31 de jul. de 2019

Desculpem-me! Nunca pensei que fosse escrever isso...





    Quando Jair Bolsonaro sofreu aquela facada em Juiz de Fora, eu surpreendentemente ouvi de uma pessoa muito próxima a mim, talvez a mais próxima, na atual conjuntura...

     "Este homem só colhe o que planta. Foi merecido"

   Na hora, fiquei surpreso, contrariado, e até indignado, juro. Não esperava ouvir isso, não concordava em absoluto com a  fala. Disse a ela que uma coisa são as divergências políticas e as outras têm a ver com o ser humano. A pessoa em questão imediatamente contra-argumentou: Ele jogou confete sobre o nome de um torturador e também enalteceu o câncer da Dilma. Fiquei calado, mas ainda assim, continuava discordando,  escrevi algo sobre o absurdo daquela facada, não só em um candidato à presidência, por mais idiota que fosse, bem como ao ser humano Jair Bolsonaro, por mais símio-primata que ele seja.

     Eis que agora o esfaqueado é presidente. Deveria mudar sua conduta, exatamente pela lição da facada, bem como pela função que exerce. Não mudou. Continua propagando absurdos, enaltecendo barbáries da época da ditadura, regime que, inclusive, negou a existência, em outra oportunidade.

     O que Bolsonaro disse sobre o desaparecimento do pai do presidente da OAB na época do regime militar é algo repugnante. Primeiro, pela atrocidade e pela insensibilidade. Segundo, por ser uma mentira! Os próprios agentes do regime admitiram o assassinato, que Bolsonaro creditou aos movimentos de esquerda, por uma suposta divergência interna. Não por acaso, o Ministro do STF, Marco Aurélio Melo, alegou que o presidente precisa urgentemente de uma "mordaça". 

       Não sei o que mais me chateia: Se o fato de termos um presidente que não mede as consequências pelo que fala, ou se pelo fato de termos um grande contingente de defensores destas aberrações. Resguardadas as devidas proporções, Hitler, Franco e Mussolini  cometeram suas atrocidades propagando discurso nacionalista e com grande respaldo popular dos seus seguidores. Estamos vivendo em uma época estranha, de fanatismos e extremismos, e eu, sinceramente, não sei no que isso vai dar. Consideremos que este governo alavanque alguma prosperidade econômica, o que eu realmente não acredito: em nome do dinheiro no bolso, as pessoas o defenderão ainda mais, por mais aberrações que sejam propagadas de sua língua insana. E aí, teremos o cenário ideal para o totalitarismo velado de democracia. 

      Olha, por mais que eu nunca tenha pensado em escrever isso, e por mais repugnância que esta última frase possa causar no leitor, pois nunca defendi violência alguma, admito:  A pessoa próxima a mim tinha razão sobre a facada. Infelizmente, se o ocorrido foi lamentável, é fato que tem lá suas justificativas. Violência gera violência, e atualmente, a máxima parece que tem se prevalecido com muito mais força. Se a facada é lamentável, o ato foi uma reação causada por ações desastrosas, não menos lamentáveis. A insensatez, é, de fato, uma "faca de dois gumes"...

* O Eldoradense


29 de jul. de 2019

Santos FC: Apenas um time latino-americano sem dinheiro no banco!





    Enfim, o Santos assumiu a liderança do Campeonato Brasileiro, vencendo o frágil Avaí em casa, pelo placar de 3x1. Santista que sou, não nego satisfação e expectativas, mesmo sabendo que ainda existe muita água do mar pra correr no canal do Guarujá. E os detalhes desta vitória de ontem mostram um Santos bem "latino - americano, sem dinheiro no banco", como no clássico musical do saudoso e bigodudo Belchior.


      Um paraguaio abre o placar e um argentino careca vibra feito louco na beira do gramado. O Avaí empata, só pra dar um susto. Mas aí, um venezuelano se refugia pela esquerda, dribla uma alfândega de zagueiros azuis e cruza na cabeça calva de um uruguaio. Caramba, este time de branco é brasileiro?? Ah, é sim! Porque no segundo tempo, um brasileiro com nome quase gringo faz o terceiro. E que golaço do tal Felipe Jonatan! 

