22 de nov. de 2021

"O maior contador de causos que eu conheci"

 




   Acreditem, senhoras e senhores: Houve um tempo em que as famílias se visitavam e gastavam horas conversando e dando risadas na varanda. Enquanto as crianças brincavam, os casais proseavam os mais diversos assuntos, desde contar piadas até as misteriosas histórias rurais com teor sombrio. A televisão ficava na sala, ligada, mas sem qualquer atenção. Coisa impensável hoje, em que os celulares hipnotizam os seres, cada qual com seu universo individual.

      E eu, felizmente, presenciei esta época. Com mais ênfase quando meus pais visitavam um casal de compadres, Valdemar e Valdeci, que harmonizavam até nas três primeiras letras dos respectivos nomes. Almas gêmeas, que se amavam não apenas como marido e mulher, mas também de uma forma cúmplice, fraternal, coisa também rara de se ver numa época de relacionamentos descartáveis.

       Em meio às brincadeiras com os filhos do casal, eu dividia minha atenção com os causos e piadas que Valdemar contava como ninguém: “Floreava as histórias”, fazendo rir ao contar piadas, gesticulando, mudando a fisionomia, imitando os personagens. Nas histórias sombrias, acrescentava detalhes misteriosos, sempre com o testemunho cúmplice da comadre. Aquilo fazia aflorar a imaginação do ouvinte, como se um telão paralelo se abrisse diante dos olhos, visualizando cada cena narrada com maestria pelo protagonista da noite. Um verdadeiro show proporcionado por aquele senhor de traços lusitanos, sotaque meio caipira, que trajava camisa entreaberta, bermuda e chinelos de dedo. Simplicidade a flor da pele. E bondade, também. Bondade proporcional a da esposa, com quem teve três filhos de sangue, e mesmo com as dificuldades da vida, adotaram mais um caçula, que foi amado sem distinção dos demais. Gesto nobre, típico das pessoas com evolução espiritual acima da média.

     O homem de bom coração, infelizmente, não tinha um coração tão saudável. Uma patologia cardíaca o fez morar no céu, onde deve estar contando muitas histórias para os anjos e os amigos que também se foram. E certamente, meu pai está lá do seu lado, dando boas risadas das piadas e histórias que aquele senhor tinha o dom de contar com tanta propriedade. Valdemar foi, sem dúvidas, o maior contador de causos que já vi. Saudades eternas!

 

* O Eldoradense


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