No último dia 23 de outubro, Pelé fez 80 anos. Como não poderia ser diferente, a imprensa esportiva dedicou uma série de homenagens ao rei do futebol, o brasileiro mais conhecido do mundo até os dias atuais. O mineiro da cidade de Três Corações conquistou três Copas do Mundo com a seleção brasileira, e com o Santos, dois Mundiais Interclubes, duas Libertadores da América, seis Campeonatos brasileiros, além de dez Campeonatos Paulistas. Parou uma guerra na África, e quando foi expulso num amistoso na Colômbia, a torcida exigiu que ele voltasse a campo, e pasmem, o juiz foi substituído no meio da partida. Lendário, o camisa 10 merece sim a coroação inequívoca de "Rei do futebol". Reclamem ou discordem alguns, a realeza é dele e ninguém tasca.
Mas aí vem os seres humanos infalíveis das redes sociais e questionam sua nobreza em campo, justificando as críticas motivados pela imperdoável falha de Pelé em não ter reconhecido sua filha Sandra, falecida aos 42 anos, vítima de câncer. Reitero que o texto não tem como objetivo absolver o rei do futebol por este gesto desumano, mas defender o seu título de rei, que está restrito aos seus feitos dentro dos gramados, e nada mais. Pelé é rei do futebol, não rei do seminário, ou do monastério. É rei do futebol, não é santo. Foi coroado enquanto futebolista, não enquanto ser humano, muito menos canonizado, tal qual Madre Tereza de Calcutá ou São Francisco de Assis.
Lembremos que todo ídolo é ser humano e passível de falhas, algumas gravíssimas, como a mencionada acima. O "rei do Rock", Elvis Presley, tinha problemas com drogas, e nem por isso, deixou de sê-lo. Maradona não foi rei, mas os argentinos o idolatram enquanto jogador de futebol mesmo sendo ele controverso e ter sido um ex viciado em cocaína. A lista de ídolos imperfeitos, mas geniais em seus ofícios não para por aí: Passa por Renato Russo, Cazuza, Raul Seixas, Paulo Coelho, Sócrates e Casagrande, por exemplo.
No caso de Pelé, o açoite das redes sociais talvez seja motivado pelas rivalidades clubísticas, em maior parte. Sempre tem um ou outro torcedor de outro clube querendo questionar sua realeza futebolística, fazendo comparações absurdas e logicamente, usando os argumentos de suas falhas fora dos gramados. Eu vou mais além e incremento tal comportamento utilizando a questão racial: o brasileiro, mesmo que subconscientemente, não aceita de bom grado tamanha importância dada a um homem negro. Se Pelé fosse branco e tivesse sobrenome italiano, talvez muitos o chamassem de mito, ainda que tivesse feito apologia à tortura, ao estupro e ameaçado jogar bomba em quartel do exército. Lembremos: Pelé é rei do futebol, e seu reinado está inserido na geografia retangular dos gramados e na história do esporte, nada mais que isso. Enquanto nenhum outro jogador conquistar três Copas do Mundo e fizer mais de mil gols, a coroa ficará sobre sua cabeça e ele permanecerá absoluto sobre o trono, queira ou não os perfeitos e infalíveis. Afinal, aquele que nunca errou, que atire a primeira pedra... ou cobre o primeiro pênalti!
* O Eldoradense
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