"Preguiçosa mente!"
Diana sempre foi independente, e
isso facilitou bem as coisas com relação ao seu divórcio recente. Depois de
algum diálogo e os "pingos nos is", cada um foi para o seu canto,
decisão que ficou menos dolorosa por conta da ausência de filhos. Ela continuou
na casa alugada no bairro de classe média, e ele, voltou para a casa dos
pais. Porém, Diana queria aproveitar um
pouco mais a liberdade conquistada, e mesmo não sendo fã dos exercícios físicos,
matriculou-se na academia. Faria seus treinos de manhã, antes do expediente no
hospital em que trabalhava como enfermeira-chefe. No espelho, via-se um pouco
acima do peso, e isto, de certa forma, lhe incomodava.
Na noite anterior ao primeiro dia
"fitness" dormiu com um pensamento dúbio, sem relaxar. Ao mesmo tempo que queria vivenciar uma
rotina mais saudável, sentia preguiça em começar. O despertador tocou naquela
manhã de sexta-feira, e ela colocou seus trajes esportivos. Na hora de entrar
no carro, a decepção. O pneu do veículo estava murcho, diferente dos pneuzinhos
do seu corpo.
Apesar da independência, ela não sabia
trocar pneus. Ligou para um borracheiro que fazia serviços em domicílio, que
constatou que não havia furo algum. O pneu só estava murcho mesmo. Porém não
havia mais tempo de ir para a academia, que ficaria para o outro dia.
No sábado de manhã, o mesmo ritual.
Despertador tocando, roupa esportiva, chave na porta do carro, e... pneu
murcho! Que decepção! Mas Diana sabia que no fundo no fundo, ela até gostou do
infortúnio, pois a vontade de treinar conflitava com sua preguiça íntima. Novo
telefonema para o borracheiro, desta vez, acompanhado de uma reclamação por um
possível serviço mal feito. Ele analisou, e disse...
"Oh, dona... eu não quero insinuar nada não, mas acho que alguém
anda murchando o pneu do carro da senhora!"
Diana achou aquilo desculpa esfarrapada
de profissional incompetente, até o episódio acontecer de novo, na segunda
feira, pela terceira vez! Depois do expediente, resolveu checar a gravação da
câmera de segurança da garagem de casa, e viu que, durante três madrugadas,
sempre no mesmo horário, uma cena se repetia: uma mulher jovem, de camisola,
chegava perto do pneu do veículo, e com um objeto pontiagudo, retirava-lhe todo o ar.
Assustada e com um copo de refrigerante nas mãos, percebeu que era sonâmbula.
Em uma daquelas coisas complexas do cérebro humano, notou que preguiçosamente se auto-sabotava. Preguiçosa mente!
* O Eldoradense
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