"Tem coisas que só acontecem com o Botafogo". Quem acompanha futebol, já ouviu a frase, que originalmente falando, segundo pesquisadores, é: "Há coisas que só acontecem com o Vasco e o Botafogo". Dizem que a frase ganhou força porque Vasco e Botafogo, até meados da década de 40, fizessem o que fizessem, não conseguiam ganhar o campeonato carioca. Porém, os cruz maltinos ganharam o primeiro título, e aí, a máxima caiu no colo do clube da estrela solitária. Logicamente o Botafogo também conseguiu seus títulos posteriormente, mas aí, já era: O dito popular já estava impregnado no uniforme botafoguense, bem como no inconsciente coletivo dos folclóricos e irrreverentes torcedores cariocas.
E "nunca na história do principal campeonato futebolístico deste país", uma frase fez tanto sentido, teve tanto nexo. O Botafogo finalizou o primeiro turno do Campeonato brasileiro treze pontos a frente do segundo colocado. E, por mais que treze seja um número agourento - exceto para Zagalo, ídolo do Bota - nem mesmo o botafoguense mais pessimista ou até mesmo o torcedor adversário mais otimista imaginaria tantos revezes que culminariam na perda do título pelos alvinegros de General Severiano. Goleando Palmeiras e Grêmio, o Botafogo inexplicavelmente permitiu duas viradas pra lá de improváveis. Diante do Santos, cedeu a um empate quando as cortinas já estavam se fechando. E ontem, diante do já rebaixado Coritiba, cedeu um novo empate, tendo aberto o placar no que se pensaria ser o último minuto de jogo. Mas não era, havia tempo para os paranaenses igualarem o marcador.
Azar? Praga da frase mítica que acompanha o clube desde meados do século passado? Não creio. O fenômeno envolve ciência, não superstição. Se o futebol é um esporte praticado com as pernas e a cabeça, está aí a explicação lógica, ao meu ver.
Primeiro, falemos das pernas: Pode ser que por ter um elenco limitado tecnicamente e com peças numéricas de reposição também limitadas, o Botafogo sucumbiu. Deu cãimbras, cambaleou, cansou. E aí, a questão envolve também uma falha na preparação física, talvez. E, sobre o fator "cabeça", faltou também um trabalho de "fortalecimento psicológico", tão comum hoje no mundo esportivo. As "crenças limitantes", enervaram os jogadores, que na "Hora h", no "dia D", entregam a rapadura. Tensão psicológica, que faz tremer pernas supostamente já cansadas. Aí não dá outra: O goleiro botafoguense pega a bola no fundo da rede, olha para o relógio, o juiz finaliza o jogo e o temor pelo próximo insucesso vira uma bola de neve.
O "Tem coisas que só acontecem com o Botafogo" deste ano merecia uma tese de psicologia: Lembram daquele personagem humorístico vivenciado pelo saudoso Brandão Filho, o "Sandoval Quaresma", da Escolinha do Professor Raimundo? Acertava todas as perguntas, e na última, a que valia o 10, tremia na base e lamentava o insucesso com o bordão: "Tava indo tão bem!"
Isso vale como lição de vida, como estímulo ao ser descrente no próprio sucesso, que atribui tudo apenas ao azar, ao vitimismo. Não! Diante das adversidades, preparem-se, treinem, planejem. Se mesmo assim as coisas não fluírem, busque terapia, aconselhamento, mas não "fortaleçam as próprias fraquezas". As "crenças limitantes" assemelham-se ao elefante preso por um cipó que não sabe a força que tem. A propósito, aprendi isso na terapia. Superdimensionar psicologicamente as adversidades têm um efeito concreto devastador, e isso pode ser trabalhado.
* O Eldoradense
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