" Em cada bolha de champanhe na taça, em cada molécula de pólvora reluzente no céu, há aquela mistura de saudade e esperança que explode no peito e transborda cristalina nos olhos"
Feliz Ano Novo a todos!
* O Eldoradense
" Em cada bolha de champanhe na taça, em cada molécula de pólvora reluzente no céu, há aquela mistura de saudade e esperança que explode no peito e transborda cristalina nos olhos"
Feliz Ano Novo a todos!
* O Eldoradense
Resenha Literária: "A economia política de uma potência global emergente", de Lourdes Casanova e Julian Kassum. Confira...
* O Eldoradense
Para cada ano vivido, um quilômetro rodado pelas ruas de Presidente Venceslau: E nenhuma música é melhor para ilustrar esta ocasião quanto "Envelheço na cidade", ao som do Ira. A propósito, foram 46 km...
Através de um minucioso trabalho envolvendo engenharia genética, automobilística e medicina veterinária, consegui desenvolver o primeiro filhote da matriz do meu FIAT ARGO. Tornei-me, portanto o pioneiro de Argopecuária! Argo é tech, Argo é pop, Argo é tudo...
Diante de uma total desorganização fora do campo, dificuldades financeiras, troca de técnicos, ficava difícil esperar um resultado diferente, a não ser que os adversários fossem ainda mais incompetentes que o peixe. Não foram. A última rodada foi crucial para sacramentar o descenso, inédito na história de um clube tão vencedor, sendo que o fato foi noticiado em vários veículos internacionais da imprensa esportiva.
Enquanto torcedor, logicamente lamento o desfecho ruim, ainda que ele fosse esperado. Não há como esconder a tristeza, e por que não a vergonha pela situação até então desconhecida pelo alvinegro praiano. Tenho uma opinião formada e ela recai principalmente aos gestores do clube. Quanto aos jogadores, fizeram o que puderam, os mesmos são limitados tecnicamente e compunham o fraco plantel exatamente pelo fato de os dirigentes do clube terem feito um péssimo planejamento, que culminou no temido rebaixamento.
As zoeiras dos torcedores rivais fazem parte do mundo futebolístico, e é claro, se a situação fosse inversa, logicamente exerceria meu direito de tripudiar. É do jogo, é sadio, desde que não existam ofensas e agressões. Saber perder é fundamental, tanto no futebol, quanto na vida.
Dizer que a maior parte da torcida santista não merecia o "presente" de fim de ano dado pelos cartolas do clube é correto. O mesmo não se aplica aos maus perdedores que depredaram e indenciaram veículos em Santos. Se perder, perdeu, paciência!
Resta aos novos gestores que assumirem o clube ano que vem tentarem colar os cacos do estrago deixado pelos atuais dirigentes. O planejamento precisa ser equilibrado, sem mirabolâncias financeiras incompatíveis com a realidade do clube, que deixariam-no num rombo ainda pior. Não adianta priorizar a volta à série A a qualquer custo, através de empréstimos e irresponsabilidades deficitárias. Tal manobra até poderia trazer o clube de volta à elite do futebol brasileiro, mas de forma inconsistente, num possível e frequente flerte com a série B.
Ano que vem, o Santos certamente não mandará seus jogos na Vila Belmiro, que será finalmente reconstruída e modernizada. Porém, isso é um outro grande dificultador para o retorno à primeira divisão do campeonato brasileiro. Não será fácil, a não ser que a frutífera categoria de base traga boas surpresas em meio a um cenário tão caótico, que os incompetentes dirigentes santistas fizeram por merecer. O maior ícone da história do Santos, o Rei Pelé, felizmente não está entre nós para testemunhar tal vexame, incondizente com o legado deixado por uma história de craques, conquistas e vitórias. Paciência, resiliência, e Santos, sempre Santos!
* O Eldoradense
E na região nordeste de América do Sul, um território pouco conhecido por todos nós vem ganhando protagonismo no noticiário: A Guiana Essequiba, situada a oeste do rio Essequibo, pretencente a Guiana, está sendo alvo de cobiça por parte do governo venezuelano de Nicolás Maduro. Num gesto típico dos autocratas que procuram desviar o foco diante das mazelas causadas pela própria incompetência, o presidente venezuelano contesta uma área de 75% do país vizinho, convocando a população para um referendo que acontece hoje, sem qualquer validade jurídica para as Cortes Internacionais.
A região é alvo de litígio entre ambos os países há mais de um século, porém, após a proclamação da Independência da Guiana ante os ingleses - antigos colonizadores - em 1966, a reivindicação venezuelana tornou-se um pouco mais contundente, porém, sem ameaças de anexações forçadas.
Mas Nicolás Maduro, que volta e meia apronta uma presepada diplomática internacional com intuito de tirar o foco da miséria que assola o seu país, resolveu que hoje acontece o referendo, e que, se a vontade do povo venezuelano assim determinar, as tropas do seu país avançarão sobre o território da Guiana. Vale dizer que a cobiça não ocorre à toa: A Guiana Essequiba tem uma enorme mina de ouro, e uma quantidade de petróleo que poderá fazer da Guiana um dos principais produtores do combustível fóssil em nosso continente. Diga-se de passagem, o minério fará com que o PIB nacional cresça 29% neste ano, segundo projeções do Banco Mundial, e 38%, do FMI.
A Guiana tem um poderio militar muito menor que o da Venezuela, porém, as relações do país com Reino Unido e Estados Unidos sempre foram estreitas, sendo que os norte-americanos já enviaram preventivamente suas tropas para o território Essequibo, no intuito de coibir a megalomania do governante vizinho.
