26 de jun. de 2013

Texto crítico: "A pirâmide da prosperidade"


“A pirâmide da prosperidade”

   O viajante andava sem rumo sob o sol quente do deserto, totalmente perdido. Com muita fome e sede, sucumbiu na areia branca, onde desmaiou impotente e frágil. Em seu desfalecimento, teve uma alucinação de esperança, quando ouviu uma voz dizendo: “Encontre um norte para sua vida, e lá, estará a pirâmide da prosperidade”. O devaneio serviu como combustível para seu corpo cansado e alento para sua alma desiludida. Como não tinha bússola, orientou-se pelo sol e automaticamente encontrou a direção norte, conforme o conselho que ouvira no sonho. Andou quilômetros e mais quilômetros, movido não por alimento ou água, mas sim, por esperança e uma boa dose de ambição.

  Depois de vinte e quatro horas caminhando em ritmo forte, proporcional à sua convicção fanática e cega, avistou uma pirâmide de cor dourada. Seria uma miragem? Não. Os passos aproximavam-se daquilo que havia sonhado de forma premonitória.
  Do lado da pirâmide, havia um oásis com água, árvores frondosas e por incrível que pareça, um belo camelo. Ali parecia ser o mausoléu do faraó desconhecido, um tal de Telénkfremon, que muitos acreditavam não passar de uma lenda. Mas agora ele sabia que não era! De joelhos, diante da pirâmide, teve mais uma alucinação, onde ouviu a voz misteriosa de Telénkfremon dizendo: “Pegue as poucas moedas de ouro contidas em sua algibeira e deixe-as na pirâmide. Posteriormente, siga com o camelo até à cidade mais próxima, espalhando a boa nova. Cobre pela informação. Os informados, também cobrarão por disseminar a notícia, tal qual epidemia de prosperidade”.

  E assim ele fez, novamente rumando para o norte, onde encontrou uma grande cidade. Espalhou a notícia, multiplicou camelos, ganhou prestígio, conquistou mulheres. Seu exemplo fez com que outras pessoas tivessem novas alucinações cegas e fanáticas, sendo que todo mundo passou e venerar o espírito de Telénkfremon, o faraó até então desconhecido.

  Mas chegou a hora em que não havia mais para quem espalhar a informação. O sonho da epidemia de prosperidade tornou-se pesadelo para muitos que investiram suas economias nesta seita financeira, cujos fieis pareciam endeusá-la. Uma multidão dirigiu-se até à pirâmide, destruindo-a. Suas bases ruíram facilmente, tal qual castelo de cartas. Na volta dos desiludidos para a cidade, muitos pareciam ouvir a risada sarcástica de Telénkfremon. A ambição pelo dinheiro fácil é como a areia nos olhos trazida pelos ventos do deserto: impede que muitos enxerguem poucos passos adiante.


* O Eldoradense


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