19 de jun. de 2013

Texto crítico: "A gota d'água"


"A gota d'água"

  Os últimos dias expuseram agitação nas ruas das grandes cidades brasileiras. Em plena “Copa das Confederações”, nossa população resolveu mostrar que não está mais tão alienada e inerte quando pensam ainda muitos dos nossos políticos desatualizados. O povo foi às ruas, cercou o Palácio dos Bandeirantes e subiu na laje do Congresso Nacional. Os dois exemplos são emblemáticos, pois mostram que a insatisfação é genuína, e não motivada somente por partidarismos, como sugerem alguns.

  O Datafolha demonstrou através de pesquisa que nos protestos ocorridos segunda-feira, 84 % das pessoas não possuíam predileção partidária, sendo que 71% participaram de uma manifestação pública pela primeira vez. O fato é que os centavos acrescidos às tarifas do transporte coletivo Brasil afora foram apenas a “gota d’água” para a motivação dos protestos. Há muitas outras coisas incluídas nestes vinténs: insegurança, saúde e educação precárias, e principalmente, corrupção.

   Muito se falou contra o vandalismo, o que é óbvio e politicamente correto. Sempre digo que erros não justificam outros, mas provocam. Pois bem: a depredação praticada por uma minoria dos manifestantes é consequência do vandalismo político com o dinheiro público. Afinal, é vandalismo estatal fazer com que pacientes se amontoem nos corredores de hospitais, bem como oferecer ensino público de péssima qualidade. É também vandalismo estatal permitir que estradas pedagiadas continuem precárias, fazendo com que os seus usuários paguem por tarifas altíssimas, na razão inversa da qualidade de muitas das nossas rodovias. É vandalismo estatal o grande número de pessoas que têm suas vidas ceifadas pela bandidagem, que anda matando por motivos cada vez mais banais. Enfim, o povo está cheio de tanto vandalismo estatal.

  Como desgraça pouca é bobagem, aqui, na longínqua Presidente Venceslau, alguém parecia estar alheio a tudo isso e resolveu propor noventa dias de férias para a vereança. A notícia foi veiculada na imprensa, alastrando-se de forma viral pelas redes sociais, fazendo com que a juventude local lotasse as cadeiras da nossa Câmara Municipal, externando contrariedade à proposta. Bela atitude, pois tal indecência acabou não sendo nem colocada em pauta. É justo salientar que a referida imoralidade parece não ter sido assimilada de forma unânime entre nossos edis, e que houve quem fosse contra o projeto, mesmo na Câmara.

   Para não estender-me no assunto, reforço: o povo já não é mais tão facilmente ludibriado como em tempos atrás. E na última segunda-feira, as ruas brasileiras, o Congresso Nacional, o Palácio dos Bandeirantes e até a Câmara Municipal de Presidente Venceslau foram testemunhas disso. Só os “políticos desatualizados” ainda não perceberam a nova realidade.


* O Eldoradense


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