25 de abr. de 2020

Fábula: A coruja, o rato e o burro"


    

   
  Em algum ponto inóspito do localizado no hemisfério sul do nosso planeta, existia uma ilha. Era uma ilha praticamente deserta. Digo praticamente deserta porque nela habitavam três exemplares de três espécies diferentes: Uma coruja, um rato e um burro. Não me perguntem como estes três bichos foram parar lá, porque eu não sei, só sei que foi assim!

     Eis que os três bichos estabeleceram uma amizade incrível, tanto é que a coruja nem pensava em comer o rato, pois não tinha clima pra isso. E numa tarde qualquer, enquanto a trinca de bichos olhava as ondas do mar, eis que aparece um senhor, com porte e histórico de atleta remando um barco precário, perrengue, nada confiável.

     O ancião e ex-atleta prometeu que se todos embarcassem junto com ele numa aventura náutica sobre o barco capenga, em breve chegariam a um paraíso, à terra prometida, algo jamais imaginado pelos três habitantes da ilha quase deserta. Todos olharam entre si.
 
     A coruja, perspicaz, percebeu o semblante tresloucado do capitão do barco, bem como a precariedade daquele meio de transporte. Rechaçou a viagem, preferindo manter-se na ilha. Embarcaram, então, o rato e o burro, juntamente com o capitão lunático.

     O começo da viagem parecia tranquilo para o roedor e o quadrúpede. Ondas fortes começaram a tornar a viagem perigosa, mas o rato e o burro seguiam eufóricos, acreditando na promessa do capitão. Porém, o barco parecia começar a querer afundar se deslocando quase nada em alto mar.

       A coruja ainda fez alguns voos vigilantes para acompanhar a viagem dos amigos, e já estava preocupada. Perguntou ao rato se ele não queria voltar para a ilha. O rato já parecia em dúvidas, e o burro, convicto  que prosseguiria naquela Odisséia. O capitão berrava seus discursos cada vez mais sem nexo, e remava sem direção.

      Eis que em um dos voos de averiguação, a coruja perguntou ao rato se ele queria voltar para a ilha, e o mesmo, dotado ainda de alguma esperteza, aceitou a proposta. A ave de rapina colocou o roedor entre suas garras medianas, e salvou um dos amigos.

     Mas o burro seguia fiel ao capitão. Veio a tempestade, os raios, e o barco, à deriva, começou a afundar. Ainda assim, o burro confiava na chegada à terra prometida. O quadrúpede, já com a água no pescoço, reverenciava o capitão, cada vez mais louco. Afundaram juntos, abraçados, burro e capitão.

      Moral da história:  Fidelidade é uma coisa, teimosia é outra. Foi aí que nasceu a expressão "dar com os burros n'água"...

* O Eldoradense

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