Lembremos que governos autocráticos - sejam de direita ou de esquerda - adotam a tática de afloramento do nacionalismo através de conflitos bélicos com o intuito de escamotear suas incompetências. Em 1982, o então capenga militarismo argentino reivindicou uma pequena Ilha chamada por eles de Malvinas, denominada pelos ingleses de Falkland. Os portenhos tomaram ilha, e dois meses depois, a Inglaterra retomou o território, após uma guerra que culminou na morte de pouco mais de seiscentos soldados argentinos e outros duzentos e cinquenta ingleses, aproximadamente.
Tudo o que a sofrida Venezuela precisa agora, é de um conflito internacional, que pelo visto, é improvável que aconteça. E, levando-se em conta a possibilidade da ocorrência do mesmo, obviamente, perderá. O contexto certamente levaria o país para um quadro que extrapola a derrota militar: Acarretará em isolamento e sanções econômicas, certamente. Na tríplice fronteira entre Venezuela/Guiana/Brasil, militares de nosso país reforçam a segurança na cidade de Pacaraima, com o intuito de prevenir que o improvável conflito adentre, ainda que minimamente, o território brasileiro.
Há dois dias, o tribunal de Haia, na Holanda, decidiu que a Venezuela não poderá ocupar o rico território da Guiana. Resta saber se o megalomaníaco Nicolás Maduro irá acatar a decisão. Se tiver um pouco de juízo, deixa isso pra lá...
* O Eldoradense
"Dezembro é um mágico que se apresenta uma vez por ano, e lentamente, vai transformando euforia em saudade..."
* O Eldoradense
"Tem coisas que só acontecem com o Botafogo". Quem acompanha futebol, já ouviu a frase, que originalmente falando, segundo pesquisadores, é: "Há coisas que só acontecem com o Vasco e o Botafogo". Dizem que a frase ganhou força porque Vasco e Botafogo, até meados da década de 40, fizessem o que fizessem, não conseguiam ganhar o campeonato carioca. Porém, os cruz maltinos ganharam o primeiro título, e aí, a máxima caiu no colo do clube da estrela solitária. Logicamente o Botafogo também conseguiu seus títulos posteriormente, mas aí, já era: O dito popular já estava impregnado no uniforme botafoguense, bem como no inconsciente coletivo dos folclóricos e irrreverentes torcedores cariocas.
E "nunca na história do principal campeonato futebolístico deste país", uma frase fez tanto sentido, teve tanto nexo. O Botafogo finalizou o primeiro turno do Campeonato brasileiro treze pontos a frente do segundo colocado. E, por mais que treze seja um número agourento - exceto para Zagalo, ídolo do Bota - nem mesmo o botafoguense mais pessimista ou até mesmo o torcedor adversário mais otimista imaginaria tantos revezes que culminariam na perda do título pelos alvinegros de General Severiano. Goleando Palmeiras e Grêmio, o Botafogo inexplicavelmente permitiu duas viradas pra lá de improváveis. Diante do Santos, cedeu a um empate quando as cortinas já estavam se fechando. E ontem, diante do já rebaixado Coritiba, cedeu um novo empate, tendo aberto o placar no que se pensaria ser o último minuto de jogo. Mas não era, havia tempo para os paranaenses igualarem o marcador.
Azar? Praga da frase mítica que acompanha o clube desde meados do século passado? Não creio. O fenômeno envolve ciência, não superstição. Se o futebol é um esporte praticado com as pernas e a cabeça, está aí a explicação lógica, ao meu ver.
Primeiro, falemos das pernas: Pode ser que por ter um elenco limitado tecnicamente e com peças numéricas de reposição também limitadas, o Botafogo sucumbiu. Deu cãimbras, cambaleou, cansou. E aí, a questão envolve também uma falha na preparação física, talvez. E, sobre o fator "cabeça", faltou também um trabalho de "fortalecimento psicológico", tão comum hoje no mundo esportivo. As "crenças limitantes", enervaram os jogadores, que na "Hora h", no "dia D", entregam a rapadura. Tensão psicológica, que faz tremer pernas supostamente já cansadas. Aí não dá outra: O goleiro botafoguense pega a bola no fundo da rede, olha para o relógio, o juiz finaliza o jogo e o temor pelo próximo insucesso vira uma bola de neve.
O "Tem coisas que só acontecem com o Botafogo" deste ano merecia uma tese de psicologia: Lembram daquele personagem humorístico vivenciado pelo saudoso Brandão Filho, o "Sandoval Quaresma", da Escolinha do Professor Raimundo? Acertava todas as perguntas, e na última, a que valia o 10, tremia na base e lamentava o insucesso com o bordão: "Tava indo tão bem!"
Isso vale como lição de vida, como estímulo ao ser descrente no próprio sucesso, que atribui tudo apenas ao azar, ao vitimismo. Não! Diante das adversidades, preparem-se, treinem, planejem. Se mesmo assim as coisas não fluírem, busque terapia, aconselhamento, mas não "fortaleçam as próprias fraquezas". As "crenças limitantes" assemelham-se ao elefante preso por um cipó que não sabe a força que tem. A propósito, aprendi isso na terapia. Superdimensionar psicologicamente as adversidades têm um efeito concreto devastador, e isso pode ser trabalhado.
* O Eldoradense
Urnas apuradas nas eleições argentinas, e o país, sob forte crise econômica, elegeu Javier Milei com 56% dos votos válidos. A propósito, e diga-se de passagem, o presidente eleito com a maior votação da história do país platino. Simpatizantes da ultradireira brasileira comemoraram o resultado como se fosse um alento à derrota das últimas eleições brazucas. É como se um pouco do excelente doce de leite portenho mitigasse o amargor do jiló com tamanho de nabo experimentado por eles nas nossas eleições, em 2022.
