É bem provável que Jorge Amado seja o romancista brasileiro de minha predileção. Em minha concepção, ele tem um estilo literário único, subversivo, irreverente. Narra a realidade soteropolitana com maestria, humor e ao mesmo tempo, com crítica social. Através de suas obras dá pra imaginar a malemolência romantizada do malandro baiano, a boemia de Salvador cheirando à maresia e o sincretismo religioso arraigado à cultura daquele povo. Sim, porque segundo Jorge, baiano que se preza reza o terço, mas não subestima as benzedeiras.
Em "Os pastores da noite", todas estas características de suas obras afloram explicitamente, em três histórias deliciosas de um núcleo de personagens interessantes: Cabo Martim, Negro Massu, Otália, Curió, Marialva, Jesuíno Galo doido, a cafetina Tibéria, dentre outros.
Jorge Amado é tão peculiar que cada história tem dois títulos neste livro, e os títulos são relativamente extensos:
1) "História verdadeira do casamento do Cabo Martim, com todos os seus detalhes, rica de acontecimentos e surpresas" ou "Curió, o romântico, e as desilusões do amor perjuro";
2) "Intervalo para o batizado de Felício, filho de Massu e Benedita" ou "Compadre de Ogum"
3) "A invasão do Morro do Mata Gato" ou "Amigos do povo".
Nas três histórias há muito da cultura baiana, do estilo marcante de Jorge Amado, do bom humor, da crítica à desigualdade e da religiosidade. Livro simplesmente delicioso, tal qual acarajé de camarão vendido pelas baianas dos arredores do Elevador Lacerda...
* O Eldoradense
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