     O Santos tornou-se líder do campeonato com elenco modesto, estando a frente de clubes que investiram bem mais, como Palmeiras e Flamengo. Um time de bons jogadores, mas nenhum craque em evidência, como na era Neymar. Está lá, no topo da tabela, tal qual tubarão mineiro fingindo ser peixe pequeno. Ah, em Minas não tem mar, mas dane-se! Tudo pela  metáfora! O técnico argentino e calvo talvez seja o maior responsável por isso, elaborando variações táticas interessantes, lembrando uma dona de casa que precisa fazer um bolo sofisticado sem tantos ingredientes nas mãos. 

       Tudo bem que os rivais ricos estejam disputando outras competições e que o fato do Santos estar disputando exclusivamente o brasileirão também justificam a presença do peixe no ponto máximo da classificação. Mas que é muito bom ver a nossa escassez tripudiar sobre a abundância alheia, isso é! Pode ser que o Santos não seja campeão, mas que o clube está tirando leite de pedra, está! Enfim, algo típico de um time que pode não ter dinheiro, mas tem muita camisa e história. Um time latino-americano, sem dinheiro no banco, sem jogadores importantes, vindos do exterior...

* O Eldoradense


26 de jul. de 2019

Livro: "Confesso que perdi - Memórias ", de Juca Kfouri!




   Juca Kfouri é um dos caras que gosto de ler com alguma regularidade, pois eu sou admirador do seu modo de escrever, do estilo combativo na defesa dos seus princípios e ideias. Corintiano assumido, não tem seu trabalho prejudicado por explicitar o seu time do coração, e quando timão foi contemplado com a construção do estádio "Itaquerão", não teve dúvidas de manifestar suas contrariedades, levando-se em conta os prejuízos que a obra superfaturada causariam tanto aos cofres públicos quanto ao clube.

   E é no livro "Confesso que perdi - Memórias" que pude acompanhar muito de sua biografia, entender como funciona a rotina frenética das redações de jornais, da luta por furos de reportagem, das pressões que os profissionais de imprensa sofrem por parte dos patrocinadores, da busca por obtenção de fontes e da paixão envolvida neste trabalho. E é claro que tudo isso geralmente cobra um preço: O distanciamento da família e a perda da qualidade de vida, principalmente no tocante à saúde, foram percalços que fizeram parte da carreira do jornalista. 

     O título "Confesso que perdi" refere-se principalmente ao engajamento de Juca na busca da moralização dos bastidores da administração do futebol e do esporte através de denúncias e reportagens investigativas, bem como na militância política, buscando democracia e justiça. E pelo título do livro, dá pra deduzir que o jornalista infelizmente foi vencido pelo "sistema". Em duas oportunidades especiais, Juca mostrou como a podridão da política e do esporte se fundiram para a benesse financeira de autoridades destes dois meios: Quando o Brasil sediou a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Enquanto o povo padecia nos hospitais, no transporte coletivo precário e nas favelas, estádios e centros esportivos modernos eram construídos de maneira superfaturada, fazendo com que  políticos e dirigentes esportivos embolsassem muita grana, concretizando com êxito seus projetos de poder. 

     Livro bom, envolvente, de fácil leitura e concluído num "tapa". Depois dele, Juca Kfouri subiu ainda mais no meu conceito particular.

* O Eldoradense

25 de jul. de 2019

Comentário: Frank Zapata fracassou??



      Caro amigo leitor deste blog, assista ao vídeo abaixo...



         O sujeito é Frank Zapata, um francês que pilota profissionalmente moto aquáticas, e que inventou o flyboard, uma espécie de prancha voadora. Pois bem: Hoje ele queria atravessar o "Canal da Mancha", entre a França e a Inglaterra, num trecho de 35 km, mas caiu no braço oceânico na metade do percurso, sem lesões graves. Em todas as manchetes jornalísticas sobre o assunto, eu vi os termos "falha" e "fracasso". Que me desculpem os profissionais da imprensa, mas na verdade, este cara apenas teve o sucesso adiado! 

