"O presente de Sophya"
O
mundo está ficando cada vez mais complicado. Qualquer coisa que era bem mais
fácil ontem vem ganhando ares mais complexos, cheios de questionamentos e
dúvidas. Percebi isso no último sábado, ao tentar realizar uma simples compra
de presente de aniversário para a filha de um primo. Sophya é o nome dela, que
só para complicar, tem "phy" no meio. As Sofias de ontem não tinham
"phy" na certidão de nascimento, mas em contrapartida, as Sofias de
ontem não eram tão graciosas quanto a minha priminha. Porém, não é esta pequena
complicação que motiva o texto que escrevo. É um complicação de maior magnitude,
bem mais justa.
A
festa de aniversário de Sophya foi marcada para o dia 11 de março, três dias
após o Dia Internacional da Mulher. Três dias após eu ter lido um texto que
falava sobre a influência dos brinquedos dados aos meninos e meninas durante a
infância, que supostamente condicionam suas atividades no futuro. O texto fazia
com que o sujeito que comprasse uma boneca ou uma miniatura de joguinho de
panelas a uma menina refletisse sobre o machismo velado em sua atitude. Para
ajudar, o Presidente da República havia feito um discurso sutilmente sexista ao
"homenagear" as mulheres, dizendo que elas são "termômetros da
economia", pois são as primeiras a manifestar descontentamento com os
preços nos "supermercados". Fiquei remoendo isso, tentando exorcizar
qualquer resquício de machismo do meu ser.
Fui
até a loja de presentes. Nas prateleiras, muitos mimos na cor Pink remetendo
meninas às possíveis atividades predominantemente femininas: kits de beleza,
bonecas e até miniaturas de compras de supermercado. Peguei o último item e
abordei uma mulher que, apesar da vestimenta simples, transparecia bom nível
cultural. Perguntei-lhe se dar aquilo de presente seria uma atitude machista.
Ela lançou olhar com ar inquisitório, e me disse um "claro que sim"
em tom ríspido. Sim, elas estão mais engajadas na árdua luta pela igualdade de
direitos.
Devolvi as miniaturas de compras de supermercado às prateleiras, e
acabei comprando um bonito carrinho conversível na cor Pink. Acho que rompi
parcialmente com o suposto machismo, pois apesar de ter comprado um carrinho,
fiquei preso ao tirano padrão cromático rosa-choque para as meninas. Mas
convenhamos, já foi uma quebra de tabu.
É
neste mundo complicado que a Sophya com phy no meio do nome vai buscar seu
espaço, lutar por dignidade e igualdade de direitos. Levando-se em consideração
a garra e a predestinação das mulheres, com certeza, ela alcançará seus
objetivos. Mas ainda assim, não será fácil, pois o mundo está complicado, e a
vida, de fato, não é nada cor-de-rosa...
* O Eldoradense
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