E eu, felizmente,
presenciei esta época. Com mais ênfase quando meus pais visitavam um casal de
compadres, Valdemar e Valdeci, que harmonizavam até nas três primeiras letras dos
respectivos nomes. Almas gêmeas, que se amavam não apenas como marido e mulher,
mas também de uma forma cúmplice, fraternal, coisa também rara de se ver numa
época de relacionamentos descartáveis.
Em meio às
brincadeiras com os filhos do casal, eu dividia minha atenção com os causos e
piadas que Valdemar contava como ninguém: “Floreava as histórias”, fazendo rir
ao contar piadas, gesticulando, mudando a fisionomia, imitando os personagens.
Nas histórias sombrias, acrescentava detalhes misteriosos, sempre com o
testemunho cúmplice da comadre. Aquilo fazia aflorar a imaginação do ouvinte,
como se um telão paralelo se abrisse diante dos olhos, visualizando cada cena
narrada com maestria pelo protagonista da noite. Um verdadeiro show
proporcionado por aquele senhor de traços lusitanos, sotaque meio caipira, que
trajava camisa entreaberta, bermuda e chinelos de dedo. Simplicidade a flor da
pele. E bondade, também. Bondade proporcional a da esposa, com quem teve três
filhos de sangue, e mesmo com as dificuldades da vida, adotaram mais um caçula,
que foi amado sem distinção dos demais. Gesto nobre, típico das pessoas com
evolução espiritual acima da média.
O homem de bom
coração, infelizmente, não tinha um coração tão saudável. Uma patologia
cardíaca o fez morar no céu, onde deve estar contando muitas histórias para os
anjos e os amigos que também se foram. E certamente, meu pai está lá do seu
lado, dando boas risadas das piadas e histórias que aquele senhor tinha o dom
de contar com tanta propriedade. Valdemar foi, sem dúvidas, o maior contador de
causos que já vi. Saudades eternas!
* O Eldoradense
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