Existem assuntos de complexidade tamanha que é difícil discorrer sobre. A onda recente de ataques às escolas brasileiras é um deles. Uma modinha macabra que vem tirando o sossego de pais, crianças e profissionais da educação. Porém, na internet e nas redes sociais há os que conseguem piorar aquilo que já está ruim: disseminação de fakes sobre novos ataques, bem como soluções mágicas e mirabolantes, como se colocassem um urubu na cartola e em questão de segundos saísse a pomba da paz, livre, leve e solta.
É fato que uma gama de sugestões pode atenuar as ocorrências. Mas há sugestões que realmente parecem partir de alguém tão psicopata quanto os autores dos ataques: Professores armados é a que mais me deixou perplexo. Sim, alguma mente brilhante resolveu disseminar que estes profissionais que mal têm condições de lecionar também devam ser vigilantes em sala de aula, e, em caso de intercorrência grave, intervir com uma arma.
É fácil terceirizar responsabilidades. Sim, sei que é legítimo reivindicar maior número de rondas escolares, sugerir portas com detectores de metais, e talvez, numa hipótese mais emergencial, clamar por vigilantes no interior das instituições de ensino. Mas o problema é que a sociedade está doente, e pouco se fala sobre isso. Os pais que pouco conversam com os filhos querem que eles sejam protegidos, e a causa é justa. Contudo, convivem tempo insuficiente com os mesmos. Cada integrante da família em um cômodo, com seus respectivos aparelhos celulares, vivendo cada vez mais as realidades paralelas e virtuais. Não se dialoga na mesa, não se questiona o dia a dia, se tudo está correndo bem, se o convívio com os amigos está sendo harmônico, se está havendo bullyng, racismo, intolerância. Sim, o bullyng, que minha geração diz que é "frescura", "mimimi", e que nós - os fortes? - "resolvíamos no braço". Pois é, agora tem gente resolvendo a questão com armas, descarregando frustrações e hostilidades na lâmina ou na bala. Sim, o texto pode parecer duro, mas não há como eximir a parcela de culpa de uma sociedade cada vez mais fria e individualista.
Patologias de ordem psicológica e psiquiátrica estão cada vez mais presentes na vida moderna, e ninguém está livre delas. A omissão e o preconceito em buscar ajuda podem custar caro tanto ao indivíduo quanto àqueles que os rodeia. Vigiar, questionar dentro de casa seja talvez o começo de tudo. Evitar o vício tecnológico faz parte do processo. Jovens precisam interagir, praticar esportes, tocar instrumentos, ler, dançar. Habilidades e potencialidades devem ser exploradas. Enfim, são mentes com neurônios em expansão que precisam de estímulos sensoriais qualitativos, que agreguem, acrescentem.
Portanto, creio que para que alguma mudança efetiva ocorra é preciso sim, exigir posturas vigilantes. Mas a vigília externa pouco adiantará se ela não começar dentro de cada um dos lares...
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