27 de ago. de 2020

Crônica: "O futebol no rádio"

 



      Para o leitor mais jovem, faço a pergunta: Sabem o que havia no interior daqueles balcões de vidro nas lojas de varejo, onde atualmente encontram-se modernos aparelhos celulares? Imagino que não. Pois bem: Ali encontravam-se rádios à pilha, aparelhos "despertadores" e rádio-relógios. Mas a motivação desta crônica diz respeito ao primeiro item, ou seja, os "radinhos à pilha". 

    O modelo de rádio acima é exatamente igual ao primeiro que ganhei de meu pai, no fim dos anos 80, para ouvir jogos de futebol. Era um "Sanyo", que algum tempo depois, foi trocado por um "Motorádio". Naquela época, não havia internet, e a maior diversão para os meninos, era sem dúvida, o futebol. Futebol de rua, futebol de salão, futebol de botão, futebol de campo. Álbuns de figurinhas, camisetas de clube, zombarias clubísticas entre os adolescentes e suas respectivas paixões. Respirava-se futebol, ao contrário de hoje, com tantas outras opções de entretenimento.


    Santista que sou, desde a tenra idade, acompanhava os jogos do meu time, na maioria das vezes, no rádio. Ah, como aquilo era mágico! Os narradores tinham a missão de trabalhar com o imaginário dos ouvintes, que vislumbravam os lances através das descrições precisas - e algumas vezes exageradas - do locutor, que fazia do microfone um portal cênico. Sim, dava para imaginar o drible, o frissom da torcida nas arquibancadas, a atmosfera contagiante dos estádios, e principalmente, materializar a imagem do maior momento do futebol: o gol.


     A dicção deste pessoal era rápida e precisa, tal qual o toque da bola, e a transmissão era recheada de bordões inesquecíveis como: "Pimba na gorduchinha", "Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo", ou "balão subiu e desceu" . Muitas vezes, jogando futebol de botões com meu irmão, eu me pegava imitando estas figuras notáveis, simulando e imitando suas narrações. Eram meus ídolos, tantos quanto os jogadores. Destaco dentre muitos, Osmar Santos, Fiori Gigliotti, Vanderley Ribeiro e José Silvério. Os caras eram bons demais da conta!


       Hoje, com a facilidade das transmissões dos canais por assinatura, o rádio perdeu muito do seu espaço com relação às transmissões futebolísticas. Mas muitas vezes me pego buscando no Youtube tais narrações, que tanto fizeram parte da minha adolescência. Bons tempos em que o futebol era mais emocionante, romântico e apaixonante...


       * Para ilustrar o que digo, abaixo está o vídeo daquele que acho um dos lances mais inesquecíveis do futebol. As oito pedaladas de Robinho diante do Corinthians, abrindo o caminho do título brasileiro do Santos em 2002. A narração é de José Silvério, e por saudosismo, a simulação do lance é através do futebol de botões...





* O Eldoradense    

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