17 de mai. de 2021

Comentário: "Entregar o jogo?"

 




     A final do Campeonato Paulista, será, como todos sabem, entre Palmeiras e São Paulo. E como todos devem saber também, as últimas rodadas propiciaram uma daquelas situações inusitadas que os regulamentos de torneios futebolísticos permitem: Um time grande poderia entregar o jogo para que um  rival à altura ficasse de fora das semifinais, evitando confronto direto entre ambos, posteriormente.
  
     O Corinthians teve a oportunidade de perder o jogo para o Novorizontino, fazendo com que o clube do interior se classificasse no lugar do arquirrival Palmeiras,  evitando um clássico gigante nas semifinais. Mas não o fez. Mesmo com um time reserva, bateu o Novorizontino,  classificou o verdão e consolidou o clássico que decidiria uma das vagas na finalíssima. No fim das contas, o Palmeiras venceu a semifinal, o Corinthians ficou fora, e de quebra, o técnico Vágner Mancini foi demitido. 

      Reacendeu-se o debate: Deveria o timão ter entregue o jogo, facilitando posteriormente sua passagem para a final? Os mais fanáticos dizem que sim, que a atitude seria estratégica, que seria um dos modos de eliminar o grande rival. Discordo!

        Primeiro, vamos à primeira possibilidade: A diretoria do Palmeiras poderia ter oferecido "premiação extra" para que o Corinthians, em crise financeira, vencesse o jogo. Os jogadores, logicamente, almejariam a primeira premiação, e em seguida, almejariam uma posterior, numa possibilidade real de vencer o próprio Palmeiras nas semifinais. Sim, enquanto você, torcedor fanático torcia para que a rapadura fosse entregue, os jogadores profissionais estavam lutando pelo leitinho de suas respectivas crianças. Algo totalmente factível e admissível.

          E agora, a segunda possibilidade: Por uma questão de ética, profissionalismo e brio, os jogadores corintianos jamais entregariam uma partida, sob pena de manchar o legado de suas carreiras, priorizando o "fair play" e a meritocracia. Se o Novorizontino almejasse uma das vagas nas semifinais, que lutasse! Não o fez, classificou-se o Palmeiras, simples assim!

       Em uma outra circunstância, onde o fanatismo falasse mais alto que a razão, eu diria que o certo seria entregar o jogo e eliminar o adversário através desta possibilidade. Porém, hoje, sinceramente, enxergo as coisas de forma diferente, motivado pela maturidade, mas também, pela carência de ética e moral na sociedade caótica em que vivemos.

       A trapaça não deve servir de exemplo. Não sou corintiano, mas uma das coisas mais bonitas que vejo naquele clube é a entrega e a raça dos jogadores em campo, ainda que vivam as mais adversas situações. Historicamente, se superam através da raça quando falta técnica. E não poderia ser diferente agora. Além disso, entregar o jogo vai totalmente contra as mensagens positivas que o esporte transmite. 

       No Facebook, perguntei a um dos mais fanáticos torcedores corintianos de Presidente Venceslau, o Toninho Moré, se o Corinthians deveria ter entregue o jogo para evitar o confronto diante do Palmeiras. Sua resposta foi a seguinte:

         "Claro que não. O que vale no futebol é a vitória. Ganham para isso. Nada de maracutaia. A vida não dá certo para gente sem-vergonha. Fizeram o correto".

        Falou o que penso, mas com outras palavras. Havia muito mais do que futebol implícito na conduta dos jogadores corintianos. Havia princípios, ética e profissionalismo incutidos naquele placar de 2x1 diante do Novorizontino. O resto é folclore e fanatismo.

* O Eldoradense

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