* O Eldoradense

     

23 de jul. de 2019

Comentário: "A declaração de Bolsonaro sobre o Nordeste"




   É, amigo leitor, ele deu mais uma mancada. Nem sei se pode ser qualificado com mancada, talvez um tropeção daqueles bem toscos, dignos daquelas tragicomédias de quinta categoria. Bolsonaro , o homem que fala com a língua presa mas a tem muito solta, generalizou toda uma região do país, o Nordeste. Entendam: chamar os nordestinos de "Paraíbas" não é ofensa alguma, pois o povo paraibano é decente, honrado. O erro é a generalização imbecil, que ignora fronteiras culturais, sociais e geográficas. O termo genérico é muito usado por fluminenses e paulistas, de forma geral, quando o nordestino é tratado por "paraíbas" e "baianos" nestes estados, respectivamente. Estas falas são comuns no cotidiano? São. São corretas? Não!

 O presidente precisa entender que ele é um chefe de Estado, e tais comportamentos são incompatíveis com a função que ele exerce. Se existe um enorme esforço das mídias e da sociedade em geral para combater generalizações, rótulos e preconceitos, Bolsonaro bem que poderia ao menos fingir sensatez e não fomentar tais comportamentos. É o mínimo que se espera de um líder político.

   E não por acaso, os governadores da região emitiram uma carta, manifestando repúdio a fala do presidente. Diriam os mais fanáticos que o conflito é político/partidário, pois a maioria dos governadores da referida região são de siglas ideologicamente contrárias a do atual presidente. Porém, há de se ressaltar que Renan Filho (AL) e Belivaldo Chagas (SE), não se enquadram no perfil esquerdista. Sim, a gafe de Bolsonaro reuniu todos os governadores nordestinos contra a sua fala!

   Agora, Bolsonaro usa chapéu de cangaceiro e diz que o sangue da sua filha tem herança dos  "cabras da peste". Reúne público escolhido a dedo para demonstrar, através de vídeos, que o povo nordestino não se sentiu desprestigiado com sua idiotice. Em inauguração de um aeroporto na Bahia, o presidente reclamou a ausência do governador Rui Costa (PT), bem como da ausência da segurança da Polícia Militar Estadual baiana. 

     O governador local disse que a escolta deveria ser de responsabilidade das Polícias Federais, já que era um evento do Governo Federal. Também errou, pois o aeroporto beneficia imediatamente o seu estado. Enfim, trocas de farpas desnecessárias em um país que se encontra dividido. Mas o que esperar quanto à isso, se o próprio presidente fomenta tais divisões com declarações infelizes?

* O Eldoradense

      

20 de jul. de 2019

Fotografia: "Reencontro 2019"

   Registro fotográfico do último encontro com dois dos meus melhores amigos da época da faculdade, ocorrido anteontem, em Presidente Prudente. Agradeço ao Orlando e Rílton pela companhia, conversas e risadas. E que o próximo reencontro aconteça o mais rápido possível!



* O Eldoradense

19 de jul. de 2019

Fotografia: "A febre do FaceApp"

   É viral, mas não posso negar que é um aplicativo interessante. O tal "Faceapp" que envelhece as pessoas dá uma perspectiva bacana - às vezes exagerada- da fisionomia do fotografado, enaltecendo rugas e tornando os cabelos e barbas grisalhos. Pedi a uma amiga que fizesse a transformação de uma foto minha, e fiquei surpreso com o resultado: Ao meu ver, fiquei muito parecido com meu avô materno, "seu Floriano"...


* O Eldoradense

18 de jul. de 2019

Livro: "A cidade do Sol", de Khaled Hosseini




   Quando postei "O caçador de pipas", a amiga blogueira Jane Quintela sugeriu em comentário que eu fizesse a leitura de "A cidade do Sol", do mesmo autor Khaled Hosseini. Consegui emprestado, e se eu havia achado o primeiro livro bom, o outro, achei magnífico. 

 Nesta obra, o autor, ao meu ver, parece esmiuçar detalhadamente as mazelas de um país em guerra, multiétnico e extremamente machista. E é neste último detalhe que o leitor acaba nutrindo raiva por Rashid, o patriarca de uma família  que possui duas mulheres, algo comum na cultura de algumas nações islâmicas. Sua arrogância, ignorância e violência são descritos de maneira eficaz, levando o leitor à reflexão do problema das agressões sofridas pelas mulheres ao redor do mundo, inclusive em nosso país. A diferença é que no Afeganistão, o fenômeno parecia não ser apenas tolerado, como também estimulado pelo regime talibã. 

