12 de abr. de 2022

Conto: "A rasteira baiana"

 



  

      Continuando os causos em que o campo de futebol do Eldorado é o cenário, saio um pouco da temática sobrenatural e entro um pouco na comédia, no lance do caso engraçado, que rende boas risadas.

         Certa vez, chegou de São Paulo alguém para residir na casa dos familiares, aqui no bairro. O cara era marrento, tinha um porte altivo, cara fechada, gostava de contar lá suas vantagens. Dizia que morava na "quebrada paulistana" em lugares que moldam gente valente, que não leva desaforo pra casa. Isso o fez torná-lo de forma velada, um sujeito temido, com o qual todo mundo evitaria confusão.

       Era ruim de bola que só. Mas quem se atreveria a reclamar de um passe errado do perna de pau? Desfilava soberano sua falta de traquejo com a bola, sem qualquer questionamento. Eis que um belo dia ele resolveu pegar um adversário para Cristo: Uma porrada, duas, três. O outro sujeito, gente boa, pacato, se alterou e revidou.

      Pronto, está montado o cenário para o causo deslanchar! A turma do deixa disso não se empenhou muito para evitar o embate, é bem verdade. Estava formada a roda em meio ao confronto. Ia ter briga, e todo mundo estava dando como certa a surra tomada pelo sujeito mais calmo. O "paulistano da quebrada", então disse, num tom de desdém:

          "Eu vou te dar a rasteira baiana!"

     Amigo leitor, convido você a fazer uma sonoplastia íntima e mental ao toque dos berimbaus. O cara começou a gingar pra lá, pra cá, mas tinha algo de errado: Os movimentos estavam muito desengonçados, típicos de quem não sabia nada do que estava fazendo, ou ao menos, tentando fazer. Não precisava ser nenhum mestre de capoeira para perceber que aquilo era pataquada. E o oponente, até então parado, logicamente percebeu isso.

      O valentão tropeçou no chão em seu gingado trapalhão, e foi aí que o adversário partiu pra cima e mandou socos, pontapés, cascudos, paulistinhas, sopapos. Pensa numa surra!

       O "brabão" saiu meio querendo que chorar do campo, mas pra não perder toda a dignidade, ainda emendou:

      "Você é covarde, bateu num homem caído!"

    Por uns quinze dias, "rasteira baiana" virou meme do mundo real em nosso acanhado campinho. Quanto ao "brabão", nunca mais foi jogar bola, e algum tempo depois, regressou a São Paulo, onde certamente chegou dizendo algo do tipo:

      "Fiquei um tempo no interior, onde só tem mato. E foi lá prendi a domar cavalo pagão e caçar onça pintada!"


* O Eldoradense

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