Em 2002, eu diria que praticamente quase tudo havia dado certo em minha vida: O PSDB perdeu a eleição presidencial, a Seleção Brasileira havia se tornado pentacampeã mundial e, com 25 anos, eu comprei a minha própria casa. Lembro-me que em meu íntimo, pensava: Só falta o Santos ser campeão!
A "cereja do bolo" para finalizar um ano tão bom seria algo inusitado, já que o Santos não comemorava um título relevante havia 18 anos. Neste meio tempo eu tive que aguentar muitas brincadeiras de amigos, desde o Ensino Fundamental até à Faculdade. Eu era o cara "diferentão" que torcia para um time que não conquistava títulos e que quase ninguém torcia. Mas sinceramente: se eu ligasse para o que os outros pensassem, eu não seria eu...
O Santos chegara a fase de "mata-mata" como oitavo colocado no Campeonato Brasileiro daquele ano, tendo que reverter vantagens do início ao fim. São Paulo e Grêmio já haviam sucumbido ante o futebol irreverente dos "Meninos da Vila". Restava triunfar diante do bom time do Corinthians, comandado por Parreira. Um grupo de moleques despretensiosos e audaciosos enfrentando um clube acostumado a vencer. Aparentemente, uma luta de Davi contra Golias.
Naquele 15 de dezembro de 2002, eu lembro que em minha casa, havia um clima de euforia. O Santos havia vencido o Corinthians no primeiro jogo da decisão, podendo perder por um a zero, no segundo. Dificilmente pensávamos no pior, mesmo que um ano antes, na semifinal do Campeonato Paulista, o Corinthians havia nos eliminado no último minuto, com um gol do Ricardinho.
Acordamos o jogo, almoçamos o jogo, respiramos o jogo. Até que, às dezesseis horas, a partida começou: intensa, épica, dramática.
Fábio Costa pegou tudo e mais um pouco. Diego foi substituído no início da partida, sendo trocado pelo experiente Robert. E o Robinho? Ah, o Robinho! Só não fez chover naquele dia! Suas pedaladas ágeis fizeram o zagueiro corintiano Rogério recuar até o interior da área, e perplexo, derrubar o atacante santista em um pênalti indiscutível. Bola na cal, e posteriormente, no fundo das redes do bom goleiro Doni. O Santos, naquele momento, poderia tomar até dois gols que ainda levantaria a taça. No sofá da sala, eu, meu pai, minha mãe e meu irmão nos olhávamos confiantes. Em seguida, meu irmão foi trabalhar na agência de passagens de ônibus, deixando-nos.
Posteriormente, eu quem tive que sair para trabalhar. Domingo de plantão, para aumentar a dramaticidade. Chegando no serviço, a notícia do empate corintiano. Já no meu posto de trabalho, onde havia uma televisão, diante de um colega santista e outros dois corintianos, aconteceu o segundo gol do rival. Passou tudo pela minha cabeça: a derrota no ano anterior, bem como a superstição de que a família não deveria ter se separado, nem mesmo por motivos profissionais...
Mas era 2002, e tudo havia dado certo. O ano não poderia ser finalizado de forma tão melancólica. Em jogada pela direita, Robinho rolou para Elano, que empatou o jogo a seis minutos do final. O título, ali, já era questão de tempo. O Morumbi pulsava, quando, em jogada pela esquerda, Robinho serviu Léo, que afundou as redes adversárias como quem dissesse... ACABOU! Santos três, Corinthians dois.
No meu local de trabalho, tentei cumprimentar os colegas corintianos sem sarcasmo. Quando olhei nos olhos do meu outro colega santista, ele percebeu que em meu íntimo, eu estava pensando: Chuuupa! Posteriormente, pensei no meu pai, em casa, e em meu irmão, no trabalho. Tantos anos esperando por aquele momento, e por força das circunstâncias, estávamos separados fisicamente, mas unidos em pensamento. E mais adiante, eu me imaginei em Santos, no meio de uma multidão usando branco, tal qual marujos ou filhos de Iemanjá.
Aquela geração de "Meninos da Vila" retomou a autoestima dos torcedores santistas, salvou o caixa do clube através de transferências milionárias para o futebol europeu fez com que o Santos retomasse o caminho das conquistas. Já não éramos apenas o Santos de Pelé. Éramos o Santos de Pelé, Diego, Robinho, e futuramente, Neymar. E foi assim que, naquele 15 de dezembro de 2002, um Davi ousado venceu Golias, agigantando-se até os dias atuais...
Santos: Campeão Brasileiro de 2002
* O Eldoradense
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Nossa, que ano bom heim?? 2002 também é um dos meus preferidos, rsrsrs mas eu nem lembrava dessa final emocionante!
ResponderExcluirAbraços!!!