Amanda estava preocupada. Grávida do
segundo filho, foi alertada pelo seu médico que o hemograma que havia feito
recentemente acusou uma discreta anemia, nada tão grave. Mas mãe é mãe, e isso
já foi o suficiente para que ficasse ansiosa. E sempre quando ela se encontrava
neste estado, achava uma solução paliativa: comprar algo. Era um consumismo
tolo, canalizado por qualquer instabilidade emocional, como se o cartão de
crédito fosse seu antidepressivo.
Passou em um destes hipermercados e
resolveu que precisava comprar beterrabas para fazer suco, com o intuito de
combater a anemia. Encasquetou que também precisava de um liquidificador novo,
já que os outros três que tinha em casa, pareciam obsoletos. Comprou o mais
caro da prateleira, pois o mesmo estava em liquidação.
Em seguida, foi à escola, pegou o filho e
guardou o seu Ônix novinho na garagem. Tomou um banho enquanto o menino
admirava o mais novo eletrodoméstico sobre a pia. Lavou os legumes, cortou-os e
bateu no liquidificador que tinha barulho de Ferrari. O filho estava
hipnotizado pelo ritual. Ela retirou o copo da máquina, e quando ia colocar o suco na
jarra, o telefone tocou. Saiu para atender a ligação.
Foram três minutos suficientes para
que o menino curioso tentasse colocar o suco no recipiente, mas suas mãos
infantis, ainda sem maturidade na coordenação, propiciaram um desastre. O copo
de acrílico estava quebrado no chão, enquanto o corpo do menino estava todo
avermelhado, ensopado de suco de beterraba. A criança chorava compulsivamente,
num pranto que mesclava culpa e medo. A mãe, então, tentou acalmar o menino...
- Chora não, filho! Foi um
acidente....
- Mas mãe... o liquidificador era
novinho!
- Não fica assim não! Mamãe tem outros
três em casa...
* O Eldoradense
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