    Fazendo uma analogia ao título da história, "A cidade do Sol" não reflete o brilho alegre do "Astro Rei", mas sim a ardência do sofrimento de um povo durante as guerras, bem como de suas mulheres oprimidas e subservientes. Belíssimo livro!

* O Eldoradense 

   

      

16 de jul. de 2019

Vídeos curiosos: "Papai eu quero uma embaixada"

  Parece-me que o vídeo foi ao ar inicialmente no "Fantástico" do último domingo, pela TV Globo. Com uma letra irreverente, parodiando uma música dos "Trapalhões",  a produção viralizou na internet. Com vocês... "Papai eu quero uma embaixada!"


15 de jul. de 2019

Alfinetada: "No petismo & nepotismo"

  E o presidente Jair Bolsonaro quer nomear o filho Eduardo para ser embaixador nos Estados Unidos. O curioso nisso tudo é que os caras que tanto falam no petismo... 




... Estão defendendo os que querem praticar nepotismo!!!



* O Eldoradense

12 de jul. de 2019

Comentário: Sobre a coragem de Tábata Amaral





   Foi numa entrevista do programa "Conversa com Bial" que conheci um pouco da biografia a Deputada Federal Tábata Amaral, eleita pelo PDT paulista. Em resumo, e para não estender muito na primeira parte deste texto, a moça em questão tem origens familiares na periferia de São Paulo e formação acadêmica em Ciências Políticas e Astrofísica pela Universidade de Harvard, Estados Unidos. Exerce um trabalho magnífico na defesa da Escola Pública e dos direitos da mulher, não só no Congresso Nacional, mas em projetos sociais fora dele.

   Pois bem: Com um perfil ideologicamente esquerdista, ao qual eu nunca neguei mais afinidade, Tábata Amaral votou a favor da Reforma da Previdência encampada pelo atual governo. Não, eu  não sou a favor da reforma, pois a matemática dos políticos, sinceramente, não me convence. Ao meu ver, mais uma vez o povo está pagando caro por fraudes no sistema, inadimplência de ruralistas e grandes empresas. O discurso de que a "Previdência quebrará sem a reforma" ao meu entender, é puro terrorismo para que aceitemos melhor esta barbárie contra população, que temendo algo ainda pior, assiste passivamente a perda dos próprios direitos, tornando exitosa a estratégia dos abutres engravatados. Mas Tábata, seguindo as próprias convicções, votou a favor da reforma, contrariando as recomendações do PDT, que ameaça expulsá-la.

    Erra o PDT, assim como sempre erraram os partidos que expulsam os seus políticos que agem de forma independente como se fossem "dissidentes" ou "desertores". Não por acaso, Tábata já foi assediada pelo tosco PSL e pelo oportunista PSDB, na figura de João Dória.

     Nas redes sociais, ela acumula elogios, mas também muitas críticas: direitistas alertam para que se "tome cuidado com ela", pois é uma política originalmente de esquerda. A esquerda a acusa de traíra. Enfim, a moça parece encontrar-se naquele velho limbo característico dos independentes e que agem conforme com as próprias pernas, e não por orientações.

    Se o papel da mulher na política nacional ainda é secundário, sabotar um nome promissor como Tábata Amaral é um desperdício na luta pela igualdade de gênero não só no Congresso Nacional como na sociedade civil. Ao se concretizar a expulsão do partido, o PDT agirá tal qual o pai autoritário que escorraça a filha de casa pelo simples fato da mesma discordar da opinião do "chefe da família", contrariando o discurso de liberdade, democracia e autonomia.

* O Eldoradense

10 de jul. de 2019

Alfinetada: A incoerência de algumas "pizzarias tradicionais"!




   E hoje é dia da pizza! Este delicioso prato italiano que caiu no gosto dos brasileiros e que pode ser considerado tão ítalo-tupiniquim quanto o  Palmeiras. 

   Lembrei-me de uma pizzaria "tradicional" de Presidente Prudente que não tinha ketchup nas suas mesas, alegando que o bom apreciador do prato deve degustá-lo apenas com azeite de oliva, como manda a "tradição gastronômica"...

 ... Em seguida, no final do rodízio, serviram pizzas de brigadeiro, Romeu e Julieta e banana com canela! Eu bem que poderia contestar o argumento do "ketchup e da tradição", mas seria reclamar "de barriga cheia"...