Surrealismos e devaneios patrióticos à parte, quem analisa o quadro com frieza, sabe que este segundo turno das eleições argentinas foi marcado por um verdadeiro "mato sem cachorro": Era o atual ministro da economia representando um modelo fracassado contra uma incógnita que vê a privatização de tudo o que for possível, a dolarização da economia e a extinção do Banco Central como solução.
Sinceramente, não sei se Milei é mesmo o cara da campanha, ou se tudo aquilo foi uma bravata midiática eleitoreira e oportunista. E, de verdade, torço para a segunda opção, pois se ele colocar tudo o que disse em prática, a Argentina passará da situação cambaleante proporcionada pelo Peronismo esquerdista à letargia plena, ao estado vegetativo subsequente à ausência de Estado!
Explico: Se eu fosse um cidadão argentino, seria muita alucinação da minha parte torcer por uma vitória de Sérgio Massa sendo que o mesmo foi um dos responsáveis por levar o país a uma inflação de 138% ao ano. Porém, se eu portar o mínimo de senso crítico, também não posso acreditar que dolarizar a economia e privatizar o máximo possível de serviços públicos vá melhorar minha qualidade de vida, ainda mais numa situação tão emergencial.
O Peronismo precisava ser derrotado, porém, não por um candidato que apresentasse soluções que irão piorar a situação do país, ao meu ver. A Argentina é uma nação de exportações do setor primário da economia, cuja paridade cambial não é interessante. Outro setor que seria afetado de cara pela possível paridade, é o turismo: Hoje, muitas pessoas que estão visitando a nação portenha são atraídas, exatamente, pelo fator cambial.
Se a desvalorização do peso é ruim, a paridade é ainda pior. Sim, é preciso "calibrar" a moeda, diminuindo a desvalorização, mas não fazendo uma paridade artificial. Extinguir o Banco Central é outra aberração. Privatizar serviços? Como um povo que está lutando para sobreviver vai abrir mão dos serviços públicos para pagar por eles? Não faz o minimo sentido. E o fim das relações econômicas com o Brasil e a China, dois dos maiores parceiros do país, motivado por questões político-ideológicas? Ridículo! Caro leitor, seja sincero: Quem vocês acham que seriam os maiores prejudicados num possível rompimento? A Argentina ou a a dupla de parceiros?
Torço para os argentinos e respeito a decisão por eles tomada, pois a democracia deve ser soberana. E, dentro desta linha de raciocínio, espero que Milei tenha sido apenas um personagem de campanha, e, na prática, seja mais diplomático, equilibrado e pragmático. Caso contrário, se ele for mesmo o "cara da campanha, "don't Cry for me, Argentina", como diz a letra da música de Madonna.
E, de verdade, acho que verei um Milei mais pragmático que valentão. Digo isso baseado no episódio que envolveu o presidente eleito e o Papa Francisco: Para quem não sabe, Milei, em campanha, chamou o Sumo Pontífice de "representação do maligno na Terra" e "comunista", o que causou mal estar entre ambos, obviamente. Porém, após a vitória, eis que Francisco telefonou para Milei, felicitando-o pelo triunfo. A resposta foi simplesmente esta: "Não tenho problemas em me desculpar com o Papa, e ele está convidado para me visitar na Argentina".
É isso: Se o Milei for o cara da campanha, esquece, adiós! Porém, se ele for mais racional, diplomático e pragmático, pode ser que tenha sucesso em seus objetivos, mesmo com minoria no Congresso. Sobre as comparações que envolvem o argentino eleito e o seu similar brazuca derrotado, penso que elas se aproximam nas bravatas, mas se distanciam no preparo: Milei é economista, e o daqui, um militar paraquedista aposentado precocemente para produzir quase nada no Congresso Nacional. O de lá leva vantagem no quesito preparo, ainda que a referência comparativa tenha sido nivelada por baixo.
Finalizo dizendo que hoje tem Argentina x Brasil no Maracanã, e ainda que eu torça por uma "zebraça" com listras verde-amarelas, acho que Los Hermanos vencerão...
* O Eldoradense
Antes de tudo, deixo claro que o "causo" relatado nos próximos parágrafos nada tem a ver com tendêndias da moda feminina para o verão que se avizinha. "Saia justa" tem mais a ver com o sentido figurado - e não com algum figurino - no qual o termo conotativo quer dizer constrangimento.
Tenho um amigo que considero um irmão. Sempre que podemos, marcamos uma caminhada para colocar a conversa em dia e dar umas risadas. E é fato que geralmente começamos uma discussão no trajeto, até para que a atividade fique mais motivadora, sendo que o assunto predominante nestas contendas é o bom e velho esporte bretão, o futebol. Discussões acaloradas, com tom de voz um pouco acima do normal e muita gesticulação, feito dois idosos italianos. É engraçado e um pouco ridículo, mas é legal.
Falávamos sobre o campeonato brasileiro e ele começou a questionar uma máxima provocativa que mantenho nas redes socais: "Time grande não cai". É uma alusão que faço ao fato de que meu Santos nunca disputou série B, e de quebra, uma provocação humorada aos corintianos e palmeirenses. Não vou citar nomes por uma questão de ética, mas este meu amigo torce para o verdão.
