Urnas apuradas nas eleições argentinas, e o país, sob forte crise econômica, elegeu Javier Milei com 56% dos votos válidos. A propósito, e diga-se de passagem, o presidente eleito com a maior votação da história do país platino. Simpatizantes da ultradireira brasileira comemoraram o resultado como se fosse um alento à derrota das últimas eleições brazucas. É como se um pouco do excelente doce de leite portenho mitigasse o amargor do jiló com tamanho de nabo experimentado por eles nas nossas eleições, em 2022.
Surrealismos e devaneios patrióticos à parte, quem analisa o quadro com frieza, sabe que este segundo turno das eleições argentinas foi marcado por um verdadeiro "mato sem cachorro": Era o atual ministro da economia representando um modelo fracassado contra uma incógnita que vê a privatização de tudo o que for possível, a dolarização da economia e a extinção do Banco Central como solução.
Sinceramente, não sei se Milei é mesmo o cara da campanha, ou se tudo aquilo foi uma bravata midiática eleitoreira e oportunista. E, de verdade, torço para a segunda opção, pois se ele colocar tudo o que disse em prática, a Argentina passará da situação cambaleante proporcionada pelo Peronismo esquerdista à letargia plena, ao estado vegetativo subsequente à ausência de Estado!
Explico: Se eu fosse um cidadão argentino, seria muita alucinação da minha parte torcer por uma vitória de Sérgio Massa sendo que o mesmo foi um dos responsáveis por levar o país a uma inflação de 138% ao ano. Porém, se eu portar o mínimo de senso crítico, também não posso acreditar que dolarizar a economia e privatizar o máximo possível de serviços públicos vá melhorar minha qualidade de vida, ainda mais numa situação tão emergencial.
O Peronismo precisava ser derrotado, porém, não por um candidato que apresentasse soluções que irão piorar a situação do país, ao meu ver. A Argentina é uma nação de exportações do setor primário da economia, cuja paridade cambial não é interessante. Outro setor que seria afetado de cara pela possível paridade, é o turismo: Hoje, muitas pessoas que estão visitando a nação portenha são atraídas, exatamente, pelo fator cambial.
Se a desvalorização do peso é ruim, a paridade é ainda pior. Sim, é preciso "calibrar" a moeda, diminuindo a desvalorização, mas não fazendo uma paridade artificial. Extinguir o Banco Central é outra aberração. Privatizar serviços? Como um povo que está lutando para sobreviver vai abrir mão dos serviços públicos para pagar por eles? Não faz o minimo sentido. E o fim das relações econômicas com o Brasil e a China, dois dos maiores parceiros do país, motivado por questões político-ideológicas? Ridículo! Caro leitor, seja sincero: Quem vocês acham que seriam os maiores prejudicados num possível rompimento? A Argentina ou a a dupla de parceiros?
Torço para os argentinos e respeito a decisão por eles tomada, pois a democracia deve ser soberana. E, dentro desta linha de raciocínio, espero que Milei tenha sido apenas um personagem de campanha, e, na prática, seja mais diplomático, equilibrado e pragmático. Caso contrário, se ele for mesmo o "cara da campanha, "don't Cry for me, Argentina", como diz a letra da música de Madonna.
E, de verdade, acho que verei um Milei mais pragmático que valentão. Digo isso baseado no episódio que envolveu o presidente eleito e o Papa Francisco: Para quem não sabe, Milei, em campanha, chamou o Sumo Pontífice de "representação do maligno na Terra" e "comunista", o que causou mal estar entre ambos, obviamente. Porém, após a vitória, eis que Francisco telefonou para Milei, felicitando-o pelo triunfo. A resposta foi simplesmente esta: "Não tenho problemas em me desculpar com o Papa, e ele está convidado para me visitar na Argentina".
É isso: Se o Milei for o cara da campanha, esquece, adiós! Porém, se ele for mais racional, diplomático e pragmático, pode ser que tenha sucesso em seus objetivos, mesmo com minoria no Congresso. Sobre as comparações que envolvem o argentino eleito e o seu similar brazuca derrotado, penso que elas se aproximam nas bravatas, mas se distanciam no preparo: Milei é economista, e o daqui, um militar paraquedista aposentado precocemente para produzir quase nada no Congresso Nacional. O de lá leva vantagem no quesito preparo, ainda que a referência comparativa tenha sido nivelada por baixo.
Finalizo dizendo que hoje tem Argentina x Brasil no Maracanã, e ainda que eu torça por uma "zebraça" com listras verde-amarelas, acho que Los Hermanos vencerão...
* O Eldoradense
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