Certa vez, não sei em que programa de humor, ouvi alguém dizendo que havia inventado o comprimido que matava a sede: bastava tomar a cápsula com um copo de água bem gelada que resolvia o problema imediatamente.
Em outra oportunidade, alguém me recomendou chá de quebra pedras para resolver problemas com cálculos renais. A pessoa disse que se a planta crescia em meio aos muros acimentados, certamente destruiria as pequenas pedras nos rins. Agradeci a preocupação e a boa vontade, mas logicamente, segui as recomendações e tomei remédios prescritos por um urologista.
E ainda, numa terceira ocasião, testemunhei gente acreditando piamente numa tal de fosfoetanolamina para a cura do câncer. Diziam que a indústria farmacêutica lucrava com os medicamentos caros, e portanto, sabotava a "fosfo". Posteriormente, foi provado que o remédio não possuía efeito algum na luta contra a doença, o que, sinceramente, não me causou surpresa alguma. Usei os três exemplos para ilustrar o atual contexto envolvendo Coronavírus e Hidroxicloroquina. Sim, por mais que estudos científicos tenham mostrado que o remédio é inócuo para o tratamento da doença, tem gente acreditando que o coelho saiu da cartola, juntamente com as lebres da Azitromicina e da Ivermectina.
Nos atentemos aos fatos: Dois excelentes Ministros da Saúde abandonaram o barco em meio à pandemia exatamente porque são médicos e discordam deste protocolo ineficaz. A OMS vêm alertando sobre a ineficiência do tratamento, enquanto a maioria dos artigos acadêmicos também o refutam. Mas, pelo visto, a ciência tem que confrontar a falta de consciência.
Os defensores do coelho na cartola alertam que existem lugares em que kit's com os tais remédios estão sendo distribuídos gratuitamente para os infectados. Não precisa ser gênio para concluir que, estes sim, estão ganhando grana com a prática. Alegam também que muita gente se curou fazendo uso do tratamento. Porém, considerando a letalidade baixa da COVID-19, conclui-se que estas pessoas se curariam de qualquer forma, e não exatamente por conta destes remédios. E só para deixar claro, não sou eu quem digo isso, mas sim, a maciça maioria de médicos infectologistas, cientistas e comunidade acadêmica. A título de informação, o protocolo da cloroquina no Brasil não é assinado por nenhum técnico, sendo que o paciente assina um termo de responsabilidade por adesão ao mesmo. E vou mais além: após a introdução do mesmo, não houve aumento no número de casos de pacientes recuperados.
E finalizando o texto, lanço uma indagação: Dois dos países cujos líderes defendem com unhas e dentes este protocolo ineficaz, são exatamente os dois países com mais mortos por coronavírus no mundo. Se fosse, de fato, eficaz, os números não deveriam ser diferentes? Desculpem-me, eu até gostaria que um remédio barato e de fácil acesso resolvesse esta imbróglio pelo qual estamos passando, mas é fato que teremos que esperar por muita pesquisa, estudos e constatação. Mais consciência, mais paciência e mais ciência, por favor!
* O Eldoradense
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