Seguiu dizendo que o Santos é um time médio, com torcida inexpressiva, que se fosse grande, não estaria brigando para não ser rebaixado. Eu contra-argumentei dizendo que os critérios sobre a grandeza de um clube envolvem, além de torcida, história e títulos. Também disse que seis milhões de pessoas é gente pra caramba, ainda que Corinthias, Flamengo e o próprio Palmeiras tenham bem mais simpatizantes. Concluí dizendo que dentro dos meus critérios, apesar de santista, considero o São Paulo Futebol Clube o maior dentre os brasileiros.
Na sua tréplica ele me disse: "Na verdade, o São Paulo nem é grande, pois se ganhar algo, ninguém liga, a não ser alguns torcedores dos rivais paulistas. Se for analisar mesmo, grandes, no Brasil, só Corinthians e Flamengo. E o seu Santos é apenas um time médio".
Alguns minutos se passaram e deixamos a discussão, mas continuamos falando sobre futebol, mais precisamente sobre um documentário que ele assistiu sobre o ex-goleiro colombiano, o lendário René Higuita. Porém, é um pouco mais adiante que a história ganha tom hilário...
Numa rua do Eldorado, já finalizando o percurso, vinha em direção oposta à nossa um senhor com a camisa do São Paulo portando duas sacolas nas mãos. Observei, e dentro do meu íntimo, não vi potencial ofensivo algum no sujeito em questão. Foi quando veio a brilhante idéia de interromper a fala do meu amigo palmeirense sobre o documentário, dizendo em voz um pouco mais alta:
Desculpa, só pra recapitular: Quer dizer que, na sua opinião, o São Paulo também não é grande??
Juro: A intenção foi apenas deixá-lo numa "saia justa", mas a reação do amigo palmeirense foi surpreendente. Deixou-me para trás num trote de uns trinta metros, dobrou a esquina assustado, e só depois de notar que não houve contestação do torcedor são paulino, olhou para trás e me esperou, ofegante e pálido. Posteriormente, emendou: "Caramba, você é mesmo um FDP, hein?
Diante da reação medrosa e cômica, dei muita risada. A feição assustada do amigo palmeirense foi impagável. Se o episódio tivesse sido filmado, pareceria aquelas "Pegadinhas de internet". A diferença é que o senhor são paulino pouco se importou com a discussão de dois fanfarrões.
E para finalizar, depois de refeito do susto, o amigo palmeirense respondeu: "O São Paulo não é grande mesmo não!"
* O Eldoradense
Romildo era jardineiro na pequena e próspera Mitolândia, cidade recentemente emancipada do interior paulista. A cidade até então era distrito de uma outra, um pouco maior, mas o sentimento de independência ganhou força após a descoberta de inúmeras reservas minerais de nióbio em seus domínios territoriais. E economia do lugar deu um salto exponencial, com a instalação de indústrias de extração e beneficiamento do metal, gerando empregos e qualidade de vida para a população.
O protagonista deste conto mantinha boa relação com os "Barões do Nióbio", que moravam em seus condomínios de luxo, e volta e meia precisavam dar aquele trato em seus jardins coloridos e suntuosos. Romildo, que zelava pelas pequenas praças do lugar desde a época distrital, passou a nutrir grande admiração pelos barões, que lhe pagavam pouco pelos serviços particulares, mas sempre lhe davam panetone e vinho no final do ano.
A economia pujante fez com que o prefeito, que teve a campanha financiada pelos Barões do Nióbio privatizasse praticamente tudo: Terminal rodoviário, praças esportivas, balneário, Biblioteca Municipal. A exceção, até então, eram os banheiros públicos. Mas logo veio o discurso de que os mesmos estavam mal cuidados e que precisavam passar para a iniciativa privada.
Romildo, que cuidava das praças, via que os banheiros precisavam mesmo de melhores cuidados. Ao conversar com vários Barões do Nióbio, percebeu que realmente as privadas públicas necessitavam se tornar privadas privadas. Tornou-se um entusiasta da privataria, sempre dizendo que graças à privatização, ele e toda sua família possuía aparelhos celulares. Curiosamente, Romildo não se lembrava que a ferrovia que passava ao lado da praça central de Mitolândia foi sucateada após a terceirização da mesma. Mas afinal, os celulares encurtaram as distâncias em velocidades bem maiores que a dos trens, não é mesmo?
Karina Helena, filha de um barão do nióbio influente em Mitolândia, logo teve a ideia de fundar uma empresa especializada na gestão de banheiros. Nasceu, rapidamente, a "KH toaletes", que venceu a licitação de forma pra lá de suspeita. Os banheiros, justiça seja feita, no começo do processo, funcionavam bem: Mediante um cartão de recarga, o usuário adentrava no toalete, digitava o serviço desejado através das teclas "1" ou "2", e sentiam-se como verdadeiros reis no trono. Ao lado dos sanitários, tomada para recarga de celulares. Caixas de som tocavam músicas relaxantes, e um odor agradável de flores do campo era exalado através de inúmeros jatos aromatizantes. Um brinco!
Porém, o serviço não era barato: A recarga mínima do cartão era de 20 reais, sendo que o preço para quem apertasse a "tecla 1" era 8 reais, e para a "tecla 2", 12 reais. Como cortesia, a "KH toaletes" deu uma bônus inicial de 20 reais para cada cidadão. Romildo, enquanto cuidava do jardim da praça central, resolveu estrear seus créditos: apertou as duas teclas e fez jus à sua solicitação. Sentiu-se um cidadão respeitado, que poderia enfim, urinar e defecar com dignidade na praça, (ainda pública!).
