24 de set. de 2020

Conto: "O rábula do Bolsonaro" (Ficção)

 



      Às vezes é muito difícil interpretar as manifestações subconscientes que acontecem durante o sono, seja através dos sonhos ou pesadelos. Algumas coisas possuem nexo, e outras, são muito absurdas, a ponto de causar risos na hora de lavar o rosto e escovar os dentes. Noite dessas tive um destes pesadelos confusos, mirabolantes, inusitados.

      Era um dia de semana normal, e eu entro nas redes sociais e de cara, escrevo uma hashtag: #Bolsonaro tem razão! Mito. Critico a Globolixo em uma postagem, digo que a mídia está forjando dados da COVID em outro, e minimizo os danos ao meio ambiente numa terceira. Coloco uma camiseta surrada da seleção brasileira e vou pra casa da minha mãe almoçar.

        Na mesa estão meu padrasto, minha mãe e meu irmão. O cardápio era estranho: Uma porção de coxinhas. Devoro-as com gosto, mas pergunto se não tem arroz. Minha mãe justifica dizendo que o preço do arroz tá pela hora da morte, e eu argumento usando um discurso que não é meu:

       "Também, o STF e o PT impossibilitaram os arrozeiros de plantar lá em Roraima para beneficiar aqueles índios! É claro que o arroz ficou caro!

         Silêncio na mesa. Pegando mais uma coxinha, observo que só tem de frango. Pergunto por qual motivo não tem coxinha de carne. Minha mãe disse que tá economizando com carne, que também está cara. Eu digo que logo vai abaixar o preço, pois os pecuaristas agora vão poder produzir em paz na Amazônia e no Pantanal.

            O pessoal na mesa estranha. Acham que eu estou com febre causada por COVID. Eu digo que não, que esse vírus é politicagem, e que mesmo que ele me atinja, eu tenho histórico de atleta, por pedalar vinte quilômetros por dia. Além disso, já havia conseguido uma receita de Cloroquina e Ivermectina, por precaução.  Meu irmão vai mais além: Diz que eu estou possuído pelo espírito de um Bolsonarista. Ele pega o celular e manda um whatsapp para o padre de Artur Nogueira, aquele que chamou o presidente de bandido no meio da missa. O homem de batina aparece em menos de cinco minutos, põe as duas mãos sobre minha cabeça e começa a me exorcizar...

 

         Volto a mim. Não entendo nada o que está acontecendo, e pergunto aos demais o que se passou. Meu irmão disse que eu havia incorporado um espírito de porco, ou melhor, espírito de gado. Disse que eu havia me tornado por algumas horas, rábula do Bolsonaro.

          Respondo: Rábula do Bozo? Teu rabo! 

          Ele olha para o padre e agradece: Obrigado... Meu irmão voltou ao normal!


* O Eldoradense

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