9 de out. de 2022

Crônica: "Álbum de família"

 






"Dezembro vai, janeiro vem...

O tempo passa, veloz como um trem..."

Trecho de "Assim os dias passarão"

Canção de Almir Sater/Renato Teixeira


       Há dias em nossas vidas que são modificados bruscamente por um pequeno gesto ou acontecimento. E ontem, por conta de uma surpresa emocionante, para mim, foi um destes dias...

        Tarde de sábado silencioso, a princípio solitário, como de costume. Cenário de tranquilidade entediante rompido quando o carro do meu irmão chega na casa ao lado, onde mora minha mãe. A algazarra dos meus três sobrinhos e a conversa em família proporciona momentos agradáveis e raros, pois as individualidades fazem com que cada um tenha suas rotinas, seus compromissos. Café da tarde, sorvete e o barulho infantill são o suficiente para que o sábado de ontem se diferenciasse dos demais. Mas a melhor supresa viria depois...

      Assim que acabou a  pequena reunião em família, já no começo da noite, eis que estou dirigindo meu carro e paro para abastecer. No intervalo do abastecimento, olho o aparelho celular e verifico as mensagens de whatsapp. Dentre os memes enviados de outros contatos e "trocentas mensagens falando sobre a política", a mensagem proveniente do meu primo Nélson, me ganha especialmente a atenção...

"Boa tarde, primo. Recebi com muito carinho, e com o mesmo, envio a você. Confesso que me fez chorar, e espero que guarde com muito carinho. Um abraço, e que Deus nos dê forças para seguir..."


      Abaixo à mensagem, havia um anexo com 8 fotos. Olhei a primeira de relance, e na hora, não quis olhar as outras, pois sabia que se assim o fizesse, correria o risco de chorar na frente do frentista ou da moça do caixa do posto. Parei posteriormente o carro numa rua ao lado do bosque, observando foto por foto. Enviei aos outros contatos da família, sendo que muitos também já haviam recebido. Por áudio, e ainda contido, conversei com minha mãe, que também já tinha os registros em mãos. 

    Um filme passou pela cabeça, pois eu me lembro exatamente do dia em que aquela avalanche de fotos foi tirada. Não me lembrava a data, mas meu irmão, através de observação mais apurada, atestou que elas remetiam a janeiro de 1991. Muitas daquelas pessoas que foram fotografadas, infelizmente, não estão mais conosco em vida, mas sei que nos acompanham em um outro plano. Um plano superior ao nosso em todos os sentidos.

      Foi numa visita dos primos de São Paulo, que fizeram questão de registrar o momento e saíram fotografando tudo e todos. O cenário foi a casa humilde da minha saudosa avó, apinhada de gente e que era um verdadeiro "coração de mãe": Sempre cabia mais um. E foi um dia realmente para ficar na história e no álbum de família, pois só Deus sabe o quanto era difícil minha avó se render a lente de uma câmera fotográfica. 

      Mas lá estava ela, pequenina, generosa, olhar sereno, com vestes simples e aparentemente frágil. E só quem a conhecia de fato, sabia a fortaleza implícita que havia naquela senhora. E sim, eu chorei de alegria e saudades ao ver e rever tantas vezes aquelas fotos.

       Agradeço à prima Cida, de São Paulo, que enviou inicialmente as fotos. Agradeço ao Nélson, que me repassou. Sei que outras lágrimas caíram não só em Presidente Venceslau, mas também em São Paulo e Londrina, por exemplo. E é mais ou menos como meu primo disse: É através do exemplo dos antepassados que precisamos arrancar força para seguir nessa vida maluca  que às vezes nos faz desanimar. E agora, nós é que precisamos ser exemplo para os que estão vindo. Essa é a ciranda da vida, e "Assim os dias passarão..."

       

* O Eldoradense



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