A história da colonização do Pontal do Paranapanema é marcada pela dizimação dos povos indígenas, desmatamento e grilagem de terras. O fato ocorrido pode ter acontecido onde hoje é alguma gleba, assentamento, ou até mesmo num dos inúmeros latifúndios deste cantinho esquecido no oeste do estado de São Paulo. E talvez pela ocorrência de tantas mortes no passado, alguns episódios sobrenaturais se tornaram comuns nas narrativas dos velhos moradores deste lugar. A história da "noiva incandescente" é de conhecimento de poucos, mas a partir de hoje, torna-se pública...
O jovem Adriano tinha resolvido trabalhar mais um pouco na roça de café que cultivava no sítio dos seus pais, João Pedro e Angelina. O crepúsculo daquele dia de junho parecia sombrio, misterioso, diferente. Adriano estava focado no serviço, tinha comido apenas uma fruta na hora do almoço, e nada mais. Carpia, semeava, esfregava a testa com as costas das mãos, suspirava. Queria porque queria que a prosperidade do cafezal se desse o quanto antes.
Deu uma pausa. Olhou para trás. Uma névoa branca e longínqua rompia a escuridão que engolia o cenário. Não deu importância. Tornou a carpir. Enxadadas profundas, que mesclavam força e pressa. Começou a suar frio de cansaço. Nova pausa, e quando olhou para trás, a névoa estava um pouco mais próxima, mas indefinida. Deveria ser o famoso fogo fátuo, a conhecida luz branca que emana da profundidade da terra que se origina de material em decomposição: alguma cabeça de gado ou animal de estimação que fora ali enterrado e se tornara gás luminoso em sublimação.
Bom, mas isso não importava. Tinha que acabar logo o trabalho e jantar, pois até então, só tinha comido um único caqui. Porém, já estava perdendo as forças, infelizmente. À sua frente, um clarão alvo passou a ofuscar sua visão. Quando olhou para trás, uma imagem assustadora se fez presente: Uma noiva incandescente, envolta numa luz branca, carregando um buquê de flores e dona de um semblante triste.
Adriano correu com todas as forças em direção à casa dos pais. Bateu na porta em desespero, e foi recebido pelo velho João Pedro, desmaiando em seus braços.
Quando acordou, disse ao casal tudo o que tinha presenciado, e os pais preferiam não duvidar da palavra do filho, ainda que intimamente, não acreditassem em assombrações. Deram a Adriano uma boa pratada de comida, pois certamente aquilo era fraqueza e alucinação por conta da fome e do trabalho pesado.
Pode até ser coisa de estômago quase vazio alimentado por um mero caqui durante o dia todo. Mas não sei não! Há quem diga que no princípio da colonização, a filha de um grileiro, noiva de um advogado da capital, morreu flechada por um índio Caiuá. E que sendo assim, de tempos em tempos ela vaga pelos campos do Pontal, querendo sacramentar o matrimônio... Vai saber!
* O Eldoradense
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