"O semeador de algodão", de Inocêncio Erbella
Grandes pintores estabelecem competente conexão com seu público de admiradores, mesmo nas artes abstratas, pois através da intensidade das cores e dos traços, deixam transparecer suas emoções de forna nítida e explícita, ainda que paradoxalmente, subjetiva. E o que são os escritores, se não grandes pintores da literatura expressando e transmitindo emoções através das palavras e narrativas? Pois é: se meu raciocínio faz algum sentido, Inocêncio Erbella, através da obra "O semeador de algodão", usou Presidente Venceslau como sua própria tela, e nela, personagens envolventes e cativantes desfilaram virtudes, falhas, erros e acertos de uma forma tão hipnótica que o leitor é praticamente "intimado" a devorar o livro no menor tempo possível.
Em uma narrativa que transcende épocas, quem é "Venceslauense da gema" ou mesmo morador desta querida cidade há algum tempo, é guiado às principais vias da urbe pelas décadas de 60 e 70, imaginando o trânsito das charretes e as crianças brincando pelas ruas, quando o tráfego automobilístico ainda não oferecia maiores riscos.
Não dá para evitar os paralelos dos personagens da ficção com alguns nomes que ajudaram na formação espacial e social de nossa comunidade, bem como não dá para não se comover com as autocríticas do prefeito "Ascêncio", analisando seus possíveis equívocos e abundantes acertos durante a vida pública. Nota-se que o prefeito foi e continua sendo um homem de vanguarda, refletindo com bastante sensatez e coerência questões como o machismo, a homossexualidade, as injustiças sociais, e seu apego quase que obsessivo pela democracia e o sufrágio universal. Católico, destacou a importância da laicidade na vida pública, mesmo não abrindo mão dos valores cristãos no seu íntimo.
Recheando e incrementando paralelamente a obra, destaco a saga heroica de um semeador de algodão, predestinado a conseguir seu próprio pedaço de terra às custas de suor e muito trabalho, e, adjacentes à trama, algumas outras subtramas que se encaixam tal qual perfeita engrenagem, conquistando os apaixonados pela boa leitura. Enfim: o livro é uma pintura literária capaz de levar o leitor a uma surpreendente viagem no tempo, e principalmente, promovendo reflexões relevantes sobre assuntos como hipocrisia e preconceitos. Concluo dizendo, na minha modesta opinião, que Presidente Venceslau foi genialmente desenhada em uma belíssima tela retrô, porém, de forma simultaneamente atual.
* O Eldoradense
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