16 de dez. de 2015

Conto: "A malabarista e o cigano"



“A malabarista e o cigano”


  Quem conhece a pequena e simpática Presidente Venceslau, sabe que nos altos da Avenida D Pedro ll, próximo ao casarão da família de um dos fundadores da cidade, existe uma área às margens da ferrovia onde volta e meia instalavam-se circos ou acampavam ciganos. Mas tais acontecimentos ocorriam de forma alternada e esporádica, alterando aquele cenário por dias ou semanas. Porém, em um final de ano atípico, circo e ciganos dividiram o mesmo espaço durante os mesmos dias, tornando aquele lugar um verdadeiro condomínio de moradores itinerantes.

    De um lado, trailers, jaulas de animais ferozes e alguns artistas circenses caminhando nos arredores. Do outro, muitas barracas ciganas, onde as mulheres perambulavam com seus vestidos coloridos e brilhantes, e os homens, com suas calças justas e camisas desabotoadas na altura do tórax. O convívio entre os nômades era harmonioso, pois a falta de paradeiro tornava os dois grupos muito semelhantes. Além disso, juntamente com pessoas e moradias improvisadas, carros relativamente velhos  e motores potentes faziam do lugar um estacionamento a céu aberto, onde encontravam-se Caravans, Opalas e até um imponente Landau, com aspecto de ex-limousine. Muita gente transitando com baldes de água potável na cabeça, e no horário das refeições, subia a fumaça com aroma de boa comida.

    E foi durante este período que Raul, um cigano de vinte anos de idade, adentrou o recinto circense para conhecer melhor aquele mundo diferente do seu, mas ao mesmo tempo, tão parecido. Olhou para as arquibancadas vazias, e em seguida, para o picadeiro, onde uma jovem moça de pele morena e cabelos negros executava com bastante concentração a arte do malabarismo. Ela chamava-se Rúbia, filha de um casal de trapezistas bolivianos e que era uma das principais atrações do Grand Circo Riachuelo.

      Os olhares se cruzaram, e tudo indicava que fora um caso de paixão à primeira vista: marcaram um encontro para depois do espetáculo circense, sob uma frondosa árvore próxima à travessia da linha férrea. Fizeram juras de amor, ainda que o Grand Circo Riachuelo rumasse nos próximos dias à Presidente Prudente, e os ciganos, por sua vez, pretendessem acampar posteriormente em Presidente Epitácio, cidades distantes cem quilômetros uma da outra. Os corações de ambos estavam interligados de uma forma tamanha que não tiveram opção: resolveram juntar suas vidas em um casamento informal, com uma festa muito bonita em que dançaram juntos palhaços, trapezistas e cartomantes. Leões e Elefantes testemunharam o matrimônio inusitado emitindo sons selvagens do interior de suas respectivas jaulas.    


     Ao fim daquele período exótico, Raul e Rúbia choraram ao verem suas famílias partirem mundo afora. Envolvidos pelo amor intempestivo que tomou conta dos seus corações, resolveram fixar moradia na acolhedora Presidente Venceslau. Hoje ela faz malabarismos para adequar o orçamento da família aos rendimentos dele, que trabalha como caminhoneiro na destilaria de álcool de uma cidade da região. Moram em uma casa próxima ao terreno onde acamparam circenses e ciganos, sendo que  ambos não planejam ter filhos por enquanto. O amor é assim: fixa, prende e engaiola até mesmo as mais libertas almas itinerantes...
    


* O Eldoradense

2 comentários:

  1. Olá, esta história é fictícia??? se for verdadeira adoraria conhecer os personagens... abraços!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É fictícia, Jane! Os personagens são fruto dos meus pensamentos ociosos. Abraços.

      Ass: O Eldoradense

      Excluir

Comentário: "O tio França foi uma vítima"

    Ontem à noite, em Brasília, aconteceu o que penso ser o ápice do delírio Bolsonarista: Um homem trouxe explosivos em seu próprio corpo, ...