22 de jun. de 2017

Livro: "O semeador de algodão", de Inocêncio Erbella



"O semeador de algodão", de Inocêncio Erbella

  Grandes pintores estabelecem competente conexão com seu público de admiradores, mesmo nas artes abstratas, pois através da intensidade das cores e dos traços, deixam transparecer suas emoções de forna nítida e explícita, ainda que paradoxalmente, subjetiva. E o que são os escritores, se não grandes pintores da literatura expressando e transmitindo emoções através das palavras e narrativas? Pois é: se meu raciocínio faz algum sentido, Inocêncio Erbella, através da obra "O semeador de algodão", usou Presidente Venceslau como sua própria tela, e nela, personagens envolventes e cativantes desfilaram virtudes, falhas, erros e acertos de uma forma tão hipnótica que o leitor é praticamente "intimado" a devorar o livro no menor tempo possível.

   Em uma narrativa que transcende épocas, quem é "Venceslauense da gema" ou mesmo morador desta querida cidade há algum tempo, é guiado às principais vias da urbe pelas décadas de 60 e 70, imaginando o trânsito das charretes e as crianças brincando pelas ruas, quando o tráfego automobilístico ainda não oferecia maiores riscos.

    Não dá para evitar os paralelos dos personagens da ficção com alguns nomes que ajudaram na formação espacial e social de nossa comunidade, bem como não dá para não se comover com as autocríticas do prefeito "Ascêncio", analisando seus possíveis equívocos e abundantes acertos durante a vida pública. Nota-se que o prefeito foi e continua sendo  um homem de vanguarda, refletindo com bastante sensatez e coerência questões como o machismo, a homossexualidade, as injustiças sociais, e seu apego quase que obsessivo pela democracia e o sufrágio universal. Católico, destacou a importância da laicidade na vida pública, mesmo não abrindo mão dos valores cristãos no seu íntimo.

    Recheando e incrementando paralelamente a obra, destaco a saga heroica de um semeador de algodão, predestinado a conseguir seu próprio pedaço de terra às custas de suor e muito trabalho, e, adjacentes à trama, algumas outras subtramas que se encaixam tal qual perfeita engrenagem, conquistando os apaixonados pela boa leitura. Enfim: o livro é uma pintura literária capaz de levar o leitor a uma surpreendente viagem no tempo, e principalmente, promovendo reflexões relevantes sobre assuntos como hipocrisia e preconceitos. Concluo dizendo, na minha modesta opinião, que Presidente Venceslau foi genialmente desenhada em uma belíssima tela retrô, porém, de forma simultaneamente atual.

                                         * O Eldoradense 


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