Ontem a América do Sul viveu mais um capítulo de sua conturbada história rumo à estabilização política e à democracia. Justamente na cidade chamada "La Paz'", a capital da Bolívia, instaurou-se um cenário de tentativa de golpe armado e tomada de poder, com o suposto intuito de retirar do cargo presidencial Luis Arce, eleito democraticamente, cujo mandato se arrasta até 2025.
Digo "se arrasta" porque é inegável que o país vizinho está mergulhado numa crise socioeconômica que acarreta, ao atual mandatário, queda brusca de popularidade. Porém, é fato que nada justifica a iniciativa tomada pelo pequeno grupo de militares que lideraram a rebelião.
Numa democracia, é legítimo manifestar insatisfações, contrariedades, protestar, e até destituir, via Congresso Nacional, um mandatário do executivo, desde que provado crime político. Todavia, a tomada do poder à força - via poderio bélico, ainda que um governante esteja exercendo de forma sofrível seu mandato - não é apenas inadmissível... é criminoso!
Há de se levar em consideração o atual contexto político, em que o presidente Luis Arce e seu padrinho político, o ex-presidente Evo Morales, estão em rota de colisão visando as eleições do próximo ano.
Evo Morales é desafeto explítico do general golpista José Zuñiga, que declarou abertamente que não deixará o ex-presidente assumir novamente a presidência, caso vier a ser eleito. Enquanto presidente, Luis Arce, ainda que possível adversário de Evo, não poderia admitir tais declarações, e, sem espaço para outra ação, demitiu Zuñiga.
Inconformado, o ex-general encampou uma rebelião tão impopular quanto repentina, e em poucas horas, foi preso. No pós prisão, construiu a narrativa de "autogolpe" supostamente proposto por Luis Arce, com o objetivo de recuperar parte da baixíssima popularidade. A tese de autogolpe inclusive é defendida por Evo Morales.
Ora, se Luis Arce propôs o autogolpe e o militar aceitou, achando que teria futuro respaldo ou anistia, o mesmo foi muito inocente, o que é difícil de acreditar. É fato que, sendo autogolpe ou golpe, o desfecho deveria ser mesmo este: prisão para os golpistas, até mesmo para que se prevaleça o espírito democrático.
Finalizo o texto dizendo que até mesmo ex-presidentes da direita boliviana como Jeanine Añez e Jorge Quiroga condenaram o episódio lamentável de ontem, em La Paz. A democracia deve prevalecer sobre qualquer governo golpista, seja ele de direita ou de esquerda. Ponto final.
* O Eldoradense
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