Todavia, não fez nova recarga, pois a grana era curta. Duas semanas depois, na mesma praça central, sentiu o estômago enjoar, após comer um pão com mortadela que pareceu não lhe cair bem. Correu desesperado até a unidade da praça central da "KH toaletes". Sacou o cartão do bolso, inseriu várias vezes no leitor magnético, e por outras várias vezes, ouviu o alto falante dizer: "Lamento, saldo insuficiente!". Um suor frio correu pelo seu rosto e outra coisa mais quente correu no fundo de suas calças. Romildo percebeu que foi uma cagada apoiar a privatização incondicional das privadas públicas. Mas a barriga já havia doído, e já era tarde...
* O Eldoradense
O mundo contemporâneo se depara com mais uma guerra, infelizmente. Enquanto os conflitos entre Ucrânia e Rússia perduram por quase dois anos, eclodiu, mais uma vez, um sangrento combate entre judeus e palestinos onde se encontra geograficamente o Estado de Israel. O Oriente Médio, berço das três maiores religiões monoteístas do mundo, era para ser um lugar sagrado, de fato, onde reinasse a paz e a tolerância, tanto sob o ponto de vista étnico, quando religioso. Tanto o Judaísmo, o Cristianismo quanto o Islamismo, tem, na sua origem, segundo relatos, a descendência de Abraão. Mas este fator em comum não une as três religiões, pelo contrário, as separam.
Em nosso país, vejo muita gente tomando partido por um lado específico do conflito, motivados pela ascendência judia de Jesus Cristo, bem como pelas covardes intervenções dos grupos terroristas árabes. Lembro que naquela região os Cristãos são minoria, e sofrem perseguições de ambos os lados: dos extremistas islâmicos, bem como dos judeus ortodoxos. Porém, pouca gente parece ter conhecimento da segunda informação. Todavia, basta uma pesquisa mínima para ver que o Estado judeu, sob o governo de Benjamin Netanyahu pouco tem feito a respeito, beirando a total omissão. Quanto ao contra-ataque, o mesmo é obviamente inevitável, porém, muitos inocentes muçulmanos também estão perdendo suas vidas de forma desumana e covarde.
Lembremos que o atual Estado de Israel surgiu em meio à grande influência britânica na região em meados do século passado, e, com a chancela da ONU, fatiou-se a Palestina em duas partes distintas, o que gerou imensa insatisfação dos países árabes. Israel, tornou-se, portanto, uma ilha judia em meio a inúmeras nações muçulmanas. Os conflitos são uma constante ao longo destas quase oito décadas, e a reivindicação de um Estado oficial palestino é legítima, porém, é claro, contesta-se os métodos bárbaros, covardes e sanguinários dos terroristas muçulmanos.
Acho superficial tomar partido de um dos lados. O cenário geográfico-histórico dos conflitos é complexo demais para uma conclusão, e penso que a postura mais correta é clamar fervorosamente pelo cessar fogo e redução de danos, já que pedir a instauração da paz, parece ser Utopia.
China e Rússia adotam o discurso pró criação do Estado Palestino, e o Irã, por mais que negue, está por trás dos ataques terroristas. Os Estados Unidos e as principais forças ocidentais são aliados históricos dos Israelenses. Mediante divergências entre grandes ideológicas entre grandes potências econômicas e bélicas, acho sensato temer os desdobramentos do conflito e não alimentar um ódio milenar, que tantas pessoas já fez sofrer. Peçamos a interrupção do embate, exatamente para que esta guerra pontual não se espalhe pelo globo e nos atinja de forma mais direta. É o que penso.
* O Eldoradense
"A minha casa está onde está o meu coração... Ele muda, a minha casa, não! Porque sou apenas movimento, sou do mundo, sou do vento, nômade..."
Trecho da música "Nômade", do Skank...
Padre Deocleciano havia feito uma homilia contundente, digna
de elogios por parte do Bispo Homero. Com toda sua eloquência, argumentou com
todas as forças contra a possível descriminalização do aborto, causando grande
comoção nos fieis da igreja matriz da pequena e fictícia Bodocó do sul, situada
na região da também fictícia Cactolândia. Há de se dizer aqui que tanto o padre
quanto o Bispo são homens de caráter ilibado, que sempre agiram conforme suas
convicções religiosas e que nem sob o olhar mais crítico e maldoso, possuíam
desvio de conduta.
No dia seguinte à
homilia, um homem estranho aparece na igreja matriz, suplicando confissão. O
padre então vai ao confessionário, e o pecador em questão, um forasteiro vindo
de outro estado, começa a expor suas faltas, gravíssimas por sinal:
Padre, eu cometi cinco estupros em três
lugares diferentes em que morei. Todos eles seguidos por feminicídio e
ocultação de cadáver, e por isso, até agora, sem esclarecimento para a justiça
dos homens. E sinceramente, eles nunca me descobrirão, porque eu estou acima de
qualquer suspeita e faço tudo muito bem feito. Porém, arrependido dos meus
pecados, vim até o senhor pedir clemência e remissão.
Ao ouvir aquilo,
padre Deocleciano sentiu náuseas e uma ira nunca dantes sentida em sua alma.
Surpreendeu-se em experimentar tais sensações, pois era um homem sereno diante
de tudo. Mas, em toda a sua sabedoria, conteve-se e disse, gaguejando muito e
incerto sobre sua indulgência:
Considere-se perdoado pelos seus pecados,
porém, saia daqui e não peques mais!
