15 de fev. de 2024

Comentários: "Cidades planejadas e seus problemas escamoteados"

 

Imagem do centro de Maringá



      Nas aulas de geografia do ensino fundamental e médio, sempre que eu lia ou ouvia algo sobre "cidades planejadas", eu elaborava mentalmente uma imagem de tecido urbano vanguardista, próspero, quase que desprovido de problemas. Idealizava Brasília, a qual ainda não conheço, com seus edifícios públicos modernos, o plano piloto traçado no desenho de um avião, o poder pulsando nas suas avenidas, e logicamente, a música de Renato Russo dizendo que "neste país, lugar melhor não há".

          Como as circunstâncias ainda não me proporcionaram conhecer a capital federal deste país, minha curiosidade sobre o tema "cidades planejadas" poderia ser saciada visitando um outro município bem mais perto do nosso oeste paulista, porém em terras do norte paranaense: Refiro-me a chamada "cidade verde", ou "cidade canção", oficialmente conhecida por Maringá.

      Fundada em 1947 por iniciativa da empresa Companhia de Terras Norte do Paraná, o município, no que diz respeito à sua estrura física, impressiona: Avenidas largas e arborizadas, topografia plana, zoneamento espacial urbano, grandes universidades, parques lineares, dentre eles, o mais famoso, o Parque do Ingá. A Catedral tem arquitetura moderna, envolta por um espelho d'água que agrega ainda mais beleza ao cenário. 

      Pois bem: Fiz duas visitas muito rápidas a cidade, em busca de lazer, e portanto, quaisquer conclusões a respeito seria muito superficial. Porém, não pude deixar de fazer uma observação a respeito do grande número de pessoas em vulnerabilidade social circulando pelo centro urbano. 

       Como "quem vê cara, não vê coração", fiz algumas leituras e assisti alguns vídeos norteado pelas seguintes frases: "Moradores de rua em Maringá" e "Favelas em Maringá". Partes de alguns artigos acadêmicos e também vídeos de órgãos de imprensa locais fizeram com que eu chegasse a uma conclusão: Cidades planejadas também são excludentes.

         Os zoneamentos urbanos iniciais, através do sistema de loteamentos, privilegiaram os mais abastados, e assim como nas cidades de crescimento espontâneo, afastaram os mais pobres para a periferia. Sobre o fato de não ter favelas na área do município de Maringá, li que a política habitacional em tempos posteriores à fundação empurraram os que seriam ainda mais pobres para municípios vizinhos, que compõem a Região Metropolitana.

          "Foi uma cidade planejada para os ricos, com custo de vida elevado, marketing e aparência".  Antes que o leitor conclua que estas sejam minhas palavras, digo que a fala é de um dos jornalistas da Jovem Pan local, emissora que possui uma linha editorial bastante neoliberal no campo econômico e "de direita" no campo político.

        Em resumo, penso que as cidades ditas "planejadas" possuem sim,  maior eficiência na sua estrutura física, na sua "cara". Contudo, no que diz respeito ao "coração", são também excludentes, e muitas vezes, usam políticas socioeconômicas arbitrárias e higienistas, deslocando o desafio da resolução dos problemas ao invés de resolvê-los. Aconteceu em Brasília, com os "candangos" que foram deslocados para as cidades-satélite. E pelo visto, aconteceu também em Maringá, apesar da cidade cultivar bons índices médios de desenvolvimento humano. Mas será que estes índices não são alcançados exatamente porque os problemas são "deslocados" ao invés de serem resolvidos? Fica a pergunta...


* O Eldoradense      


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