29 de abr. de 2021

Crônica: "A inutilidade felina"

 


     Esta crônica pode ser caricata, talvez humorística, mas tem lá seu fundo de verdade. Sim, eu sei, gatos são bonitinhos, fofuchos, cuti cuti, mas também são ordinários. Desculpem-me, e além de ordinários, são inúteis. Enquanto o cachorro pode servir de guia para um deficiente visual, resgatar pessoas soterradas e também auxiliar no trabalho das forças de segurança, o que um gato, faz? Perdoem-me donos de felinos, mas eles não fazem nada!

     O carneiro dá a lã, o ganso fornece suas penas para preencher o travesseiro, e o cavalo, a montaria. Enquanto isso o gato está lá, comendo, dormindo e erguendo a cabeça por alguns segundos, com aquele ar de superioridade cínica. 

      E como se não bastasse, o gato adora um esporte radical, só pra nos irritar: Ele é mestre em atravessar a rua no último minuto, forçando a frenagem do carro, bem como provocar os cães do outro lado da cerca. Aff, que bicho pirracento! O cachorro está lá se esgoelando, as pupilas dilatadas, e o gato lá, desfilando como top model na passarela, encarando de frente o perigo separado por uma barreira física. E quando ele se mete a alpinista de árvore e não consegue descer? O filho de uma gata muitas vezes ocupa o tempo e o trabalho do resgate do corpo de bombeiros, que poderia estar salvando alguém de um afogamento, acabando com um incêndio, mas não... TEM QUE IR LÁ SOCORRER O BONITÃO QUE ACHA QUE TEM MESMO SETE VIDAS!

     Ah, e nem me venham com o argumento do carinho felino para me sensibilizar: Aquilo é puro interesse! Aquela roçada de cabeça na panturrilha tem como fundamento pedir ração e abrigo, mais nada. Aliás, o bicho é tão sem vergonha que mesmo com o bucho cheio de ração, quer correr atrás dos passarinhos, movido pela gula insana. Eu adoro ver um pardal escapando dos gatos, dá vontade de gritar "olé"!

       São boêmios, ladrões de carne descongelando em cima da pia, interesseiros, mercenários. Fazem um barulho infernal sobre os telhados, e quando chega o início do dia, pedem arrego na casa que lhe serve de abrigo, mas que acham que são donos. Enchem o saco para abrir a janela, numa insistência absurda, como o Martinho da Vila, que pede para que seja curado do porre da boemia. 

      Samuel Rosa diz que é impossível ver um bichano pelo chão e não sorrir. Roberto Carlos homenageou o "negro gato", enquanto Chico Buarque compôs sua ode musical felina em  "História de uma gata". Enfim, é muita babugem na MPB para um bicho tão inútil. 

      Lamento informar, iludido dono de felino: teu gato (a) não gosta de você, ele gosta da sua casa. O amor dele é unilateral, egoísta. Se quer ter um relacionamento mais justo com um mamífero quadrúpede, tenha um cão, este sim, te amará incondicionalmente. 

         Termino esta crônica com uma piada velha, mas que ilustra bem as argumentações acima...

            O dono da casa chega do serviço. Na varanda, deitados, um gato e um cachorro. O cão levanta-se, todo feliz, para cumprimentar o dono. O gato apenas levanta a cabeça, boceja e pensa, em seu íntimo: "Lá vai o puxa saco!"...


* O Eldoradense

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