* O Eldoradense


9 de jul. de 2019

Documentário: "Democracia em vertigem", da Netflix!

 





    Foi na mesa de uma pizzaria em Presidente Epitácio que recebi do amigo Orlando a sugestão para assistir ao documentário "Democracia em Vertigem", na Netflix. Poucos dias depois, a mesma sugestão foi dada via   whatsapp pela minha cunhada Aline. Assisti, e ressalvas à parte, gostei muito do que vi, pois a história política recente do país é retratada sob uma ótica muito parecida à minha.

   É bem verdade que a família da produtora do documentário -Pietra Costa - tem ligações diretas com a família de Lula, mas em suma, ao meu ver, o fato não prejudicou tanto a isenção da obra. Sim, é lógico que é perceptível alguns vícios de partidarismo político, mas nestes casos, é como eu sempre digo: Questione, indague, filtre. Quem assiste ou lê apenas aquilo que lhe convém está fadado à visão unilateral dos fatos, o que não é bom para ampliar horizontes. 

    A minha principal crítica ao documentário é em relação ao título: Na minha opinião, apesar do histórico de bravatas autoritárias do atual presidente, não creio que nossa democracia esteja sofrendo uma vertigem. O que houve foi uma alternância de poder que foi legitimada nas urnas, fruto de um processo de impeachment questionável nos seus métodos, mas não na sua origem. Creio que as instituições do Estado democrático de direito estejam funcionando adequadamente, inclusive colocando o atual presidente no seu devido lugar quando ele resolve adotar suas medidas inconstitucionais, fruto de sua evidente falta de tato e trato com o Congresso Nacional e o STF. 

    Portanto, "Democracia em vertigem", apesar das ressalvas, é uma obra importante para quem quer compreender melhor as manobras do mundo político e dos seus interesses, independente do posicionamento ideológico do espectador. Recomendo.

* O Eldoradense

     

8 de jul. de 2019

Conto: "Um tiro na morte"



     Há mais coisas entre o céu e a terra que a nossa vã filosofia possa imaginar. Pouca gente sabe, mas dentre nós, há pessoas que possuem dons sobrenaturais, dentre os quais, o de ver anjos. O fenômeno é uma dádiva ou carma, dependendo do ponto de vista. E Josué, jovem policial militar, é uma das raras pessoas no mundo que possuem este dom, sendo isso quase lhe rendeu um diagnóstico de esquizofrenia, quando adolescente. Sabendo dos problemas que tais visões lhe acarretariam, guardou o segredo para si. E além de ver anjos, Josué é exímio atirador, destes que a palavra erro não consta em seu vocabulário particular.

     Naquela noite, descansava quase sonolento no sofá. Lembrou-se do dia em que viu uma mulher que trajava uma roupa sensual negra beijando o rosto de sua mãe, adoentada sobre o leito hospitalar. De repente, em menos de minuto, a desconhecida se transformou num vulto, e logo desapareceu. Na sequência, sua mãe deu o último suspiro de vida. Viu a tal mulher em outras oportunidades, beijando outros rostos, que, em seguida, deixavam o plano físico. Concluiu então que a tal mulher de preto era o anjo da morte, e teve um desejo compulsivo de matá-la.

       Neste momento de cólera, ao seu lado, no sofá, apareceu um anjo com semblante irônico, cujo poder de persuasão era turbinado pelos desejos alheios...
          - Boa noite, Josué...
          - Boa noite! O que você quer? Sempre os vejo, mas nunca um de vocês quis se aproximar a ponto de conversar...
         - Sei dos teus desejos. Sei que quer acabar de vez com Etrom, e eu sei como você pode fazer isso!
          - Sabe? Então me diga...
      - Você, além de poder vê-la, tem outro dom: o de atirar muitíssimo bem. Então, lhe dou esta arma prateada com cápsulas de enxofre, mas é preciso que você atire certeiramente em seu coração, e aí, não existirá mais morte sobre a Terra...
        - O tiro, não erro. Só não sei como fazer para encontrá-la, já que ela aparece de surpresa e parece se teletransportar rapidamente, como num passe de mágica...
      - Tenho a lista dos próximos óbitos em sua cidade. Data, local e horário. O resto é contigo... 
           No dia seguinte, com a arma num dos bolsos, Josué dirigiu-se ao quarto 115 da Santa Casa local, onde um amigo estava internado, nas últimas. Era questão de minutos para que Etrom aparecesse com sua maquiagem pálida, roupa negra e beijo fulminante. Não deu outra: Quando ela se materializou em sua frente, empunhou a arma prateada, e a cápsula de enxofre invadiu o seu seio esquerdo, próximo ao coração.

