16 de fev. de 2018

Olha a Tuiuti aí, geeente!



   Ainda o carnaval. Por mais que o tema não me agrade muito, é impossível não falar algo sobre o tão comentado desfile da "Paraíso do Tuiuti", vice-campeã do Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Se eu disser que assisti alguma coisa, estou mentindo. Mas li. Sim, li porque o assunto rendeu muita discussão e polêmica, tanto na internet quanto nos principais veículos de informação. E não foi para menos: a agremiação simplesmente "causou" na Sapucaí.

   Com um desfile altamente crítico e bem elaborado, contendo em suas alas um "Presidente Vampirão", bem como os "Patos da FIESP", a escola discorreu sobre o "trabalho escravo" em suas diferentes formas, (antes e depois da abolição). Emocionou o público, foi ovacionada, como aliás, era de se esperar. A festa, que por muitos é considerada símbolo de alienação, mostrou que pode ser politizada, sem perder sua essência.

   Pois bem: No Twitter, a "Tuiuti" alcançou o primeiro lugar nos Trending Topics no Brasil, e segundo lugar entre os assuntos mais comentados no mundo. Não é pouca coisa. Como se não bastasse, ficou em segundo lugar na avaliação dos jurados, deixando para trás escolas tradicionais como Mangueira, Portela, Imperatriz, Vila Isabel, Salgueiro e Mocidade Independente. O título ficou com a Beija-Flor.

   Mas como nem Jesus Cristo agradou a todos, muita gente ficou contrariada com a apresentação, sendo que alguns a consideraram esquerdista. A polarização política no Brasil está tão acirrada de uns tempos para cá, que  tudo é motivo de "cabo de guerra" entre simpatizantes da direita e da esquerda. É o desfile da Tuiuti, a novela da Globo, a comida do cachorro e a flexibilidade da cauda da lagartixa. Enfim, estão polarizando politicamente os assuntos mais variados, esquecendo-se que o principal foco da ruína social brasileira vai além das variantes ideológicas: a raiz do problema é cultural, é o famoso "jeitinho", o "levar vantagem". A maioria das principais nações da Europa alternou governos de esquerda e de direita em suas respectivas histórias recentes. Nem por isso tais países deixaram de ser potências, pois suas culturas respeitosas ao bem público e à coletividade prevalecem em suas sociedades.

    Para finalizar, a Tuiuti, que criticou a Reforma Trabalhista, defendendo veementemente o trabalho registrado em carteira, empregou formalmente apenas três trabalhadores durante todo o ano. Contraditório? Sim, também acho! Mas é tão contraditório quanto o Sérgio Moro receber auxílio-moradia habitando  casa própria em Curitiba. Enfim, estão aí mais duas amostras de que a hipocrisia e o jeitinho não estão atrelados exclusivamente à direita, nem à esquerda: tais componentes estão arraigados na cultura do brasileiro. Porém, independente à ressalva do "faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço", eu gostei muito do que li sobre a apresentação da Tuiuti...

* O Eldoradense




    

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