27 de nov. de 2020

"Adeus, padrinho"...

 



    Ontem foi mais um daqueles dias tristes. Perdi alguém pelo qual tenho gratidão desde os primeiros dias de vida: Assim que nasci, um casal foi até a nossa casa para buscar minha mãe e eu e oferecer-nos os cuidados necessários enquanto meu pai trabalhava. Essas pessoas eram o "Seu Pedro e Dona Alfredina". Ele, meu tio, irmão do meu pai, e ela, sua esposa e companheira de tantos anos. Não por acaso, e externando o agradecimento pelo gesto amoroso e voluntário, meus pais me ofereceram a este casal em batismo religioso. 

       Pois ontem, o meu padrinho se foi, depois de uma luta sofrida de dois anos contra as sequelas de um AVC, que o deixou acamado. Foi morar com Deus deixando muitas saudades a todos os familiares, dentre eles - e principalmente - esposa, filhos e netos. Quando recebi a notícia, o primeiro pensamento que me veio em mente foi o de conforto, pois aquela luta prolongada, obviamente, estava o fazendo sofrer. Mas depois, vem o tal "filme na cabeça", as lembranças boas que trazem saudades, e ao mesmo tempo, chateação por mais um lindo ciclo encerrado na vida terrena e iniciado no plano celestial.

      E nestas lembranças, é inevitável recordar do olhar distraído, sereno, do coração puro, bom, quase ingênuo. Fica difícil não dar um sorriso de canto de boca ao lembrar da voz grossa contando piadas singelas e repetitivas, que nos faziam rir mais pela simplicidade do que pela piada propriamente dita. Emotivo, das poucas vezes que o vi pegar no violão - que tocava muito bem, por sinal - também o presenciei chorar. Provavelmente nestas lágrimas estavam contidas a saudade da vida no sítio com os meus avós, e certamente, a perda do filho primogênito em um afogamento. Falava pouco no assunto, mas no olhar distraído e melancólico, havia esta mácula. Era nitidamente perceptível.

       Teve outras duas filhas de sangue e um caçula, de coração, ao qual tratou sem distinção alguma. Tanto é que só anos mais tarde que fui saber disso. Alma nobre, esposo dedicado que tratava a companheira com devoção, cavalheiro nato, numa reverência quase que servil, paparicando com muito amor a minha madrinha. Casamento de longos setenta anos, o tipo de união conjugal sólida e rara de se ver atualmente.  Da vida material, recordo muito pouco do armazém de secos e molhados que empreendeu na Avenida Tiradentes, mas lembro com muita admiração do Jeep que ele teve por alguns anos na garagem. Eu achava aquele carro o máximo!

           Está agora, com certeza no reino dos céus. Ficam registradas a gratidão, a admiração e a saudade. E para finalizar a homenagem, conto uma história descontraída, ocorrida em 2001, numa reunião em família no período de carnaval, em Rosana. 

              Juntamos nossa família e fomos passar alguns dias na casa de um primo, o Adálio, em Primavera. Quando foi à tarde, depois do almoço, resolvemos descer em caravana até Rosana e passar o dia na prainha às margens do Rio Paraná. O seu Pedro e a dona Alfredina foram no carro do genro e da filha, o Cido e a Idenilce. Chegando lá, todo mundo entrou na água, menos o meu padrinho, que estava trajando roupas sociais: sapato, calça e camisa. A esta altura do campeonato, ele já era um senhor de 71 anos, e talvez não se sentisse bem com trajes de banho.  Pois bem: Depois de algum tempo, meu padrinho não resistiu e entrou nas águas do Rio Paraná mesmo com aquela roupa formal.

            Foi quando um dos meus primos, o Armando, com um humor bastante aguçado e inteligente, gritou, dando uma gargalhada:

               "Ê, tio Pedro, agora sim! Só tá faltando o celular e o talão de cheques!"

                  E assim prosseguiu o padrinho, mergulhando o corpo no rio sem qualquer pudor ou constrangimento, retribuindo a piada do sobrinho com um sorriso puro e ingênuo, refletindo a personalidade da sua alma...


                             Luiz Fernando, 27/11/20 - em homenagem

         

2 comentários:

  1. Triste perdeu quem amamos , fica um vazio por dentro

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  2. Anônimo13:10

    Eu sofro de ansiedade ! E sim, ela dói...e muito ��
    Sim, ansiedade dói !
    Dói quando seu coração acelera, a ponto de faltar ar nos seus pulmões.
    Dói quando seu emocional está descontrolado, mais você tem que aguentar firme pra não te acharem a "louca".
    Dói quando seu estômago vira do avesso, porque seu corpo pede por um segundo de paz.
    Dói quando vc realmente tá cansada de sentir todos os dias a mesma coisa e nem com remédios você se acalma.
    Dói quando sua pele arrepia, porque sentiu mais uma palpitação no coração.
    Dói quando pés e mãos estão gelados e ao mesmo tempo suando.
    Dói quando memórias e hipóteses de coisas ruim vem na sua mente.
    Dói quando vem cobranças e mais cobranças de você mesma.
    Dói porque tudo é questão de desespero, porque você sente tudo a flor da pele.
    Dói quando seu coração acelera, a ponto de ficar cansada. Dói porque até sua gengiva fica dolorida.
    Dói quando vc luta com seu próprio emocional pra poder dormir, por conta de um ocorrido.
    Dói porque vc tenta aliviar balançando as pernas ou simplesmente criando calos nas mãos de tanto tentar aliviar essa tensão toda de alguma forma. Dói porque você simplesmente nunca tem descanso.
    Dói quando seu corpo quer apenas um minuto de paz, mas sempre está em constante cobranças e medos.
    Ansiedade faz seu corpo todo sentir dores. E por mais que tente explicar o que realmente é essa tal "frescura" nunca vou conseguir colocar em palavras o que é ter ansiedade e viver com isso, literalmente todas as horas da sua vida !!Vulcão.

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