     Viu um pelotão de anjos socorrendo Etrom, e não entendeu nada. Outro pelotão, chamados de "Anjos da consciência" o algemou, levando-o para um lugar ermo, onde o interrogaram com aspereza:

       - Você ficou louco?
       - Eu só quis acabar com a morte na Terra, que mal há nisso?
       - Quem lhe deu aquela arma? Só ela é capaz de matar Etrom, e mesmo assim, é preciso ser com um tiro certeiro no coração....
       - Era um de vocês! Não me disse o nome, mas se distinguia por exalar uma luz púrpura e ofuscante...
       - Idiota! Não conseguiu compreender que se tratava do anjo de luz, o anjo decaído, o príncipe das trevas?
       - Mas não faz sentido! Ele também depende de Etrom para que as almas perdidas sejam encaminhadas para o inferno!
      - O inferno não existe, Josué! E é exatamente por isso que ele queria que você matasse Etrom, o anjo da morte!
    - Me explica, porque eu estou sem entender!
    - Você fez tudo o que o que ele queria! Na ausência da morte, todos viverão, a população do planeta aumentará absurdamente,  haverá escassez de pão e água! Acontecerão guerras intermináveis, sofrimento ainda maior, e o planeta se transformará efetivamente no próprio inferno! Doentes incuráveis padecerão pela eternidade, pois para eles, a morte seria a única possibilidade de cura!
    - Me desculpem, eu nunca havia pensado nisso. Mas agora, já foi...
   - Não, você se engana. Nossa legião de anjos curadores se encarregou de realizar a cirurgia em Etrom, que sofreu um tiro não tão certeiro quanto você imaginava. Em questão de minutos, ela estará curada, e irá te beijar no rosto....
  - Como assim, e por quê?
  - O que você fez, Josué, anteciparia o Apocalipse, mudando o curso natural das coisas. A partir de hoje, você sabe demais. E para o bem de tudo e de todos, você precisa morrer. Está sentenciado à pena de morte!
  - Não! Não é justo...
  Etrom então veio, escoltada por outros anjos, mais forte e vigorosa que antes. Não trazia no semblante ar de vingança, pelo contrário, parecia piedosa, porém, ciente da sua missão. Aproximou-se e abriu os lábios com o intuito de dar o beijo em Josué, que gritava desesperadamente...
   ... Foi quando o policial militar acordou sobre o sofá, com a farda amassada e o suor gelado brotando em bicas na testa. Atordoado com aquele pesadelo, dirigiu-se a cama, e entendeu que a morte, de certa forma, é cura e purificação. Só então entendeu que através dela, almas evoluem e nunca morrem...

* O Eldoradense

4 de jul. de 2019

Comentário sobre a final da "glamourosa" Copa América...





    Se o dito popular diz que o peru morre na véspera, é fato que a seleção do Peru, apesar de todos aqueles discursos cautelosos do futebol, provavelmente servirá de banquete para uma seleção brasileira que não é boa, mas teve adversários piores que ela. E sabem qual é o problema de enfrentar um oponente tão inexpressivo numa final? É exatamente a obrigatoriedade em ganhar: Se o Brasil for campeão, não fez mais que a lição de casa, mas se perder, protagonizará um vexame tão ridículo quanto chamar um bêbado para a briga e apanhar do sujeito...


* O Eldoradense

3 de jul. de 2019

"Livro ata"





   Ata de reunião com amigos da época do colegial e suas respectivas esposas ocorrido em 02/07/2019, às 20:30h, no Siriu's Bar. Consumo: Três Beirutes de Kafta,  outros três de frango, uma Skol, três sucos de laranja e dois de abacaxi com hortelã adicionados com leite condensado. Total: Não lembro. Cada um pagou o seu.