O forasteiro, então,
nada disse, mas seu semblante estava visivelmente aliviado. Semanas depois, uma
mulher foi dada como desaparecida pela justiça de Bodocó do Sul. Outros
desaparecimentos de mulheres jovens adultas ocorreram num raio de 50 km: Uma em Benguê, duas em Tira e põe e outras três em Cactolândia. Padre Deocleciano, em
seu íntimo, suspeitava sobre quem estava por trás dos desaparecimentos.
Não poderia
denunciar o autor dos crimes à justiça, pois isso violaria as leis do direito
canônico. Mas sua omissão íntima também contrastava com suas convicções inegociáveis pelo direito à vida. Viveu, por algumas semanas, um dilema cruel que consumiu
sua alma.
Até que um dia, fez
o que achou mais correto: Procurou o delegado da pequena cidade para uma conversa
a sós, sem as formalidades do boletim de ocorrência. Expôs suas suspeitas quase
certeiras, baseadas na confissão do forasteiro. Posteriormente, a equipe de investigadores de Bodocó do Sul se
colocou no encalço do psicopata. Em menos de um mês a prisão foi feita,
mediante um flagrante arriscado, onde o forasteiro criminoso estava prestes a fazer mais
uma vítima.
Depois da
denúncia e da prisão do meliante, os desaparecimentos de mulheres cessaram na
região. Porém, numa crise de consciência por ter violado o direito canônico,
Deocleciano foi se confessar com o Bispo Homero, na Diocese de Cactolândia. O
Bispo, com toda sua sabedoria, disse ao subordinado sacerdote:
Considera-te perdoado pelo teu pecado, mas
para que sua remissão seja total, renegue ao sacerdócio e não vistas mais a
batina, pois segundo o direito Canônico, com muita dor no coração, serei
obrigado a excomungá-lo. E sinceramente, não é isso que eu quero fazer...
Numa última
homilia, o padre renunciou à batina e continuou defendendo o direito à vida,
tanto sob a luz das leis de Deus, quanto sob a ótica das leis dos homens. Reencontrou
sua paz soberana e íntima, e hoje leciona teologia numa universidade da capital...
O Eldoradense
E a resenha literária de hoje é sobre o livro "Marés da Vida", da escritora alemã Rose Hardt. Confira!
* O Eldoradense
Noventa e sete anos, hein? Aos olhos de quem nasceu aqui e viu suas mudanças, parece muito, mas se considerarmos tantas outras Brasil afora, és jovem. Nasci nos teus braços e confesso que nestes meus 45 anos de vida, acho seu abraço caloroso demais. Um tanto quanto exagerado, eu diria. Quando chega dezembro, então, parece que você quer sufocar a todos nós, de tanto calor. Não sei se é a tua geografia ou teu espírito natalino. Mas sabe? Você bem que poderia ter dito àqueles nossos irmãos primogênitos - a maioria já falecida - para não terem devastado tanto o perobal de outrora. Enfim, não posso culpar-te nem culpá-los, outros tempos, outras épocas, outras mentalidades. Mas se o perobal tivesse sido preservado, o clima entre nós seria um pouco melhor, mais ameno, creio eu. Não é um metáfora, pois me dou muito bem contigo, graças à Deus. O parágrafo é estritamente literal e meteorológico.
Não tenho metade da sua idade, e talvez, por isso, às vezes, não te compreendo muito bem. Confesso que minha visão de mundo destoa quase que totalmente de todos os outros filhos que criaste, mas, mesmo assim, amo você e meus irmãos. Afinal, nas alegrias e tristezas da minha vida venceslauense, eram vocês que estavam ao meu lado. Também pudera! Nascido e criado aqui, não poderia ser diferente, e, se o destino não pregar peças, meu sono eterno será sob teu seio.
Já pensei sim em habitar outras paragens. Por favor, não considere traição, insatisfação ou coisa do tipo. É que sou curioso por natureza, e já me imaginei tomando banho no rio Paraná todos os dias, na casa daquela vizinha ribeirinha que podemos chamar carinhosamente de tia. Já tive planos de ir para longe, pular sete ondas de águas salinas da costa litorânea no fim dos meus dias.
Porém, às vezes penso que as águas também salinas derramariam no rosto, em forma de saudade, se isso se concretizar um dia. E quando penso nisso, "quieto o facho!". Teria saudades de tudo o que vivi e ainda vivo, das raízes, da família, das pessoas que aprendi a amar, da conversa na varanda da casa do melhor amigo. Acho que teria saudades até do seu perfil conservador, com o qual ainda sou desabituado, tal qual do seu incômodo abraço de 35 graus centígrados na sombra de uma das tuas praças aconchegantes.
Parabéns por seus 97 anos. Se errei contigo em algum aspecto, acredite, não é proposital. Te amo muito, à minha maneira, e sei que seus outros filhos também a amam conforme suas visões particulares de mundo. Sei também que você ama a todos, pois toda mãe ama seus filhos incondicionalmente, independente das diferenças entre si. Aproveite seu aniversário da melhor forma possível, aproveite seu dia. Parabenizo-te com toda a sinceridade sob o ventilador de teto, tentando amenizar seu abraço de inverno com calor de verão. Parabéns, te amo!
* O Eldoradense
Ontem, Lula assinou a MP que prevê a taxação de grandes fortunas. Lembremos que a pauta é prevista na Constituição Federal, e, segundo pesquisa, conta com o apoio de aproximadamente 62% a 85% da população, levando-se em conta fontes diferentes de pesquisa. A priori, uma solução sensata, pois nada mais justo do que o argumento de "quem possui mais recursos dê contribuição maior para diminuir as desigualdades do país. E quando o assunto é desigualdade, é público e notório que somos um dos países mais injustos do ponto de vista social.
