12 de jun. de 2020

Conto: "A morte em quinze vezes"






"A morte em quinze vezes"

      Ambos estavam sentados na mesa de um reles botequim pra lá de suspeito, tomando cachaça e conversando reservadamente...

         - Então, Afonso... eu preciso que tudo ocorra da forma mais convincente possível, só estou na dúvida de como fazer a cena...

        - Que tal a gente simular um afogamento no Rio Paraná?

          - É, não deixa de ser uma ideia interessante. Mas eu confesso que a possibilidade de simular uma sequestro também me atrai. 

            - Bom, aí fica um pouco mais caro. Vamos precisar do mesmo tanto de gente, mas vai ser preciso usar um carro veloz e armar todo mundo, para intimidar...

            - Tá, então vamos de afogamento mesmo! Quanto você cobra?

           - Bom, Alceu... Como a gente já fez alguns trabalhos juntos, te faço por quatro mil reais, sem choro, nem velas. Mas para ajudar,  divido em até quinze vezes no cartão de crédito...

            - Será que é bom ter uma reza antes da morte? 

         - Eu sou ateu, mas em nome do profissionalismo, aprendo as rezas no Youtube, na Rede Vida ou na Canção Nova...

           - Fechou! Pode ser amanhã de manhã?

           - Sim, te garanto que sairá tudo nos conformes...

      Os dois sujeitos se cumprimentaram satisfeitos e fecharam o negócio. Alceu e Afonso são amigos e amantes da sétima arte. Um é diretor, e o outro, dublê. A cena encomendada fará parte de um curta metragem violento e impactante. Acho que vai sair um serviço bem feito!

* O Eldoradense 

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