   A referida reunião foi combinada via whatsapp no fim da tarde de ontem, sendo que até então ninguém havia chegado a um consenso sobre o local e a hora. Depois de chegar do treino de bicicleta, forças ocultas me sugeriram que eu escolhesse o Siriu's Bar, proposta aceita pelos demais, sendo que o horário ficou pré-estabelecido para às 20:30h. Cheguei com antecedência, feito mineiro que vai embarcar na Maria-Fumaça disposto a encher o saco. Depois chegou o Givanildo, cuja esposa é a Simone e o chama de Leandro; (Eu juro que não entendo porque ela o chama pelo segundo nome).

   Meu amigo policial militar estava demorando a chegar, e o Givanildo queria mandar mensagem para apressá-lo. Eu disse que não, que esperaríamos, que não precisaríamos de aparelho celular. Em seguida, pedi para a Simone solicitar a senha do Wi-Fi. 

   - Mas não era pra ficar sem celular ? - Disse Givanildo

   - É para ficar conectado, mas só por precaução - respondi

   Meu amigo policial militar chegou, com a esposa, Fátima. Nos cumprimentamos e fizemos os pedidos. Eles queriam porque queriam usar um dispositivo sobre  a mesa que chamava a atendente através de uma campainha. Eu disse que não, que chamaríamos a atendente à moda antiga, levantando a mão...

    - Mas por que isso? - Perguntou a Fátima

    - Porque eu sou tímido - respondi

   - Não é uma incoerência ser tímido e chamar a atendente levantando a mão? - Perguntou Givanildo

     -É! Mas do jeito antigo tem mais calor humano, olhos nos olhos - argumentei

    Olhares surpresos na mesa. Não liguei. Enfim, chegaram os sucos, uma cerveja e seis Beirutes. Comentaram sobre a ausência do Kiko e a esposa, que não puderam vir porque ela ainda não havia chegado do trabalho. Em seguida, alguém mencionou que Beirute era o nome de uma cidade.

    - Capital do Líbano, respondi. No final da década de 80 explodiam vários carros-bomba lá...

      - Estranho o nome de uma cidade em um lanche, né? - Disse Fátima.

      - Uai, não tem o Bauru? - argumentei...

      Fátima disse que Bauru era um lanche sem graça, com ingredientes comuns, com muçarela, presunto e tomates. Eu disse que a receita original, na verdade, é composta de pão francês, rosbife, queijo derretido e pepinos.

     - Sério? Perguntou Fátima

     - Sério. Um advogado em São Paulo pedia direto este lanche, e apelidaram tanto o quitute quando o cara de "Bauru", porque ele era de Bauru - respondi

     - Nossa, e como chegou ao Brasil? (Fátima, em uma indagação pra lá de infeliz, mas acho que foi lapso ou cansaço, porque ela é inteligente)

       - Não é por nada, mas tanto São Paulo, quanto Bauru, já ficam no Brasil - respondi.

        Risadas na mesa. Fátima se desculpou alegando estafa, mas eu acho que não é de se desprezar a possibilidade da Skol fazendo efeito. Perguntaram se minha camiseta vermelha e a barba era alguma apologia política, e eu disse que não. A camiseta foi a primeira que encontrei no cabide, e a barba, faz tempo que estou usando. Me chamaram de petista e eu disse que não, que apesar de esquerdista, não sou necessariamente petista.

      - Givanildo, o que você está achando do Bolsonaro? - perguntei

           - Uma lástima, fraco pra caramba! Votei nele no segundo turno porque não queria votar no PT, mas não sei o que aquele cara está fazendo lá - respondeu Givanildo, (dono de sorveteria e bancário em Londrina)

       - Eu acho ele um débil mental! - provoquei

       Olhares de repreensão descontraída de Fátima e do meu amigo PM. Nicoly, filha deles, não ouvia nada, hipnotizada pelo celular.

         - Tá vendo, petista!? - disse meu amigo PM

        Não quis prosseguir na argumentação. Em seguida, Givanildo perguntou se meu amigo PM estava trabalhando na rua ou na administração. Ele respondeu que estava fazendo escoltas.

         - De bandidos? - perguntou Givanildo

      Encolhi os ombros e olhei para o autor da pergunta, contrariado com a obviedade.

