10 de dez. de 2019

Comentário: 30 anos morando no Jardim Eldorado!






  Eldorado
substantivo masculino
  1. 1.
    cidade ou país fictício que exploradores do século XVI afirmavam existir na América do Sul ☞ inicial maiúscula.
  2. 2.local pródigo em riquezas
     e oportunidades.



   Dez de dezembro de 1989, uma manhã nublada de domingo. Meu avô Floriano parou o seu caminhão Dodge vermelho em frente a uma das inúmeras casinhas populares recém construídas em um bairro sem qualquer infraestrutura, distante de quase tudo em Presidente Venceslau. Era a mudança da minha família para um conjunto habitacional. Encravado em um fundo de vale isolado da área urbana, o Jardim Eldorado parecia um apêndice minúsculo de uma cidade pequena. Três ruas de várias residências diminutas iguais que se diferenciavam apenas por uma sequência de quatro cores de janelas e beirais: Verde, azul, bege e cinza. 

    Somava-se a este novo conjunto habitacional praticamente vazio, um outro, composto de casas geminadas. Este sim, já ocupado há algum tempo. Um precário campinho de futebol também fazia parte daquele minúsculo cenário urbano ilhado em área rural. 

         A mobília desceu do caminhão pelas nossas mãos e de alguns outros parentes, a maioria, primos adolescentes, que nos auxiliaram. Naquele momento, começava uma história particular, iniciada pelo sonho da casa própria. Fomos uns dos primeiros a realizarmos a mudança, ávidos para sair urgentemente do aluguel, mesmo tendo a consciência de que o financiamento de vinte e cinco anos seria uma longa jornada que estava apenas começando. 

       Sonho este que tivera muitos percalços: enchentes, ruas enlameadas, distância do trabalho para os meus pais, e para nós, dos estudos. Rede de água e energia elétrica era tudo o que se tinha, na época. Enquanto a rede de esgoto não era construída, cada morador foi obrigado a construir uma fossa séptica em seu próprio quintal. Eu estudava no colégio Alfredo Marcondes Cabral, e até chegar no Jardim Europa, era preciso atravessar um pasto relativamente grande, geralmente povoado por bois e vacas que nem sempre estavam de bom humor. Outros meninos  relatavam algumas "perseguições bovinas" neste lugar, também conhecidas por "carreirões". Não sei se condiziam com a realidade ou eram exagero, mas muita gente já sabia de cor quais eram as vacas bravas e as inofensivas naquele pasto, que hoje é chamado de Residencial Azenha. 


    Aqueles dissabores da época, com certeza serviram para nos fortalecer e valorizar o que buscamos: aquela casinha pequena, distante, mas que pagaríamos para ser nossa. E o que aconteceu depois foi uma identificação gigantesca com o lugar. Aos poucos, vieram as guias e sarjetas, a pavimentação asfáltica, a escola e o Postinho de saúde. Tudo acontecendo de forma um tanto quanto morosa, exigindo paciência, mas tornando prazerosa cada conquista, cada obra de infraestrutura que agregava valor ao bairro. Bairro este que foi se tornando mais populoso, mais compacto. E foi nesta história de identificação pelo lugar que acabei comprando ali também a minha própria casa, e muito posteriormente, criando um personagem, que não por acaso, se utiliza do pseudônimo "O Eldoradense".

     Muitas vezes, eu e meu irmão nos deparamos relembrando aquele 10 de dezembro de 1989, que teve muito significado para nossa família. E a partir daí, relembramos sempre as amizades, as histórias,  os revezes e  as vitórias. Enfim, já são 30 anos neste lugar, sendo que eu tenho 42 vividos.  O nosso Eldorado não é o lugar fictício, cheio de riquezas materiais, como na definição do início da postagem. É sim, um lugar real, rico em histórias, companheirismo e identidade. E sinceramente, não há tesouro mais valioso que estes valores. Além disso, o bairro significou sim, para muita gente, ser um lugar de oportunidades: a oportunidade de morar na casa própria. E termino o post com uma frase bem clichê... Parece que foi ontem! 


* O Eldoradense

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentário: "O tio França foi uma vítima"

    Ontem à noite, em Brasília, aconteceu o que penso ser o ápice do delírio Bolsonarista: Um homem trouxe explosivos em seu próprio corpo, ...