A cena é muito parecida, difere apenas em alguns poucos detalhes: O
sujeito, às seis da manhã, subindo pela última vez o corredor principal do meu
local de trabalho, rumo à liberdade, que para nós, chama-se aposentadoria.
Geralmente com mais de cinco décadas de vida, as marcas de muitas histórias
alegres e tristes estampadas no rosto. Homem de meia idade, pai, alguns já
avôs, carregando consigo, além das blusas e pertences guardados no armário, o
orgulho do dever cumprido, de uma história que se encerra e outra que se
inicia.
Este texto homenageando estes
amigos era para ser escrito há algum tempo. Resolvi absorver um pouco mais da
cena, para descrevê-la com mais propriedade. Meus olhos atentos mesclam
sentimentos distintos: A alegria pelo indivíduo liberto do trabalho estressante
mas também a tristeza por não compartilhar com a mesma frequência de tal
amizade. Sim, por mais que a gente diga um ao outro que nos veremos, que nada
vai mudar, muda sim. Cada um segue sua vida, tem sua família, é o ciclo natural
das coisas. As conversas sobre futebol, as discussões sobre política e até as
cornetadas sobre comportamentos dos outros colegas não acontecerão com a mesma
assiduidade, serão rareadas, entrarão em extinção e deixarão saudades.
Aprendi muito com esta turma
liberta, e acho que também ensinei uma ou outra coisa, modéstia à parte. Ouvi
confissões, segredos, partilhei também os meus, dividimos alegrias e dramas
pessoais. Durante o período mais difícil da minha vida, vi gente chorando as minhas
lágrimas, tão preocupados comigo quanto membros da família. Isso não tem preço,
ajuda a seguir, a se levantar, a entender que cada um tem sua missão e por mais
duro que seja o baque, não é permitido esmorecer.
Outros serão libertos em
pouco tempo, e a cena se repetirá com maior frequência a partir de agora. Na
condição de segundo mais jovem do grupo - ou talvez, menos velho - só não
fecharei a porta e apagarei a luz porque há alguém mais "caçula" que
eu. Um caçula com 44 anos, daí a conclusão do quão o grupo é
"experiente". Mas enfim, hoje foi o dia de homenagear os que já
subiram a galeria e os que, daqui poucos meses, também o farão. Ficam
registrados a gratidão e o carinho nas poucas linhas deste singelo texto.
Curtam a vida, é direito vosso!
* O Eldoradense
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