15 de jun. de 2021

Comentário: "Novelas e sátira política"



    Há quem diga que as novelas são objetos de manifestação cultural de segunda categoria, o que eu sinceramente, discordo. Para quem não sabe, o conceito de "novela" abrange muito mais do que o recurso audiovisual, sendo que a mesma é considerada "gênero literário". Sim, pois assim como numa peça de teatro, o autor da novela elabora roteiro, constrói personagens, e acima de tudo, escreve um texto. 

     E vou mais além: Uma novela bem feita leva o telespectador à reflexão, inclusive política. No meu caso, fui despertado para acompanhar a política através de uma novela transmitida pela Rede Globo em 1989, chamada "Que rei sou eu?". O ano foi emblemático: O Brasil teria sua primeira eleição direta para presidente depois da redemocratização, e no cenário mundial, caía o "Muro de Berlim", que dividia as duas Alemanhas  iniciando o processo de abertura política e econômica do Leste europeu, fazendo ruir a tal "cortina de ferro" daquele continente.

     Mas outras novelas também possuíram boa sátira política em seus enredos: "O Salvador da Pátria", "Roque Santeiro" e "O Bem Amado" são bons exemplos disso. Curiosamente o grande ator "Lima Duarte" participou do elenco das três últimas citadas. 

      Ao enxergar a sátira e a crítica políticas envolvidas num folhetim televisivo, o telespectador pode elaborar uma percepção também mais aguçada, já que grande parte da nossa população possui baixo nível educacional e uma certa aversão aos livros. A novela é uma ferramenta popular de politização, ainda que com todas as suas limitações.

        Os personagens políticos variam desde os mais autoritários até os fantoches do poder, como "Odorico Paraguaçu", "Sassá Mutema" ou "Florindo Abelha". E sempre há uma turma de influentes poderosos envolvida por trás dos conchavos políticos nas cidadelas ou reinos como "Sucupira", "Tangará", "Asa Branca" ou "Avilã". Mas também há espaço para os idealistas, os benfeitores, os que desejam prosperidade e o bem coletivo. E por mais que na vida real exista pouco espaço para os bons, não devemos perder as esperanças, nos baseando nos finais felizes das obras fictícias. 

      E fugindo um pouco das novelas, mas ainda no campo da ficção televisiva, como desprezar o famoso personagem político "Justo Veríssimo" interpretado pelo humorista Chico Anísio?

        Olhemos nas câmaras e palácios municipais, estaduais e federais de toda esta nação e observemos que há muito destes personagens incutidos por trás dos homens públicos engravatados deste pobre país. E eu diria que muitos deles fazem jus ao bordão de "Justo Veríssimo", que queria que os pobres "se explodissem". Às vezes tenho a impressão de que alguns políticos desejam deliberadamente a morte dos menos afortunados...

* O Eldoradense

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentário: "O tio França foi uma vítima"

    Ontem à noite, em Brasília, aconteceu o que penso ser o ápice do delírio Bolsonarista: Um homem trouxe explosivos em seu próprio corpo, ...