Há pouco mais de três anos, num churrasco em família após minha visita a Foz do Iguaçu, meu cunhado Gílson havia feito a menção ao assunto Sete Quedas. Eu, formado em Geografia, desconhecia todo o contexto histórico envolvido naquela que, certamente, foi uma das maiores - talvez a maior - arbitrariedade governamental brasileira cometida contra o meio ambiente.
Comecemos pela localização. As Sete Quedas foram um conjunto de dezenove cachoeiras agrupadas em sete subconjuntos que possuíam nada mais nada menos que a maior vazão hídrica do mundo. Eram situadas em Guaíra, no Estado do Paraná, fronteira com o Paraguai. A beleza cênica daquelas águas rivalizavam com as atuais Cataratas do Iguaçu, recebendo turistas não só do Brasil, mas do mundo todo. Guaíra chegou a ser a cidade mais visitada do país, e vislumbrava prosperidade econômica através do turismo, impulsionado pela imponência das Sete Quedas.
Mas eis que, para variar, a ganância humana influenciada pela megalomania dos governos militares do Brasil e do Paraguai resolveram, através de um acordo bilateral entre as duas nações, construir aquela que seria a maior usina hidrelétrica do mundo: Itaipu. Com o argumento de explorar o imenso potencial energético que o Rio Paraná possui, bem como resolver um litígio fronteiriço entre os dois países, mais precisamente na quinta queda do conjunto de cachoeiras, o acordo deu início ao sepultamento de toda aquela suntuosidade natural e paisagística, pois o lago formado pela barragem em Foz do Iguaçu submergiria as quedas d'água localizadas em Guaíra, distante aproximadamente 230 km da hidrelétrica. A opulência das Sete Quedas era tão gigantesca que moradores locais diziam ouvir o estrondo das águas a uma distância de 20 km. Alguns relatos mais exagerados diziam que o som hídrico poderia ser audível em distância maior, de 30 km.
Barulho que não faltou por parte dos manifestantes, comunidades indígenas e ribeirinhas locais, que teriam também suas terras e propriedades submergidas pelo grande lago artificial. Porém, este barulho não se fez audível para os governantes, que deram início a contagem regressiva para o fim das Sete Quedas. O gigante seria tombado pelas ambições humanas, e tal contagem regressiva proporcionou não só um enorme prejuízo ambiental e cênico, mas teve como consequência uma tragédia desastrosa: Sabendo do fim das Sete Quedas, os turistas se apressaram para visualizar a paisagem, que estava com os dias contados. O fluxo de visitação no Parque das Sete Quedas aumentou drasticamente, sem controle adequado pelos responsáveis. As pontes pênseis sobre as cataratas não estavam com a manutenção em dia, pois não "compensava" investir em algo que estava prestes a não existir mais.
No dia 17 de janeiro de 1982, a ponte pênsil sobre a décima nona queda d'água ruiu, e trinta e dois turistas foram mortos nas águas imponentes do Rio Paraná. Seis pessoas foram salvas por um pescador voluntarioso, cujo vulgo era João Mandi, que posteriormente ficou conhecido como o "Herói das Sete Quedas". Três corpos nunca foram encontrados.
Há quem diga que nos últimos dias do alagamento, os galhos das árvores que ainda encontravam-se sobre a superfície pareciam pedir socorro diante de tamanha arbitrariedade e insensatez. A nostalgia em torno das Sete Quedas parece também ter perdido força com o tempo, e nem na Usina de Itaipu existem relatos sobre o fato. Os governos militares minimizaram a relevância dos acontecimentos, pois a obra faraônica possuía dimensões ufanistas e propagandistas.
Relembremos Sete Quedas no presente, para que no futuro, não tenhamos que relembrar sobre o gigante verde conhecido como Floresta Amazônica. Amanhã postarei, na íntegra, um poema escrito por Carlos Drummond de Andrade ao Jornal do Brasil, dedicado à tragédia de Sete Quedas...
* O Eldoradense
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