Porém, entre os técnicos (leia-se principalmente economistas), a medida promove debates interessantes, praticamente dividindo opiniões. O principal argumento dos que são contrários à medida alega que o país poderá perder divisas dos "super ricos" brasileiros, que poderão migrar seus recursos para outras nações. Não é um argumento a ser desconsiderado, diga-se de passagem. Os que sustentam a medida dizem que mesmo com a adoção da conduta, o Brasil pratica uma das taxas de juros mais altas do mundo, e ainda assim, é interessante para que esta minúscula (porém detentora de grande parte do nosso PIB ) parcela da população mantenha aqui sua grana, pois o retorno ainda é interessante.
Mitigar as imensas desigualdades sociais do país é dever do Estado brasileiro. O fenômeno por aqui chega ser imoral, de tão explícito que é. Porém, eu sempre fico reticente com soluções rápidas. Em exemplo didático, lembro-me quando o presidente José Sarney, em 1986, salvo engano, no afã de conter o monstro inflacionário resolveu tabelar os preços das mercadorias básicas para o consumo. No primeiro momento a medida contou com o apoio popular, que foi logo foi revertido quando os produtos começaram a faltar nas prateleiras e a concorrência de preços entre mercadorias similares tornou-se inexistente, pois todo mundo resolveu praticar o preço máximo da tabela. Ou seja: Houve boicote do empresariado, porém, é fato que o governo também errou quando quis intervir de maneira exagerada na economia de livre mercado.
Enfim, como eu disse nos primeiros parágrafos, a ideia de taxar grandes fortunas a priori, é sensata e justa. Porém, há de se levar em consideração as suas variáveis consequências e subterfúgios. Teremos mecanismos para coibir uma possível evasão de divisas? O Estado Brasileiro possui direito Constitucional de impedir que que investidores brasileiros transfiram seus recursos?
Pois é levando em consideração as variáveis e subterfúgios que tenho ressalvas quanto à eficácia da medida. Sinceramente, creio que o Estado poderia ser bem mais exitoso no combate às desigualdades se diminuísse os gastos públicos com as altas castas da classe política, das suas mordomias e regalias, (e também coibindo efetivamente a corrupção); otimizando as contas públicas e aumentando sua capacidade de investimento. Investimentos estes que poderiam ser voltados para a infraestrutura precária: segurança, habitação, transporte público, saúde e educação dos menos favorecidos. Isso sem falar nas possibilidades de oferta de microcrédito aos pequenos empreendedores, produtores rurais e também para o financiamento estudantil universitário.
Finalizo o texto com um exemplo prático: Na Europa dos anos 90, doze países adotavam a referida conduta. Em 2017, apenas quatro. Se a medida fosse, de fato, exitosa, a prática não seria abolida por oito países do bloco, penso eu.
* O Eldoradense
E a resenha literária de hoje é sobre o livro "Sons da alma", de Aldora Maia Veríssimo. Confira!
Se você usa amarelo,
Ou também verde oliva;
Então, eu apelo...
Mantenha a chama viva!
Considere-se convocado,
Para uma festa exótica,
Deus está do nosso lado,
Da massa patriótica!
Para que energético,
Se já estamos na pilha?
Num ritual estratégico,
Invadiremos Brasília!
Debaixo do sol à pino,
Contagiaremos corações;
Cantaremos o hino,
Faremos orações!
Cagaremos no STF,
Detonaremos bomba!
Supremo mequetrefe,
Que festa de arromba!
Seremos condecorados,
Pelo nosso capitão;
Retornaremos emocionados,
Orgulhosos de montão!
O arrogante Xandão
Quer montar armadilha?
Derrotaremos o mandão...
Deus, pátria e família!
* O Eldoradense
Certo dia, a Língua Portuguesa estava em sua sala, curtindo o
ar condicionado, entediada. Queria criar
algo, pois notou que mesmo com todas as suas armadilhas fonéticas e ortográficas,
precisava inventar uma novidade. Foi quando requisitou a presença da letra “X”
aos seus aposentos.
Em poucos minutos, lá estava a referida
letra diante do patrão, que tinha o porte de um xerife. O mesmo tomava uma
xícara de café, e foi logo dizendo:
X, você sabe que de
todas as letras, te acho a mais polivalente, a mais versátil, a mais solícita. Além
de representar honrosamente tuas funções, te vejo protagonizar equações
matemáticas. Enfim, você sabe que é meu peixe! E por isso, te delegarei novas
missões! Tu sabes que muitas palavras tem o som do “s”, do “z” e do “cs”.
Porém, estas letras vivem por aí, se divertindo, sem comprometimento. Não canso
de vê-las dançando na hora da labuta. Ritmos diferentes, como axé, xote,
xaxado. Quero que você as substitua, sempre que convocada! De hoje em diante,
sua missão será provar que quem se ausenta, acaba se tornando desnecessário...
Não é preciso
explicar que o X sentiu o peito explodindo com seu ego inflado. Aceitou de
pronto executar tais tarefas, ainda que corresse o risco de ficar extenuado.
Mas a Língua Portuguesa, astuta que era, lhe prometeu recompensar pelas árduas
horas extras. Caramba, já no último parágrafo deste texto estava cumprindo sua
missão! Era mesmo um exímio substituto!
O tempo foi
passando e lá estava o x metendo o bedelho em sons que não precisavam da sua
presença, confundindo leitores e escritores, se encaixando onde não fazia
qualquer sentido. Extrapolava nas substituições, trabalhava de forma
exponencial, como um exagerado cumpridor de horas extras. Agia como se fosse um
soldado do exército: Missão dada, missão cumprida!
