"Deus salve a América do sul" - Trecho da música interpretada por Ney Matogrosso, composição de Paulo Machado
Manifestações no Chile causadas pela desigualdade social. Na vizinha Bolívia, Evo Morales renuncia após um processo eleitoral fraudulento, no qual buscava o quarto mandato sucessivo. Um descalabro, uma afronta aos princípios democráticos que prezam pela alternância de poder. Na Venezuela, Nicolás Maduro mantém sua ditadura bolivariana herdada por Hugo Chávez, pouco se importando com o estado de miséria absoluta vivenciado pelo seu povo. O Equador também testemunhou dias turbulentos, de grande instabilidade política. "Descendo mais um pouquinho" o mapa, o presidente do Brasil e o presidente eleito da Argentina trocaram recentes farpas desnecessárias, como se todos os problemas existentes nesta porção do continente americano já não fossem suficientes.
A verdade é que a América do Sul é um turbilhão em constante efervescência política, desde o momento em que os colonizadores europeus pisaram os pés por estas paragens. Fenômenos como a dizimação dos povos indígenas, as colônias de exploração, a escravidão, os processos conflituosos de independência, as monarquias elitistas, as repúblicas aristocráticas e ditatoriais fizeram com que os povos sul-americanos nunca gozassem da prosperidade característica dos seus irmãos nortistas, (Estados Unidos e Canadá). E às vezes, tenho a sensação de que tal condição nunca virá!
Quando finalmente a democracia foi alcançada, o eterno vilão da corrupção e a herança da mentalidade exploratória sobre o povo deram as cartas, fazendo com que os países submerjam constantemente na areia movediça da pobreza e da desigualdade.
Acrescenta-se ao emaranhado de problemas o latente debate ideológico entre a esquerda e a direita, que já governaram muitos destes países, e historicamente, não foram eficazes em suas respectivas gestões. Isso acontece porque a causa da nossa pobreza não é ideológica, mas sim, cultural. Ambos os lados da polarização discursam em nome do bem coletivo, mas na prática, agem em favor de um pequeno grupo. Enfim, temos esta herança maldita das colônias de exploração, que fez com que um subcontinente com potencial extraordinário não prospere como deveria. Ao contrário: em muitas nações houve retrocesso político, econômico e social.
De Solano Lopez, passando por Pinochet, Chávez, Maduro, Lula e Bolsonaro, nós, sul-americanos, parecemos carecer ainda do velho caudilho populista, seja de direita ou de esquerda: Aquela figura emblemática do "salvador da pátria" que resolverá todos os nossos problemas. Enquanto nosso inconsciente coletivo almejar a prosperidade obtida através das figuras personificadas e não através da mobilização e conscientização política das massas, viveremos neste eterno caos abaixo da Linha do Equador. Deus salve a América do Sul! - já cantava, Ney Matogrosso, num longínquo ano de 1975. Curiosamente, a canção nunca esteve tão atual...
* O Eldoradense
Nenhum comentário:
Postar um comentário