21 de fev. de 2019

Crônica: "Entre letras e números"...




  Até o quinto ano do primeiro grau, eu era um excelente aluno em praticamente todas as matérias. Aí, veio o bendito sexto ano, onde as equações e inequações tiveram a ousadia - quase heresia! - de misturar letras e números. Até então, as coisas eram bem separadas: Letras na aulas de Humanas e números nas aulas de Exatas. Algo bem distinto, tal qual "menino veste azul e menino veste rosa". Mas o conteúdo programático escolar insistiu em praticar aquela verdadeira orgia alfanumérica, onde x, y e z desfilavam incógnitos ao lado de números sem identidade, enigmáticos, que diziam tudo, e ao mesmo tempo, nada.

     Mas quando letras e números são separados, eu não escondo a preferência explícita do primeiro grupo em relação ao segundo. Primeiro, porque letras são femininas, e números masculinos. E por serem mulheres, as letras são mais complexas, abstratas, apaixonantes. Já os números não: Possuem aquela nossa obviedade masculina medíocre, que não dá conta de fazer uma limonada e fritar um hambúrguer ao mesmo tempo. Isso sem dizer que números têm uma exatidão entediante, sendo frios e calculistas, tais quais os psicopatas dos filmes de Hitchcock.

     Letras formam palavras, que formam frases, que formam capítulos, que formam histórias, que prendem a atenção. Números formam planilhas e estatísticas, que, ao menos pra mim, são sinônimos de dispersão, distração e bocejos. Se quiserem me fazer dormir, não me ofereçam um comprimido de Diazepam. Joguem nas minhas mãos uma planilha para que eu tente analisar ou interpretar. Minhas pálpebras se fecham em menos de dez minutos.

     A partir daquela sexta série que misturou letras e números nas aulas de matemática, eu passei a descobrir o meu calcanhar de Aquiles... A área das ciências exatas! E numa ironia do destino, foi uma letra específica que sinalizou meu desempenho sofrível naquele tipo de matéria: O "D" em tom vermelho hemorrágico passou a frequentar meus boletins.

    Ainda hoje, acho que não "repeti" aquele ano na escola graças à piedade da professora e do tal Conselho Escolar, que sabia que eu mandava bem nas outras disciplinas. E foi assim nos dois anos subsequentes: sempre batendo na trave, apelando para as "recuperações", "aulas de reforço" e até aulas particulares. E é por isso que hoje eu analiso tudo o que acontece muito mais pelo ponto de vista das "Ciências Humanas" do que pelo ponto de vista das "Ciências Exatas". Ah, e vamos combinar... Você conhece alguém que já lhe indicou um delicioso e envolvente livro de Matemática, Química, ou Física? Eu acho que não...

* O Eldoradense
  

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