Um dia, exausto,
perdeu fôlego. Fez exames médicos. Ironicamente, o primeiro deles foi um raio X
do tórax, pois estava ficando sem ar. O médico logo diagnosticou uma crise de
estresse, acompanhada por ansiedade. Precisava descansar, pediu atestados
médicos. Perplexo, percebeu que exagerou na dose.
À sua mesa, a
Língua Portuguesa viu o atestado com desconfiança. Resolveu telefonar para o
“c” e o “h”.
Acabei de chamá-los porque o X está com
doença de rico, frescura. Não está dando conta mais nem de representar
ortograficamente os próprios fonemas. É por isso que juntos, vocês irão substituí-lo
em algumas ocasiões. De hoje em diante,
não quero ser chamado de patrão, mas sim, de chefe! Chefe com ch, para
inaugurar esta nova e honrosa fase em suas vidas. Sintam-se privilegiadas com
esta pequena promoção! Recebam este cheque nominal como recompensa. Ah! aceitam
um chá?
O idioma explorador
cobrou o preço da letra que trabalhou em excesso. O x, complexado, sentiu-se
traído, como quem tivesse tomado um chapéu. Enquanto isso, outras letras o
xingavam pelas suas costas, sem qualquer compaixão: “Toma, puxa saco!”
O Eldoradense
Quem conheceu Thomé sabe o quanto ele era contestador, do quanto necessitava das provas materiais para acreditar em algo. Ah, desculpem-me! Não me refiro ao apóstolo de Jesus, aquele que precisava "ver para crer". Porém, nunca vi uma homenagem nominal cair tão bem em um sujeito: O Thomé que vos digo é um indivíduo de meia estatura, meia idade, meio desconfiado. Cabelos compridos, grisalhos, barba na mesma cor, olhar distante, misterioso, riso difícil. Vestia roupas simples e gostava de viajar num Jeep vermelho, onde carregava de tudo: Principalmente suprimentos e ervas exóticas. Tá ok: Ervas alucinógenas!
Gostava de contemplar a natureza e todas as histórias que ouvia a respeito dela, e se pudesse, decifrava todas. Alguém tão pragmático e cético deveria mesmo se graduar em algo científico: E assim o fez. Formou-se em Geologia numa universidade pública paulista e aprofundou-se na espeleologia. As cavernas eram sua paixão, as entranhas da Terra pareciam hipnotizá-lo. Quando fumava as tais ervas exóticas e dirigia o velho Jeep, ficava mais louco que o Batman! Era como se fosse o próprio Homem-Morcego num Batmóvel off road atrás de mais uma Batcaverna.
No fim do ano letivo da universidade em que lecionava, resolveu que gozaria suas férias numa aventura solitária. Deixaria Rio Claro, no interior de São Paulo e iria no velho Jeep até São Thomé das letras, pequena cidade mística mineira. Ouviu dizer que lá havia uma certa "Gruta do Carimbado", onde muitos alegam haver um portal para Machu Picchu, a cidade perdida dos incas, localizada no Peru.
Qualquer cidadão lúcido deduziria que esta é uma lenda folclórica, que talvez tivesse como objetivo alavancar o turismo da pequena cidade mineira baseando-se no misticismo. Mais ou menos algo parecido com Varginha e seu famoso extraterrestre.
Mas Thomé, não. Tal qual o apóstolo do Messias, ele precisava ver para crer. Na sua concepção, aquela história não poderia ter saído do nada. Devia haver algum sentido naquilo tudo.
Hospedou-se numa pequena pousada. No dia seguinte, foi com o Jeep até o ponto mais próximo da Gruta do Carimbado. Pegou tudo o que julgava necessário: Capacete com lâmpadas, mochila enorme, macacão, calçado adequado, cinto, água, cantis, alimento e bastante erva alucinógena. A propósito, quando alcançasse o portal energético, a viagem adiantaria bastante, como numa espécie de teletransporte.
A gruta do Carimbado teve sua entrada proibida pelas autoridades locais, por conta da degradação ambiental causada por visitantes e curiosos. Mas Thomé era um predestinado. Começou sua jornada em busca da civilização perdida. Seria uma descoberta que o tornaria um ícone da geologia internacional.
Os dez primeiros dias foram ganhando dificuldade gradual: Caminhos estreitos, rios subterrâneos, escuridão, frio, umidade. Dificuldade para se alimentar, a comida rareando, a solidão, o corpo estenuando as forças. No décimo terceiro dia, um clarão apresentou-se diante dos seus olhos! Luz branca, ofuscante, e em pouco tempo, ouviu-se o som melancólico de uma flauta pan. À sua frente, os altiplanos peruanos apresentaram-se com seu ar rarefeito, inúmeras lhamas e muitos descendentes incas. Felicitou-se de forma alucinógena, sobrenatural. Jurava que poderia morrer naquele exato momento.
Em Rio Claro e em São Thomé das Letras as buscas pelo professor do curso de geologia foram iniciadas há pelo menos cinco anos, e sem sucesso efetivo, duraram apenas um ano. Nenhum familiar foi contatado por ele. Dos vestígios do homem, apenas o velho Jeep vermelho foi devolvido pelo dono da pousada à sua única irmã. Há quem diga que ele está no Peru, vagando pelas ruas de Machu Picchu. Outros dizem que morreu num ponto inacessível que sua louca e longa jornada lhe impôs. Vai saber...
* O Eldoradense
Contas públicas: Este é, sem dúvidas, o calcanhar de Aquiles do atual governo. Operando de forma deficitária e não demonstrando uma i...