27 de mai. de 2020

Conto: "O causo das pedras flutuantes" - Parte lll (Final)



  
    Genival era o falecido irmão gêmeo de Geni, a mulher do capataz. Dizem que depois que o fazendeiro saiu assustado da casa de pau a pique, a agora viúva confessou ao padre tudo o que havia acontecido antes do casal chegar do norte: 


   Geni e o capataz estavam de namoro escondido há algum tempo. O irmão, ciumento e desconfiado, a seguiu numa de suas escapadelas em direção a um lugar ermo, próximo a uma cachoeira conhecida por quase ninguém. E foi perto da cachoeira que se deu o flagrante: Geni e Aureliano estavam de safadeza, encostados em um cajueiro. Genivaldo, fora de si, começou a xingar e jogar pedras na irmã. Aureliano, já recomposto, partiu para a luta corporal com o cunhado, bem mais parrudo. Iria tomar uma sova daquelas, e então, para se defender, desferiu um golpe letal de peixeira no sujeito.

      O desespero tomou conta do casal, apaixonado e cúmplice. Ambos voltaram para as casas dos pais, mas no dia seguinte, vieram para o sul, como se nada tivesse acontecido. O problema é que Genival, antes de morrer, disse que se vingaria do cunhado, mesmo estando desencarnado. E assim o fez, muitos anos depois. O padre, mantendo sigilo na confissão, não contou nada para ninguém, mas exigiu que fosse feita uma novena no local, para fazer com que o fenômeno cessasse. As pedras nunca mais flutuaram das paredes da casa, mas aquele lugar, ainda assim, parecia carregado. 

        Depois que Geni faleceu, foi revelada uma carta em que a mesma havia deixado num baú, revelando tudo o que tinha ocorrido. O velho fazendeiro, que até então, não tinha ideia do que se passara, demitiu os cinco filhos do casal e colocou abaixo a casa de pau a pique... 

        - Puxa, seu Amâncio... Toda vez que eu ouço esta história eu fico impressionado...

         - Não é para menos. Os filhos do fazendeiro há mais de cinco anos desejam vender a propriedade e não conseguem, por conta desta maldita passagem...

             No momento em que o velho servia o café quentinho ao menino, um vento forte levantou um poeirão danado, quase que envergando o pé de goiabas que fica próximo do lugar onde fora derrubada a casa de pau a pique. Deveria ser alguma frente fria chegando...

* O Eldoradense

2 comentários:

Comentário: "A importância do equilíbrio fiscal"

       Contas públicas: Este é, sem dúvidas, o calcanhar de Aquiles do atual governo. Operando de forma deficitária e não demonstrando uma i...