“A malabarista e o cigano”
Quem conhece a pequena e
simpática Presidente Venceslau, sabe que nos altos da Avenida D Pedro ll,
próximo ao casarão da família de um dos fundadores da cidade, existe uma área
às margens da ferrovia onde volta e meia instalavam-se circos ou acampavam
ciganos. Mas tais acontecimentos ocorriam de forma alternada e esporádica,
alterando aquele cenário por dias ou semanas. Porém, em um final de ano
atípico, circo e ciganos dividiram o mesmo espaço durante os mesmos dias, tornando
aquele lugar um verdadeiro condomínio de moradores itinerantes.
De um lado, trailers, jaulas de animais
ferozes e alguns artistas circenses caminhando nos arredores. Do outro, muitas
barracas ciganas, onde as mulheres perambulavam com seus vestidos coloridos e
brilhantes, e os homens, com suas calças justas e camisas desabotoadas na
altura do tórax. O convívio entre os nômades era harmonioso, pois a falta de
paradeiro tornava os dois grupos muito semelhantes. Além disso, juntamente com
pessoas e moradias improvisadas, carros relativamente velhos e motores potentes faziam do lugar um
estacionamento a céu aberto, onde encontravam-se Caravans, Opalas e até um
imponente Landau, com aspecto de ex-limousine. Muita gente transitando com
baldes de água potável na cabeça, e no horário das refeições, subia a fumaça
com aroma de boa comida.
E foi durante este período que Raul, um
cigano de vinte anos de idade, adentrou o recinto circense para conhecer melhor
aquele mundo diferente do seu, mas ao mesmo tempo, tão parecido. Olhou para as
arquibancadas vazias, e em seguida, para o picadeiro, onde uma jovem moça de
pele morena e cabelos negros executava com bastante concentração a arte do
malabarismo. Ela chamava-se Rúbia, filha de um casal de trapezistas bolivianos
e que era uma das principais atrações do Grand Circo Riachuelo.
Os olhares se cruzaram, e tudo indicava
que fora um caso de paixão à primeira vista: marcaram um encontro para depois
do espetáculo circense, sob uma frondosa árvore próxima à travessia da linha
férrea. Fizeram juras de amor, ainda que o Grand Circo Riachuelo rumasse nos
próximos dias à Presidente Prudente, e os ciganos, por sua vez, pretendessem
acampar posteriormente em Presidente Epitácio, cidades distantes cem
quilômetros uma da outra. Os corações de ambos estavam interligados de uma
forma tamanha que não tiveram opção: resolveram juntar suas vidas em um
casamento informal, com uma festa muito bonita em que dançaram juntos palhaços,
trapezistas e cartomantes. Leões e Elefantes testemunharam o matrimônio
inusitado emitindo sons selvagens do interior de suas respectivas jaulas.
Ao fim daquele período exótico, Raul e Rúbia
choraram ao verem suas famílias partirem mundo afora. Envolvidos pelo amor
intempestivo que tomou conta dos seus corações, resolveram fixar moradia na
acolhedora Presidente Venceslau. Hoje ela faz malabarismos para adequar o
orçamento da família aos rendimentos dele, que trabalha como caminhoneiro na
destilaria de álcool de uma cidade da região. Moram em uma casa próxima ao
terreno onde acamparam circenses e ciganos, sendo que ambos não planejam ter filhos por enquanto. O
amor é assim: fixa, prende e engaiola até mesmo as mais libertas almas
itinerantes...
* O Eldoradense
Olá, esta história é fictícia??? se for verdadeira adoraria conhecer os personagens... abraços!!!
ResponderExcluirÉ fictícia, Jane! Os personagens são fruto dos meus pensamentos ociosos. Abraços.
ExcluirAss: O Eldoradense