        - Ah, pode ser escolta de autoridades! - prosseguiu o sorveteiro/bancário

           - Sim, desculpa, você está certo - concordei

          - Não! Aqui em Venceslau não tem tantas autoridades pra escoltar, e este tipo de serviço é feito pela ROTA- disse meu amigo PM

          - Ha ha ha, retiro meu pedido de desculpas! - ironizei

       Queriam fazer novos pedidos, utilizando o botão do dispositivo sobre a mesa. Proibi. Peguei o dispositivo e coloquei sob minha guarda, contrariando os demais. Entraram num assunto de Transtorno Obsessivo e Compulsivo, além de consumismo. Fátima disse que já teve duzentos pares de sapatos, e o marido confirmou. Em seguida, ela pediu o dispositivo de chamada, que também possuía guardanapos. Eu disse que só poderia usar guardanapos, mas que estavam impedidos de apertar o botão para chamar a atendente.

       - Cara, você tem problema! - disse ela

      - Ah! Falou a mulher que teve duzentos pares de sapatos! - Foi a melhor contra argumentação que me veio na cabeça.

        A reunião seguiu em tom descontraído, onde ainda falamos de educação de crianças, pressão arterial e colesterol, quando posteriormente brindamos a decadência após os 40. Na hora de fechar a conta, queriam novamente apertar o botão do dispositivo, feito criancinhas. Obviamente, não deixei. Fomos até o balcão e pagamos a fatura.


      Na saída, alguém me disse...


      - Cara, você é muito chato!!!


      - Que bom ouvir isso, eu disse. Quando estou chato, é porque estou melhorando!


       Demos risadas e cada um seguiu seu rumo. Grato aos meus amigos pela reunião. Fim desta página do livro ata.


* O Eldoradense

2 de jul. de 2019

"Bolsonaro traidor", gritaram os policiais no salão verde da Câmara...

  Caro leitor, assista ao vídeo abaixo...





    Pois bem: As categorias policiais e de segurança, que tanto prestigiaram Jair Bolsonaro em sua campanha presidencial, parecem ter sofrido um duro golpe do "Messias" no que diz respeito à Reforma da Previdência. Sim, ao que tudo indica o governo recuou mais uma vez e não vai acatar as ressalvas inerentes às forças policiais no texto da Reforma Previdenciária, e isso gerou um grande descontentamento da categoria, que sentiu-se "traída" pelo presidente. Sinceramente, isso não me surpreende, pois o "fala e desfala" é a marca registrada deste governo, uma verdadeira "Metamorfose ambulante". Mas as esperanças das forças de segurança precisam ser mantidas, pois não é de se duvidar que o presidente "recue do próprio recuo", afinal, em se tratando de Bolsonaro, tudo é possível...

* O Eldoradense

1 de jul. de 2019

Comentário: Super Moro???

  Dizem que em terra de cego, quem tem um olho, é rei. E eu diria que em terra de vilões, quem cumpre a obrigação, mesmo que utilizando-se de métodos pra lá de questionáveis, se torna herói. Particularmente eu acho o fenômeno um exagero tão desproporcional quanto uma elefanta prenha de quadrigêmeos, mas fazer o quê, né?

  A verdade é que esta "personificação heroica" é típica de sociedades decadentes, algo bem "terceiro -mundista", onde a carência de boas referências acarreta o surgimento de mártires. Isso não sou eu quem estou dizendo, basta uma pesquisa mais apurada no campo da sociologia para que sejam compreendidos o surgimentos de "ritos" e "mitos" nestes ambientes. A novela "Roque Santeiro" explorou de forma brilhante a temática, quando foi ao ar, no distante ano de 1985: O padroeiro da cidade de "Asa Branca", não era tão santo assim, mas enfim, alguém precisava ser antagonista ao  bandido "Navalhada", lembram?

     Pois é assim que eu vejo a transformação caricata de Sérgio Moro em herói. Ela é fruto da nossa carência, da nossa vilania disseminada, e o juiz que cumpriu sua missão através de métodos duvidosos, hoje é o mártir da vez. Assim como ontem foram mártires tantas outros personagens que a história tratou de desmitificar ao longo do tempo. Enfim, se todo "Super-Homem" tem sua Kryptonita, eu diria que o "Super-Moro" também tem a sua...  * Para visualizar a imagem em tamanho original, clique sobre a mesma.



* O Eldoradense 

Comentário: "O tio França foi uma vítima"

    Ontem à noite, em Brasília, aconteceu o que penso ser o ápice do delírio Bolsonarista: Um homem trouxe explosivos em seu próprio corpo, ...