21 de abr. de 2023

Comentário: "Jesus Cristo e Tiradentes"...

 





    A primeira comparação íntima que fiz entre os dois personagens deve ter sido nos meus primeiros anos de estudante, nos livros de história: Ao ver o nosso revolucionário nacional ostentando vasta cabeleira e barbas longas, foi difícil evitar o paralelo ao homem que revolucionou o mundo, cujo nascimento serviu de referência para o calendário ocidental, e que fez o império romano converter-se a uma religião que até então, ganhava os primeiros adeptos. 

    Por muitos anos, o comparativo ficou adormecido, mas neste ano, em especial, creio que mereça um texto, e explico o porquê: Quatorze dias separaram a sexta-feira santa do feriado em homenagem à Tiradentes. Duas sextas-feiras, dois feriados, duas histórias que se parecem. Dois personagens, que, na realidade, provavelmente não se pareçam tanto fisicamente.

      Sim, fazendo pesquisas na internet, é fato que houve uma aproximação romântica da nossa história que assemelhou as imagens de Joaquim e Jesus: Imagens icônicas de ambos com barbas e cabelos longos, como relatado no primeiro parágrafo. A história mais séria e minuciosa os difere, mas também os aproxima das distorções iconoclastas. Enquanto muito provavelmente Jesus tivesse cabelos negros e pele queimada de sol - característica originária do seu povo - Tiradentes provavelmente não ostentasse barbas nem cabelos longos, pois foi um militar sujeito às regras da época, que permitiam aos alferes, no máximo, ostentar um bigode. 

      Jesus nos aparece quase sempre como uma divindade nórdica: Olhos e cabelos claros, provavelmente sob influência da cultura europeia ocidental. Tiradentes, por sua vez, enquanto prisioneiro, provavelmente teve cabelos e barbas raspados por conta das regras impostas aos prisioneiros do Brasil Império. 

          Porém, na história real, há semelhanças que não devem ser ignoradas: As letras iniciais dos nomes de ambos é uma delas. Sim, o "J" de Jesus e Joaquim. Enquanto Jesus tinha seus apóstolos, Tiradentes pertencia a um grupo chamado de inconfidentes. Ambos foram traídos, e aí, novamente o "J" aparece quando se trata dos seus algozes: Judas recebeu trinta moedas de prata, enquanto Joaquim Silvério o fez em troca do perdão de suas dívidas para com a Coroa Portuguesa.

       O Império Romano consumou a morte de Jesus em uma cruz, mais por influência dos judeus do que pela vontade de Pilatos. Tiradentes foi preso durante três anos e foi sentenciado à pena capital numa forca, sem qualquer menção de piedade do Império lusitano.

      É fato, que, resguardadas as devidas proporções, ambos foram imortalizados: O primeiro, mundialmente, e o segundo, a nível nacional, recebendo nomes de inúmeras avenidas e monumentos Brasil afora. A grande diferença atemporal é em forma de alíquota: Enquanto Joaquim lutava contra os vinte por cento de impostos cobrados sobre o ouro encontrado pelos mineradores, muitos cobram dez por cento dos ganhos daqueles que buscam a salvação de Jesus...


* O Eldoradense

        

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