Até o quinto ano do primeiro grau, eu era um excelente aluno em
praticamente todas as matérias. Aí, veio o bendito sexto ano, onde as equações
e inequações tiveram a ousadia - quase heresia! - de misturar letras e números.
Até então, as coisas eram bem separadas: Letras na aulas de Humanas e números nas aulas de Exatas. Algo bem distinto, tal qual "menino
veste azul e menino veste rosa". Mas o conteúdo programático escolar
insistiu em praticar aquela verdadeira orgia alfanumérica, onde x, y e z
desfilavam incógnitos ao lado de números sem identidade, enigmáticos, que
diziam tudo, e ao mesmo tempo, nada.
Mas
quando letras e números são separados, eu não escondo a preferência explícita
do primeiro grupo em relação ao segundo. Primeiro, porque letras são femininas,
e números masculinos. E por serem mulheres, as letras são mais complexas,
abstratas, apaixonantes. Já os números não: Possuem aquela nossa obviedade
masculina medíocre, que não dá conta de fazer uma limonada e fritar um
hambúrguer ao mesmo tempo. Isso sem dizer que números têm uma exatidão entediante, sendo frios
e calculistas, tais quais os psicopatas dos filmes de Hitchcock.
Letras formam palavras, que formam frases, que formam capítulos, que
formam histórias, que prendem a atenção. Números formam planilhas e
estatísticas, que, ao menos pra mim, são sinônimos de dispersão, distração e
bocejos. Se quiserem me fazer dormir, não me ofereçam um comprimido de Diazepam. Joguem nas minhas
mãos uma planilha para que eu tente analisar ou interpretar. Minhas pálpebras
se fecham em menos de dez minutos.
A
partir daquela sexta série que misturou letras e números nas aulas de
matemática, eu passei a descobrir o meu calcanhar de Aquiles... A área das
ciências exatas! E numa ironia do destino, foi uma letra específica que
sinalizou meu desempenho sofrível naquele tipo de matéria: O "D" em
tom vermelho hemorrágico passou a frequentar meus boletins.
Ainda hoje, acho que não "repeti" aquele ano na escola graças
à piedade da professora e do tal Conselho Escolar, que sabia que eu mandava bem
nas outras disciplinas. E foi assim nos dois anos subsequentes: sempre batendo
na trave, apelando para as "recuperações", "aulas de
reforço" e até aulas particulares. E é por isso que hoje eu analiso tudo o que
acontece muito mais pelo ponto de vista das "Ciências Humanas" do que
pelo ponto de vista das "Ciências Exatas". Ah, e vamos combinar... Você
conhece alguém que já lhe indicou um delicioso e envolvente livro de
Matemática, Química, ou Física? Eu acho que não...
* O Eldoradense
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