V.I.A.G.R.A.
Brasília, ano de 2052. Segundo Renato Russo,
neste país, lugar melhor não há. Mas não é bem assim. A Capital Federal está
vivendo uma série de atentados terroristas contra prédios públicos,
principalmente os que são ligados ao I.N.S.S. Bombas caseiras, tiros de origem
desconhecida, incêndios criminosos acontecem diariamente também nas cidades-satélites.
A autoria dos atentados é reivindicada pelo V.I.A.G.R.A., um grupo paramililtar composto por idosos revoltados com a quinta reforma previdenciária
proposta pelo governo em cinco décadas. O "Velhinhos Inconformados Ameaçam
Governo Rever Aposentadorias" não está para brincadeira.
Pouco tempo atrás, o ministro Saulo Guerra anunciou que para se
aposentar, o trabalhador precisaria ter 85 anos de idade e outros cinquenta
anos de contribuição, o que tornou a aposentadoria praticamente uma Utopia.
Disse também que serão extintas as aposentadorias por invalidez, já que não é
justo um trabalhador produtivo pagar pelos que não produzem.
A
maioria dos habitantes do país é composta por idosos, que não são recolocados
no mercado de trabalho, mediante à produtividade dos mais jovens e à
robotização, presente nas indústrias e prestação de serviços. Soma-se isso à flexibilização
das leis trabalhistas, que inviabilizam qualquer carreira trabalhista contínua.
A previdência social está um colapso, e mais uma vez, é necessário um
"pacto". Mas como em todo pacto, é o povo quem paga o pato. Não, a
culpa nunca é das grandes empresas inadimplentes, nem dos corruptos fraudadores
do sistema. É do povo.
Eis
que chega o dia em que o V.I.A.G.R.A. coloca em execução sua ação mais
audaciosa. Dez idosos chegaram numa agência do INSS de Brasília munidos de
bengalas retráteis que se transformam em armas poderosas. Produzidas no Irã, as
mesmas não são perceptíveis aos detectores de metais. Renderam os oito
funcionários da agência, exigindo a presença da imprensa, do Ministro Saulo
Guerra, pleiteando também uma negociação para rever as novas regras de
aposentadoria. O clima está tenso, e os líderes do movimento - "os irmãos Pinto"- coordenam as ações rebeldes: Décio de um lado, Armando
do outro. Ambos tinham uma grande queda para a esquerda.
A
agência está cercada por atiradores de elite e a imprensa acompanha o desenrolar
das ações, até que, a pedido do Presidente Joel Brotossauro, chega o ministro
Saulo Guerra, disposto a negociar.
-Armando e Décio, em primeiro lugar, abaixem as bengalas, eu estou aqui para
conversar! - disse Saulo Guerra.
- Acho que você não entendeu!
Membro que entra no V.I.A.G.R.A. só abaixa a bengala quando quer! - gritou
Armando Pinto. Décio Pinto concordou com o primogênito.
A
eletricidade e a água do prédio foram cortadas. As negociações seguiram por
quase vinte e quatro horas e os revolucionários estavam exaustos. Os policiais
revezaram-se em turnos no cerco, e por isso, gozavam de grande vantagem. Saulo
Guerra falava ao celular com Joel Brotossauro, dizendo que a vitória governista
seria questão de tempo. Não deu outra...
Os atiradores de elite alvejaram
simultaneamente as cabeças dos irmãos Pinto, que caíram, sem chance de reação.
Vendo as mortes dos líderes, os outros oito membros do V.I.A.G.R.A. renderam-se,
abaixando suas respectivas bengalas retráteis.
A
imprensa internacional repercutiu o fato, bem como a imprensa local. Velhinhos
de todo o país saíram às ruas, manifestando apoio pacífico aos mártires do
V.I.A.G.R.A, mas o novo "Pacto Previdenciário" foi aprovando no
Congresso Nacional um mês depois da rebelião.
Mais uma vez, banqueiros mercadores da previdência privada comemoraram o
desfecho da contenda, bem como os políticos da base governista. E foi assim que, em mais um
pacto, o povo pagou o pato...
* O Eldoradense
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