de cima para baixo, em forma de acalento. Pensativo, questionou a existência de Deus e concluiu o quanto era insignificante: sentiu-se do tamanho de um vírus diante da imensidão do universo. Olhou o céu por mais cinco minutos, aguardando o sinal. Nada. A esposa, cansada dos serviços domésticos, cochilava no sofá.
E aí, rompendo sua meditação pessimista, uma voz infantil balbuciou palavras incompreensíveis, e duas mãozinhas pequeninas escalaram sua canela até os joelhos, almejando seu colo. Foi então que percebeu o quanto era importante, e nos olhos do filho, não teve dúvidas quanto à existência do Criador. O sinal que tanto pediu, não veio de cima para baixo, mas no sentido inverso, exatamente para mostrar sua relevância. Abraçou o guri e o beijou na testa. Amanhã há de ser um dia melhor... Com fé em Deus!
* O Eldoradense
BOM esse conto.mais contínua sendo Hipócrita
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